Um ser superior
O intocável
Spoiler :
E ele se sentia bem sendo o cara do tanque.
Sentado naquela cadeira ele se sentia invencível, completamente intocável. Comia uma lata de salsichas da qual sempre teve nojo, mas queria guardar o atum para depois. Olhou para a calculadora e o papel no chão. O combustível não ia durar muito, logo teria que sair novamente e encher os reservatórios.
Pelo pequeno visor deu uma breve checada no lado de fora. Abriu a escotilha superior e deu uma respirada no ar frio da madrugada, finalmente estava se sentindo melhor. Havia passado mal por três dias inteiros por causa de, acreditava e torcia para que fosse, comida estragada. Pegou um mapa da região que achara em um posto e anotou possíveis pontos onde poderia achar mantimentos e gasolina.
Ficava frustrado pelo som do motor do tanque abafar os “crecks” dos ossos se quebrando. Um carro à frente se opunha ao caminho que queria seguir. Acelerou e passou praticamente pulando com o tanque por cima do veículo, ficando ligeiramente apreensivo com a aterrissagem em apenas uma das lagartas. Quando o tanque voltou à sua posição normal, ficou aliviado ao ver que ele funcionava normalmente. Estacionou na frente do posto e esperou que os doentes se acumulassem em torno de sua fortaleza. Quando muitos estavam presentes para a “festa”, deu ré no tanque matando alguns e depois acelerou passando por cima da maioria com satisfação. Repetiu o processo até todos os mais próximos estarem mortos.
Desligou o motor e apurou os ouvidos, nada. Pegou seu rifle e abrindo a escotilha procurou por doentes mais distantes ou que não haviam morrido esmagados. Atirando com precisão matou mais oito. Sempre fora bom de mira, desde os tempos de treinamento no exército. Entrou fechando a escotilha e voltou a mexer no sistema de som que estava montando dentro do tanque. Com o tempo havia aprendido uma valiosa lição, “se pretender ficar mais tempo em um lugar, atire e espere os que ouviram virem”. E eles vieram. Em pouco menos que meia hora, lá estavam mais vinte doentes. Ligou o motor e o sorriso brotou em seu rosto, era hora da panqueca.
Depois de atirar nos dois últimos doentes que haviam sobrado, pegou seus equipamentos e desceu. Odiava essas horas. Sentia-se desprotegido e até paranóico quando do lado de fora daquelas paredes de metal. Segurava sua lança feita à mão olhando para todos os lados, com o tempo aprendera que em lugares abertos aquela era a melhor arma para combater doentes sem correr perigo de ser ferido.Aproximando-se do posto de gasolina, começou a checar as bombas, animando-secom o fato de que todas estavam com gasolina. Depois veria isso, primeiro ia procurar suprimentos. Entrou na loja de conveniência deixando a lança apoiada do lado de fora e sacando sua machete. Não achava que encontraria doentes ali dentro, mas era sempre melhor estar prevenido.
A loja estava com poucas mercadorias, provavelmente roubada quando a pandemia estourou. Checou as prateleiras e de útil encontrou apenas alguns itens de primeiros socorros, que já guardou na mochila, e água, que resolveu buscar mais tarde pela falta de necessidade, afinal, a torre do tanque estava com um grande reservatório de água quase que cheio. Checando atrás do balcão encontrou alguns ossos certamente humanos com marcas de dentes. Realmente era um final que não desejava.Aos fundos encontrou uma porta trancada. Riu baixo sozinho, era quase impossível achar a chave certa para as fechaduras hoje em dia, teria que forçar. Dirigiu-se até o lado de fora para verificar se algum doente estava próximo, e não encontrando, voltou para a porta atirando na fechadura. Três tiros foram necessários para a porta abrir ligeiramente com o impacto, e a conseqüência disso foi um enjôo automático causado pelo cheiro da morte.
Cambaleou até o balcão e lá se apoiou, respirando fundo para controlar o enjôo. Nos últimos meses havia vivido muita coisa, mas nunca sentira um cheiro tão forte de decomposição como aquele. Embaixo do balcão achou um pedaço de pano e desinfetante. Molhou o pano com o produto e o enrolou na cara fazendo questão de encostar-lo no nariz até o cheiro dar sensação de queimação.
Aproximou-se da porta com a machete em riste, mas logo percebeu que não existia perigo. O corpo estava terrivelmente decomposto. A janela havia sido pregada com ripas de madeira, deixando o cheiro muito bem acumulado. A manchada roupa estava se decompondo junto, mostrando áreas do que um dia já fora a pele e agora era uma massa de carne podre. Vermes escapavam por purulentas cavidades. O cadáver do que já fora uma mulher (apenas agora conseguira identificar) estava deitado de lado no chão com uma das pernas dobradas e a de cima esticada, mostrando que quando morrera estava ajoelhada no chão. Em sua cabeça estava uma marca escorrida de um líquido seco cor argila que esperava ser sangue saindo de um buraco nítido do agora aparente crânio. Deu uma olhada rápida no cômodo e se afastou dali quando o cheiro voltou a ser sentido.
Apoiou-se em uma estante ainda olhando em direção ao cômodo agora com a porta encostada. Tentou respirar fundo, mas o cheiro estava impregnado, se não no ar, em seu psicológico.
Ouviu um barulho característico de rodas derrapando ao frear.
Alertou-se. Guardou a machete na cintura e sacou o rifle das costas. Amaldiçoou-se por não tê-lo recarregado, pois este agora tinha apenas dez balas segundo seus cálculos. Agachado dirigiu-se até o balcão da loja com cuidado para não ser visto. Olhou por baixo de uma das ripas de bloqueio da janela e identificou um jipe, um jipe do exército! Um soldado estava em uma metralhadora montada no jipe e outros dois estavam observando o tanque, excitados.
“Porcaria” pensou. Se fossem soldados não iriam matá-lo, pois além de não fazerem isso (esperava), também era do exército, porém, se não fossem do exército e aquelas fardas um dia foram de soldados, ele estava em uma enrascada. Olhou em volta, não havia rota de fuga. O maldito dono do estabelecimento havia fechado qualquer possível saída. Apalpou os bolsos da farda até sentir um alívio extremo ao sentir o objeto arredondado. Tirou-o do bolso e arrancou o pino ainda segurando a trava. Tivera uma idéia.
Sentado naquela cadeira ele se sentia invencível, completamente intocável. Comia uma lata de salsichas da qual sempre teve nojo, mas queria guardar o atum para depois. Olhou para a calculadora e o papel no chão. O combustível não ia durar muito, logo teria que sair novamente e encher os reservatórios.
Pelo pequeno visor deu uma breve checada no lado de fora. Abriu a escotilha superior e deu uma respirada no ar frio da madrugada, finalmente estava se sentindo melhor. Havia passado mal por três dias inteiros por causa de, acreditava e torcia para que fosse, comida estragada. Pegou um mapa da região que achara em um posto e anotou possíveis pontos onde poderia achar mantimentos e gasolina.
Ficava frustrado pelo som do motor do tanque abafar os “crecks” dos ossos se quebrando. Um carro à frente se opunha ao caminho que queria seguir. Acelerou e passou praticamente pulando com o tanque por cima do veículo, ficando ligeiramente apreensivo com a aterrissagem em apenas uma das lagartas. Quando o tanque voltou à sua posição normal, ficou aliviado ao ver que ele funcionava normalmente. Estacionou na frente do posto e esperou que os doentes se acumulassem em torno de sua fortaleza. Quando muitos estavam presentes para a “festa”, deu ré no tanque matando alguns e depois acelerou passando por cima da maioria com satisfação. Repetiu o processo até todos os mais próximos estarem mortos.
Desligou o motor e apurou os ouvidos, nada. Pegou seu rifle e abrindo a escotilha procurou por doentes mais distantes ou que não haviam morrido esmagados. Atirando com precisão matou mais oito. Sempre fora bom de mira, desde os tempos de treinamento no exército. Entrou fechando a escotilha e voltou a mexer no sistema de som que estava montando dentro do tanque. Com o tempo havia aprendido uma valiosa lição, “se pretender ficar mais tempo em um lugar, atire e espere os que ouviram virem”. E eles vieram. Em pouco menos que meia hora, lá estavam mais vinte doentes. Ligou o motor e o sorriso brotou em seu rosto, era hora da panqueca.
Depois de atirar nos dois últimos doentes que haviam sobrado, pegou seus equipamentos e desceu. Odiava essas horas. Sentia-se desprotegido e até paranóico quando do lado de fora daquelas paredes de metal. Segurava sua lança feita à mão olhando para todos os lados, com o tempo aprendera que em lugares abertos aquela era a melhor arma para combater doentes sem correr perigo de ser ferido.Aproximando-se do posto de gasolina, começou a checar as bombas, animando-secom o fato de que todas estavam com gasolina. Depois veria isso, primeiro ia procurar suprimentos. Entrou na loja de conveniência deixando a lança apoiada do lado de fora e sacando sua machete. Não achava que encontraria doentes ali dentro, mas era sempre melhor estar prevenido.
A loja estava com poucas mercadorias, provavelmente roubada quando a pandemia estourou. Checou as prateleiras e de útil encontrou apenas alguns itens de primeiros socorros, que já guardou na mochila, e água, que resolveu buscar mais tarde pela falta de necessidade, afinal, a torre do tanque estava com um grande reservatório de água quase que cheio. Checando atrás do balcão encontrou alguns ossos certamente humanos com marcas de dentes. Realmente era um final que não desejava.Aos fundos encontrou uma porta trancada. Riu baixo sozinho, era quase impossível achar a chave certa para as fechaduras hoje em dia, teria que forçar. Dirigiu-se até o lado de fora para verificar se algum doente estava próximo, e não encontrando, voltou para a porta atirando na fechadura. Três tiros foram necessários para a porta abrir ligeiramente com o impacto, e a conseqüência disso foi um enjôo automático causado pelo cheiro da morte.
Cambaleou até o balcão e lá se apoiou, respirando fundo para controlar o enjôo. Nos últimos meses havia vivido muita coisa, mas nunca sentira um cheiro tão forte de decomposição como aquele. Embaixo do balcão achou um pedaço de pano e desinfetante. Molhou o pano com o produto e o enrolou na cara fazendo questão de encostar-lo no nariz até o cheiro dar sensação de queimação.
Aproximou-se da porta com a machete em riste, mas logo percebeu que não existia perigo. O corpo estava terrivelmente decomposto. A janela havia sido pregada com ripas de madeira, deixando o cheiro muito bem acumulado. A manchada roupa estava se decompondo junto, mostrando áreas do que um dia já fora a pele e agora era uma massa de carne podre. Vermes escapavam por purulentas cavidades. O cadáver do que já fora uma mulher (apenas agora conseguira identificar) estava deitado de lado no chão com uma das pernas dobradas e a de cima esticada, mostrando que quando morrera estava ajoelhada no chão. Em sua cabeça estava uma marca escorrida de um líquido seco cor argila que esperava ser sangue saindo de um buraco nítido do agora aparente crânio. Deu uma olhada rápida no cômodo e se afastou dali quando o cheiro voltou a ser sentido.
Apoiou-se em uma estante ainda olhando em direção ao cômodo agora com a porta encostada. Tentou respirar fundo, mas o cheiro estava impregnado, se não no ar, em seu psicológico.
Ouviu um barulho característico de rodas derrapando ao frear.
Alertou-se. Guardou a machete na cintura e sacou o rifle das costas. Amaldiçoou-se por não tê-lo recarregado, pois este agora tinha apenas dez balas segundo seus cálculos. Agachado dirigiu-se até o balcão da loja com cuidado para não ser visto. Olhou por baixo de uma das ripas de bloqueio da janela e identificou um jipe, um jipe do exército! Um soldado estava em uma metralhadora montada no jipe e outros dois estavam observando o tanque, excitados.
“Porcaria” pensou. Se fossem soldados não iriam matá-lo, pois além de não fazerem isso (esperava), também era do exército, porém, se não fossem do exército e aquelas fardas um dia foram de soldados, ele estava em uma enrascada. Olhou em volta, não havia rota de fuga. O maldito dono do estabelecimento havia fechado qualquer possível saída. Apalpou os bolsos da farda até sentir um alívio extremo ao sentir o objeto arredondado. Tirou-o do bolso e arrancou o pino ainda segurando a trava. Tivera uma idéia.
Solidão egoísta
Spoiler :
“EI! NÃO ATIREM!”, gritou tentando direcionar a voz com a mão para outro lado da loja.
Ouviu certa comoção do lado de fora e também um leve barulho de metal arrastando em metal.
“EU VI QUE VOCÊS SÃO DO EXÉRCITO! TENHO UMA PERGUNTA PARA VOCÊS! SEIS MESES ATRÁS QUAL ERA O NOME DO GENERAL RESPONSÁVEL PELA TENTATIVA DA TOMADA DE ITAIPÚ?”
Nervoso esperou uma resposta para quebrar o silêncio, e esta veio.
“ESPERE QUE JÁ FALAMOS!” Uma voz grossa respondeu.
Não tinha jeito, esperar era suicídio, eles certamente tentariam o cercar e matar. Sacou a pistola do coldre com a mão livre e espiou novamente pela fresta, porém agora só via o soldado da metralhadora montada. Estava terminando de pensar em jogar a granada no jipe quando ouviu:
“NÃO TENHO CERTEZA SE ERA GENERAL, ALIÁS, QUASE CERTEZA QUE NÃO ERA, MAS O CARA DE ITAIPÚ FOI O LUIZ FRAGA!”, respondeu a mesma voz grossa.
“CORONEL! ELE ERA CORONEL!”, respondeu uma voz jovial.
Alívio, a chance de serem do exército agora era bem maior.
“VOCÊ EM CIMA DA METRALHADORA! DESÇA OU NÃO ME MOSTRAREI!”. Observou pela fresta novamente e viu o homem olhar para o lado, provavelmente indagando se deveria sair de lá ou não. Após um breve aceno, ele desceu e se posicionou com um rifle atrás do jipe.
Ainda apreensivo, saiu vagarosamente do balcão e parou na porta da loja, observando o ambiente até encontrar todos os três soldados que ali se encontravam. Apertava a granada com força, pensando em como jogá-la para causar o maior dano possível caso fosse necessário. Estavam todos apreensivos, o que o relaxou consideravelmente, pois se não haviam atirando ainda, não tinham tanta intenção de matá-lo.
“Meu nome é Tomás, sou piloto de tanque do décimo terceiro regimento de cavalaria mecanizada” falou tentando criar alguma reação.
Os homens se entreolharam e um deles, um negro alto e parrudo, levantou sua arma apoiando-a no ombro e dirigiu-se até Tomás.
“Nós somos parte do que sobrou da vigésima sexta brigada páraquedista, eu sou o terceiro sargento Gabriel”. Ele sinalizou para que os outros se aproximassem. “Ouvimos alguns tiros e o Capitão nos mandou aqui para ver o que era”. Os outros dois soldados se aproximaram, sendo que um abaixou a arma e o outro continuou com o rifle em riste.
“Eu sou o que sobrou de meu regimento, fomos separados para guardarmos diferentes setores de Pirassununga, mas acabamos sendo 'inundados' por doentes, eu só sobrevivi pois a cabine do piloto é separada da torre e os soldados de lá foram pegos.”
O sargento olhou para o tanque e depois se voltou para Tomás.
“Ele está funcionando?”, perguntou.
“Está, mas não tem munição no canhão principal e a metralhadora da torre foi levada pela infantaria.”
“Certo...” voltou-se para o tanque e ficou pensativo alguns segundos até voltar-se para o piloto. “Tomás, nenhum de nós sabe dirigir um tanque, e seria besteira o deixarmos aqui... você pode dirigir, mas o Francisco vai na torre.” O homem se aproximou sério. “Se fizer qualquer coisa fora da linha, ele te mata assim que você sair. Entendeu?”
Tomás concordou.
“Primeiro precisamos pegar combustível para ele, eu parei aqui justamente por isso” falou olhando para as bombas. “Péra aê”. Guardou a pistola no coldre e reencaixou o pino da granada, relaxando os homens que haviam ficado surpresos com o artefato. Estava aliviado. Eles não o mataram e provavelmente não o fariam, e com a ajuda dos três militares, os dois tanques de combustíveis do blindado ficaram cheios rapidamente.
“Fiquem com meu rifle”. Ele entregou a arma para o intrigado sargento. “Vou colocar minha mochila de suprimentos na torre, não tem espaço para ela na cabine de direção”. O sargento ficou sério, porém concordou com a cabeça.
Entrou na cabine e colocou a mochila de lado. Sentou-se em uma cadeira suspirando aliviado com o fato de a situação ter finalmente chegado perto de um desfecho.
E adorava ouvir aquele som.
A explosão fez o tanque estremecer.
Olhou pelo visor do atirador e viu fumaça, muita fumaça. Pegou a metralhadora pesada e a acoplou à escotilha da torre. O jipe estava a pelo menos dez metros de distância, completamente destruído. Virou a metralhadora para frente do posto e viu um homem inerte e dois extremamente feridos gemendo no chão.
Pegou um rifle reserva e desceu do tanque. A poeira e fumaça estavam começando a baixar, mas ainda o incomodaram. Aproximou-se de um dos soldados, que estava sem uma das pernas e tendo espasmos que faziam sangue jorrar. Este não sobreviveria. Aproximou-se de Gabriel, que tinha um grande pedaço de metal atravessando seu torso diagonalmente, e encostou a arma na cabeça do sargento. O militar estava incrédulo, provavelmente em choque, pois sua única reação foi continuar olhando para o fumegante canhão do tanque e sutilmente mover o maxilar.
Tomás sorriu vitorioso.
“Vocês não vão tirá-lo de mim”
Atirou.
Ouviu certa comoção do lado de fora e também um leve barulho de metal arrastando em metal.
“EU VI QUE VOCÊS SÃO DO EXÉRCITO! TENHO UMA PERGUNTA PARA VOCÊS! SEIS MESES ATRÁS QUAL ERA O NOME DO GENERAL RESPONSÁVEL PELA TENTATIVA DA TOMADA DE ITAIPÚ?”
Nervoso esperou uma resposta para quebrar o silêncio, e esta veio.
“ESPERE QUE JÁ FALAMOS!” Uma voz grossa respondeu.
Não tinha jeito, esperar era suicídio, eles certamente tentariam o cercar e matar. Sacou a pistola do coldre com a mão livre e espiou novamente pela fresta, porém agora só via o soldado da metralhadora montada. Estava terminando de pensar em jogar a granada no jipe quando ouviu:
“NÃO TENHO CERTEZA SE ERA GENERAL, ALIÁS, QUASE CERTEZA QUE NÃO ERA, MAS O CARA DE ITAIPÚ FOI O LUIZ FRAGA!”, respondeu a mesma voz grossa.
“CORONEL! ELE ERA CORONEL!”, respondeu uma voz jovial.
Alívio, a chance de serem do exército agora era bem maior.
“VOCÊ EM CIMA DA METRALHADORA! DESÇA OU NÃO ME MOSTRAREI!”. Observou pela fresta novamente e viu o homem olhar para o lado, provavelmente indagando se deveria sair de lá ou não. Após um breve aceno, ele desceu e se posicionou com um rifle atrás do jipe.
Ainda apreensivo, saiu vagarosamente do balcão e parou na porta da loja, observando o ambiente até encontrar todos os três soldados que ali se encontravam. Apertava a granada com força, pensando em como jogá-la para causar o maior dano possível caso fosse necessário. Estavam todos apreensivos, o que o relaxou consideravelmente, pois se não haviam atirando ainda, não tinham tanta intenção de matá-lo.
“Meu nome é Tomás, sou piloto de tanque do décimo terceiro regimento de cavalaria mecanizada” falou tentando criar alguma reação.
Os homens se entreolharam e um deles, um negro alto e parrudo, levantou sua arma apoiando-a no ombro e dirigiu-se até Tomás.
“Nós somos parte do que sobrou da vigésima sexta brigada páraquedista, eu sou o terceiro sargento Gabriel”. Ele sinalizou para que os outros se aproximassem. “Ouvimos alguns tiros e o Capitão nos mandou aqui para ver o que era”. Os outros dois soldados se aproximaram, sendo que um abaixou a arma e o outro continuou com o rifle em riste.
“Eu sou o que sobrou de meu regimento, fomos separados para guardarmos diferentes setores de Pirassununga, mas acabamos sendo 'inundados' por doentes, eu só sobrevivi pois a cabine do piloto é separada da torre e os soldados de lá foram pegos.”
O sargento olhou para o tanque e depois se voltou para Tomás.
“Ele está funcionando?”, perguntou.
“Está, mas não tem munição no canhão principal e a metralhadora da torre foi levada pela infantaria.”
“Certo...” voltou-se para o tanque e ficou pensativo alguns segundos até voltar-se para o piloto. “Tomás, nenhum de nós sabe dirigir um tanque, e seria besteira o deixarmos aqui... você pode dirigir, mas o Francisco vai na torre.” O homem se aproximou sério. “Se fizer qualquer coisa fora da linha, ele te mata assim que você sair. Entendeu?”
Tomás concordou.
“Primeiro precisamos pegar combustível para ele, eu parei aqui justamente por isso” falou olhando para as bombas. “Péra aê”. Guardou a pistola no coldre e reencaixou o pino da granada, relaxando os homens que haviam ficado surpresos com o artefato. Estava aliviado. Eles não o mataram e provavelmente não o fariam, e com a ajuda dos três militares, os dois tanques de combustíveis do blindado ficaram cheios rapidamente.
“Fiquem com meu rifle”. Ele entregou a arma para o intrigado sargento. “Vou colocar minha mochila de suprimentos na torre, não tem espaço para ela na cabine de direção”. O sargento ficou sério, porém concordou com a cabeça.
Entrou na cabine e colocou a mochila de lado. Sentou-se em uma cadeira suspirando aliviado com o fato de a situação ter finalmente chegado perto de um desfecho.
E adorava ouvir aquele som.
A explosão fez o tanque estremecer.
Olhou pelo visor do atirador e viu fumaça, muita fumaça. Pegou a metralhadora pesada e a acoplou à escotilha da torre. O jipe estava a pelo menos dez metros de distância, completamente destruído. Virou a metralhadora para frente do posto e viu um homem inerte e dois extremamente feridos gemendo no chão.
Pegou um rifle reserva e desceu do tanque. A poeira e fumaça estavam começando a baixar, mas ainda o incomodaram. Aproximou-se de um dos soldados, que estava sem uma das pernas e tendo espasmos que faziam sangue jorrar. Este não sobreviveria. Aproximou-se de Gabriel, que tinha um grande pedaço de metal atravessando seu torso diagonalmente, e encostou a arma na cabeça do sargento. O militar estava incrédulo, provavelmente em choque, pois sua única reação foi continuar olhando para o fumegante canhão do tanque e sutilmente mover o maxilar.
Tomás sorriu vitorioso.
“Vocês não vão tirá-lo de mim”
Atirou.
O banquete do megalomaníaco
Spoiler :
O tanque pulou o barranco e quase o fez bater a cabeça no console com todo aquele solavanco. Tinha que achar um lugar seguro, um lugar para se defender, mas onde conseguiria esconder um trambolho daqueles? Onde?
Suava nervoso. O combustível não duraria muito, e se acabasse, estaria morto. Malditos soldados que não tinham peito para enfrentá-lo cara a cara! Rangeu os dentes. Estava perdendo aquela batalha e isso não podia acontecer. Pense, pense! Mesmo que subisse na torre do tanque para enfrentá-los, eles poderiam simplesmente não se aproximar. Se continuasse a fugir, uma hora seu combustível acabaria e ele obrigatoriamente teria que subir para a torre... “caralho” pensou irritado. Teria que fazer melhor que isso...
Subiu uma colina de difícil acesso para despistar temporariamente seus perseguidores, porém isso era uma solução temporária. Eles sempre voltavam ao seu encalço.
Parou ao lado da estrada observando os arredores. Havia ali um posto de combustível que o chamou atenção. Aquilo poderia ser sua salvação.
ELE escolheria o palco da batalha.
Atirou nas bombas de gasolina.
------ ------ ------ ------ ------
Só de olhar para aquela imóvel máquina de destruição Dantes já ficava com medo, mesmo que ela estivesse presa por destroços.
Escondido atrás daquele barracão tentava entender o que acontecera. Teria o tanque passado por cima das bombas de gasolina e batido na loja de conveniência? Não... mesmo que tivesse, achava que o tanque teria forças o bastante para sair de lá...
Parou de pensar um pouco no tanque e tentou imaginar onde a pessoa que o pilotava poderia estar. Alguma coisa cheirava mal. Se fosse mesmo uma pessoa apenas, não seria nada inteligente descer do tanque e combatê-los, mesmo abrigando-se na destruída loja. Teria ela fugido? Se estivesse na torre... ele não conseguiria vê-los se aproximando por trás. Era tudo... conveniente demais, isso não levando em cogitação a negra e espessa fumaça que poderia facilmente ser usada de cobertura por eles.
Ouviu um dos jipes partir para tomar uma posição estratégica caso o tanque começasse a se mover. Olhou para seu líder. Nunca havia visto alguém com tanta sede de sangue quanto ele nas últimas horas, parecia querer matar aquela pessoa mais do que um maldito queria deliciar-se com suas carnes. Aqueles asquerosos seres... deveriam estar vindo em massa até ali devido à explosão das bombas de gasolina. O tempo seria curto.
Alguém o cutucou nos ombros. Recebeu rapidamente suas ordens e acenou em respostas. Iriam se mover.
Acobertados por labaredas e fumaça dirigiram-se até um pequeno engavetamento em frente ao posto. Estava responsável por cuidar da retaguarda e, caso precisassem, chamar o jipe para ajudá-los.
Ouviu pelo rádio portátil a ordem para um grupo, liderado pelo capitão, se destacar e investir. Era chegada a hora de terminarem aquilo.
Os soldados cuidadosamente se aproximaram pelo ponto cego da máquina, escorando-se a uma das lagartas. Comunicaram-se brevemente e sem hesitar subiram na blindagem.
Não houve tempo para reações.
Sangue e pedaços de corpos voaram para todos os lados.
Dantes assustou-se com o barulho, pois cuidando da retaguarda não estava a par do que se sucedera. Olhou rapidamente por cima da lataria de um dos carros apoiando-se em seu perplexo e salpicado de sangue companheiro. Não existia mais ninguém próximo ao tanque, apenas uma imóvel e gigantesca máquina que balançava ligeiramente, possuindo agora amassados e manchas pretas por toda a extensão de sua blindagem superior.
Ficou paralisado. Onde estavam os soldados? Onde estava o capitão? O capitão estava morto? Ele era o próximo na hierarquia de patentes. O que faria? O que aconteceu? Porque o canhão do tanque estava se movendo?
Sentiu um puxão e caiu de costas, sendo arrastado sem cerimônia para longe do engavetamento. Mais uma explosão. Molhou suas calças. Carros e suas peças eram jogados para longe do local do impacto. Um grito de dor. Seria ele que teria gritado? Parou de ser arrastado.
Letargicamente olhou para trás. Seu companheiro que o estivera arrastando estava agora ajoelhado no chão com um grande pedaço de metal atravessando suas costas, quase o cortando ao meio. Sangue vertia em generosas quantidades enquanto o desesperado e engasgado homem tentava inutilmente arrancar o objeto.
Encostou sua cabeça no chão.
Ouviu um abafado barulho de rodas freando.
Iriam todos morrer.
------ ------ ------ ------ ------
Atirou e com satisfação assistiu o jipe explodir.
Recarregou o canhão com agilidade.
Sorrindo observava o campo de batalha. Havia pedaços de corpos e carros espalhados por todos os lados. A negra fumaça do combustível o atrapalhava, porém tinha conseguido matar, se não todos, grande parte daqueles persistentes insetos.
Olhou para a estrada e soltou um abafado riso. Sabia que viriam, ele os chamara.
Dezenas... talvez centenas deles, seus obedientes servos, vinham deliciar-se com a carne que lhes fora oferecida naquele tenro banquete espalhado por toda a área do posto de gasolina.
Encostou-se na cadeira do atirador suspirando de satisfação.
Eles não sabiam quem haviam provocado.
Ele era intocável.
Ele era invencível.
Ele era um ser superior.
Suava nervoso. O combustível não duraria muito, e se acabasse, estaria morto. Malditos soldados que não tinham peito para enfrentá-lo cara a cara! Rangeu os dentes. Estava perdendo aquela batalha e isso não podia acontecer. Pense, pense! Mesmo que subisse na torre do tanque para enfrentá-los, eles poderiam simplesmente não se aproximar. Se continuasse a fugir, uma hora seu combustível acabaria e ele obrigatoriamente teria que subir para a torre... “caralho” pensou irritado. Teria que fazer melhor que isso...
Subiu uma colina de difícil acesso para despistar temporariamente seus perseguidores, porém isso era uma solução temporária. Eles sempre voltavam ao seu encalço.
Parou ao lado da estrada observando os arredores. Havia ali um posto de combustível que o chamou atenção. Aquilo poderia ser sua salvação.
ELE escolheria o palco da batalha.
Atirou nas bombas de gasolina.
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Só de olhar para aquela imóvel máquina de destruição Dantes já ficava com medo, mesmo que ela estivesse presa por destroços.
Escondido atrás daquele barracão tentava entender o que acontecera. Teria o tanque passado por cima das bombas de gasolina e batido na loja de conveniência? Não... mesmo que tivesse, achava que o tanque teria forças o bastante para sair de lá...
Parou de pensar um pouco no tanque e tentou imaginar onde a pessoa que o pilotava poderia estar. Alguma coisa cheirava mal. Se fosse mesmo uma pessoa apenas, não seria nada inteligente descer do tanque e combatê-los, mesmo abrigando-se na destruída loja. Teria ela fugido? Se estivesse na torre... ele não conseguiria vê-los se aproximando por trás. Era tudo... conveniente demais, isso não levando em cogitação a negra e espessa fumaça que poderia facilmente ser usada de cobertura por eles.
Ouviu um dos jipes partir para tomar uma posição estratégica caso o tanque começasse a se mover. Olhou para seu líder. Nunca havia visto alguém com tanta sede de sangue quanto ele nas últimas horas, parecia querer matar aquela pessoa mais do que um maldito queria deliciar-se com suas carnes. Aqueles asquerosos seres... deveriam estar vindo em massa até ali devido à explosão das bombas de gasolina. O tempo seria curto.
Alguém o cutucou nos ombros. Recebeu rapidamente suas ordens e acenou em respostas. Iriam se mover.
Acobertados por labaredas e fumaça dirigiram-se até um pequeno engavetamento em frente ao posto. Estava responsável por cuidar da retaguarda e, caso precisassem, chamar o jipe para ajudá-los.
Ouviu pelo rádio portátil a ordem para um grupo, liderado pelo capitão, se destacar e investir. Era chegada a hora de terminarem aquilo.
Os soldados cuidadosamente se aproximaram pelo ponto cego da máquina, escorando-se a uma das lagartas. Comunicaram-se brevemente e sem hesitar subiram na blindagem.
Não houve tempo para reações.
Sangue e pedaços de corpos voaram para todos os lados.
Dantes assustou-se com o barulho, pois cuidando da retaguarda não estava a par do que se sucedera. Olhou rapidamente por cima da lataria de um dos carros apoiando-se em seu perplexo e salpicado de sangue companheiro. Não existia mais ninguém próximo ao tanque, apenas uma imóvel e gigantesca máquina que balançava ligeiramente, possuindo agora amassados e manchas pretas por toda a extensão de sua blindagem superior.
Ficou paralisado. Onde estavam os soldados? Onde estava o capitão? O capitão estava morto? Ele era o próximo na hierarquia de patentes. O que faria? O que aconteceu? Porque o canhão do tanque estava se movendo?
Sentiu um puxão e caiu de costas, sendo arrastado sem cerimônia para longe do engavetamento. Mais uma explosão. Molhou suas calças. Carros e suas peças eram jogados para longe do local do impacto. Um grito de dor. Seria ele que teria gritado? Parou de ser arrastado.
Letargicamente olhou para trás. Seu companheiro que o estivera arrastando estava agora ajoelhado no chão com um grande pedaço de metal atravessando suas costas, quase o cortando ao meio. Sangue vertia em generosas quantidades enquanto o desesperado e engasgado homem tentava inutilmente arrancar o objeto.
Encostou sua cabeça no chão.
Ouviu um abafado barulho de rodas freando.
Iriam todos morrer.
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Atirou e com satisfação assistiu o jipe explodir.
Recarregou o canhão com agilidade.
Sorrindo observava o campo de batalha. Havia pedaços de corpos e carros espalhados por todos os lados. A negra fumaça do combustível o atrapalhava, porém tinha conseguido matar, se não todos, grande parte daqueles persistentes insetos.
Olhou para a estrada e soltou um abafado riso. Sabia que viriam, ele os chamara.
Dezenas... talvez centenas deles, seus obedientes servos, vinham deliciar-se com a carne que lhes fora oferecida naquele tenro banquete espalhado por toda a área do posto de gasolina.
Encostou-se na cadeira do atirador suspirando de satisfação.
Eles não sabiam quem haviam provocado.
Ele era intocável.
Ele era invencível.
Ele era um ser superior.
Última edição por LivingAfterWorld em 11/7/2013, 08:08, editado 1 vez(es)