Capítulo 1
Última edição por Galileu em 19/12/2013, 13:43, editado 2 vez(es)
Spoiler :
Silêncio. Piiiiiiiii. Pedro sentia um apito no fundo dos ouvidos, seu coração batia acelerado, sua respiração ofegante, os olhos lacrimejando e o nariz sangrando. Uma nuvem de fumaça nascia do interior do capô do FIAT Palio de Pedro, a lataria de frente estava totalmente destruída e o vidro estava em cacos derramados sobre o painel frontal do carro. O choque da colisão do carro com um poste de energia desativado o fez ser arremessado na direção de seu volante, o air-bag não abriu e seu cinto não o segurou no momento da colisão.
Ele estava desorientado, sua visão embaçada demais para que ele conseguisse enxergar qualquer coisa na sua frente e a audição inativa, apenas ouvia o apito agonizante de dentro de seus ouvidos. Encostou-se no banco e parou para respirar, sentia cada vibração, cada pulsação e sentia como se parasse de correr depois de muitos quilômetros. Suas mãos tremiam loucamente, quase como espasmos. Aos poucos recobrou a visão e a audição, sua racionalidade foi voltando ao estado normal aos poucos, permitindo que ele se lembrasse do que havia ocorrido.
* * * *
O motor demorou a ligar, mas, com três tentativas Pedro conseguiu dar a partida no Palio branco que encontrara abandonado no meio da rua. Suas pernas estavam cansadas da longa caminhada que havia feito desde um mercado no centro da cidade, até um bairro residencial situado à alguns quilômetros do centro da cidade. Pedro saiu de seu pequeno conforto momentâneo para este bairro na esperança de encontrar a tal base de sobreviventes. Por meio de um rádio conseguiu ouvir uma transmissão em baixa frequência de um grupo de pessoas que afirmavam estar em segurança num prédio residencial situado no bairro Santo Antônio, o nome do condomínio foi dito, mas, tudo que ele conseguiu entender foi "estamos no prédio residencial Paraíso At...". Apenas por saber o primeiro nome do condomínio já era razão suficiente para que ele deixasse seu antigo abrigo, com o pouco de comida que lhe restava, para encontrar um lugar mais confortável e mais populoso para viver. Ainda faltavam cerca de quatro quilômetros até Pedro conseguir chegar no condomínio e, para sua sorte aquele pequeno FIAT serviria para este rápido serviço de transporte.
O primeiro quilômetro foi tranquilo, o nível de combustível estava na metade, mas seria o suficiente para chegar até o local. O segundo quilômetro demonstrava uma grande diferença em comparação ao outro, a quantidade de infectados que surgiam era maior, eles apareciam de todos os lugares: Lojas, igrejas, casas... Pedro conseguiu contar cerca de 20 zumbis perambulando pela rua e alguns outros no interior de lojas. O terceiro quilômetro foi o mais perturbado, faltando um quilômetro para Pedro chegar no novo abrigo o nível de zumbis aumentou novamente. Os poucos que ele havia visto anteriormente haviam duplicado, talvez até triplicado! Precisou desviar diversas vezes dos grupos amontoados e dos solitários que passeavam pela rua deserta e poluída. Após atravessar grande parte da horda que se estendia pela rua, ele passou por cima de uma poça de sangue fresco... Os pneus derraparam e a única opção para não bater o carro era pará-lo de vez e tentar estabilizá-lo, foi isso que fez... Deu errado. No momento em que Pedro girou o volante para a esquerda tentando estabilizar o carro, um amontoado de cambaleantes apareceu como assombrações macabras, colidindo com a lateral direita do carro e fazendo-o estancar por completo. Alguns dos corpos se enterraram embaixo dos pneus como se fossem travas de segurança.
Parado no meio de um grupo de carniceiros esfomeados, sem armas e praticamente desprotegido, Pedro foi forçado a alavancar toda a força do motor do carro para tentar passar por cima dos corpos podres dos zumbis, sem sucesso. Os solitários foram se juntando ao redor do carro e formando um grupo enorme de bichos retardados que apenas desejavam consumir um alimento fresco enquanto Pedro continuava acelerando o carro na esperança de conseguir escapar. Com diversas tentativas feitas ele finalmente conseguiu fazer o carro andar, mas, as rodas ficaram banhadas em sangue e restos humanos deteriorados, fazendo o carro ficar tão instável que a cada simples movimento de rotação que cada pneu fazia, a dificuldade para manter o carro reto era escabrosa. Chegara um momento em que ele resolveu acelerar com tudo para passar por cima de um grupo de retardados que estavam parados no meio da rua, este foi um de seus maiores erros até então. Com a aceleração rápida os pneus dianteiros do carro desestabilizaram-se, fazendo o carro derrapar levemente, mas, nada preocupante. O carro rapidamente colidiu com o grupo de malditos e os fez voarem por cima e caírem por baixo do carro, dando novamente um banho de sangue e restos humanos nas rodas do carro. A instabilidade gerada pelos restos adicionada com a velocidade em que o carro estava fizeram com que o carro derrapasse enfurecidamente, até o ponto em que ele tomou vida própria e foi em direção à um poste de energia desativado.
* * * *
Um pequeno grupo de zumbis aproximavam-se de Pedro enquanto ele recuperava a consciência por completo, sua cabeça girava e sentia um leve enjoo. Ruídos e gemidos ecoavam pela cidade deserta, fazendo Pedro despertar definitivamente. Sua cabeça estava a mil, agora pensando em um jeito de sair do carro antes que os bichos chegassem e o fizessem de lanche. Ele carregava apenas uma mochila com os poucos suprimentos que ainda tinha: 2 garrafas de água de 600ml, dois pacotes de barras de cereal (Cada uma com 6 barras), alguns enlatados variados, frutas em conserva e macarrão instantâneo.
Rapidamente ele pegou a mochila, desafivelou o cinto de segurança e colocou força para abrir a porta do carro. A fumaça do capô estava cada vez mais densa e aos poucos se via fagulhas pulando no capô. Pedro pulou para fora, mas, antes de erguer-se por completo ele despencou no chão. Suas pernas estavam dormentes e aquela sensação estranha de dormência o fazia sentir uma agonia que o dava vontade de rir. Tentou arrastar-se, mas, qualquer movimento - mesmo que ínfimo - o fazia sentir a tal vontade de rir, ainda sim aquele jogo mortal de gato e rato disparava adrenalina em seu corpo fazendo-o resistir à vontade de esperar as pernas voltarem ao normal e, com dificuldade ele começou a se arrastar com toda a força que conseguia para fugir do grupo de zumbis. O grupo estava numa distância muito pequena - cerca de 5 metros - e na velocidade que Pedro estava se movendo rapidamente eles o alcançariam, sua esperança e única oportunidade de sobreviver era conseguir se levantar e começar a correr. Parou um pouco e observou os olhos mortos dos infectados, aqueles terríveis olhos alaranjados e negros pareciam ser o efeito de uma lente usada nos filmes de terror.
Será que um dia esses infectados voltariam a ser humanos? Será que eles poderiam aprender a serem parecidos com humanos, ao menos para tentar se controlar quando vissem um? E se em algum lugar do crânio pútrido e do cérebro quase inativo daquelas coisas ainda existisse uma pessoa, alguém que possivelmente teria trabalhado diariamente ou vivido ao extremo... O olhar cansado e faminto de cada um deles parecia agonizar por dentro, como que se fosse alguém pedindo ajuda, como se uma batalha fosse travada no interior da cabeça de cada uma dessas coisas, uma batalha que Pedro vivia diariamente. Uma batalha de humanos vs zumbis.
Um dos zumbis chegou cada vez mais próximo ao ponto de jogar-se no chão em direção ao pé direito de Pedro, agarrando-o com voracidade e fome. Sua mente parecia ter sido atingida por um choque, seu cérebro acordou e ele parecia ter acabado de acordar de um coma momentâneo. Pedro assustou-se vendo aquela coisa agarrada a seus pés, a cerca de 3cm de distância de seu calcanhar, em disparada ele começou a chutar a cabeça do demônio na esperança de que a força dos chutes fizessem com que o bicho soltasse sua perna. Sucesso. Estava livre e, com esforço ele tentou novamente levantar-se, suas pernas não estavam mais dormentes, mas, formigavam demais. Levantou-se bravamente, fazendo um esforço descomunal para correr sem despencar novamente no chão. Como um corredor bêbado ele começou a ganhar distância dos demônios.
- "Cagada! Quase morro dessa vez." - pensou.
O sol se punha e logo a noite chegaria. Seu tempo estava acabando e o espaço que ele ainda precisa percorrer era grande, começou então a procurar um lugar simples e vazio para passar à noite. Ele parou um pouco para respirar e olhar ao redor, procurou um carro ou então uma loja pequena para descansar os olhos, mas, no meio daquele silêncio tudo que encontrou foram alguns carros com as portas trancadas e algumas lojas totalmente arrombadas e com as vidraças quebradas. Seus pensamentos estavam embaralhados, será que seria boa ideia tentar arrombar a porta de um dos carros ou quebrar o vidro de um deles para entrar e descansar um pouco ou o alarme entregaria sua posição? Antes que ele pudesse responder, um barulho estrondoso o fez arrepiar e pular de susto. Uma explosão, provavelmente do palio que ele estava dirigindo, a explosão criou uma nuvem de fumaça preta quase invisível na escuridão noturna, mas que era notável se olhasse bem. Em questão de segundos os gemidos dos infectados invadiu os ouvidos de Pedro, como se eles fossem acordados pelo som da explosão, os demônios cambaleantes começaram a sair dos refúgios sombrios em que estavam. Diversos zumbis saíam de dentro das lojas estraçalhadas e de casas abandonadas, era como se um instinto curioso os tivesse acordado e ordenado que eles verificassem o que havia acontecido. Infelizmente para Pedro aquilo era má notícia...
Em seu cinto Pedro guardava um bastão de ferro que encontrou na antiga mercearia que se abrigou no centro da cidade, ela viria a servir e aquele era o momento de usá-la. Os zumbis logo avistaram Pedro, indo na direção dele como formigas em busca de alimento. O primeiro chegou pelo seu flanco direito, um adulto de trinta e poucos anos de idade, levantando os braços podres, cobertos pelo terno que usava enquanto gemia alto. Pedro pegou o bastão e desferiu uma pancada única no maxilar do infectado, quebrando o mesmo e fazendo o zumbi girar 180° graus, mas, não caindo. Desferiu então um chute no estômago da coisa, fazendo-a cair no chão de costas e logo então pulou com toda a força em cima da cabeça da coisa, esmagando o crânio e o cérebro. O sangue jorrava em esguichos para todos os lados, uma poça se formava enquanto os pés eram embebidos em sangue poluído. Em seguida uma mulher com roupa esportiva rosa, provavelmente com cerca de 45 anos de idade, seus braços haviam sido partidos e ela levantava o que restava dos braços tentando alcançar a presa satisfatória. Pedro ergueu o bastão na horizontal em direção aos olhos do zumbi e desferiu a primeira estocada, seu alvo era o olho esquerdo da infectada, mas, por uma distância pequena seu golpe desceu e acertou na boca da mesma, abrindo um buraco na parte de trás do pescoço do demônio, quebrando o osso da coluna e fazendo-o ficar exposto. Retirou o bastão e viu os olhos da zumbi se tornando totalmente sem vida, de um alaranjado vívido e grotesco à um simples branco leitoso.
Seria impossível eliminar todos os infectados, Pedro estava sozinho, em menor número - muito menor - e, apenas com um bastão de ferro ele não conseguiria derrotar tantos zumbis, a sua melhor opção era correr e procurar algum lugar para se abrigar ou continuar a sua jornada até o abrigo no meio da noite. A decisão foi essa, encontrar um abrigo e rezar para os zumbis não o acharem.
Ele começou a correr com o bastão ainda em mãos, seu coração disparou e adrenalina jorrou novamente em seu corpo. Ele não tinha tempo para ficar parado lutando contra zumbis, resolveu então apenas ir desviando de todos eles e buscar algum lugar para se abrigar. Depois de algum tempo correndo ele finalmente encontrou um lugar praticamente ideal para passar a noite: Uma pequena casa com garagem, e sim, ele preferiu usar a garagem e não a casa em si. Com movimentos rápidos ele chegou até o portão de ferro protegido com arame farpado e uma cerca elétrica possivelmente desligada, o portão devia ter cerca de três metros de altura e era totalmente fechado, não dando espaço para ver o que estava no interior. Os infectados aproximavam-se por trás e não havia tempo para bolar um plano muito bom para pular o muro sem se machucar, por conta disto Pedro subiu no batente do portão, guardou sua barra de ferro dentro da mochila e, usando as mãos agarrou a parte de cima do portão, suas mãos ficaram a poucos centímetros de atingir o arame farpado quando ele pulou, mas, por sorte não aconteceu nada. Usou de toda a força possível para subir o portão e evitar contato com a cerca e o arame, mas, sua única chance de subir o muro era pondo as mãos no arame para usar como apoio. Teve receio de fazê-lo, mas, no fim das contas era virar comida ou ferrar com as próprias mãos. Escolheu as mãos.
A primeira mão a ser ferroada com as agulhas afiadas do arame foi a esquerda, agarrando com força no arame, ele deve ter entrado no mínimo dois centímetros em sua pele. Seu sangue escorria pelo metal pontiagudo e era visível que o cheiro do seu sangue estava atiçando a fome dos infectados. Com dificuldade ele subiu por cima do muro e saltou, seus pés pareciam terem sido esmagados por um caminhão, as pernas queimavam por dentro e um choque subiu da ponta de seus pés até o topo da cabeça, fazendo arrepiar-se. Por um longo tempo foi possível ouvir os gritos de dor dele, seria fácil ouvir o grito agonizante dele por quilômetros, talvez os sobreviventes da resistência o tivessem ouvido.
A casa parecia estar vazia, mas, mesmo assim era melhor não arriscar. Dirigiu-se então ao portão da garagem e abriu-a, havia um carro ali dentro. Um polo Volkswagen com mala estendida prata. As chaves estavam penduradas em um porta chaves na parede esquerda da garagem, onde também era possível ver alguns quadros empoeirados e estantes guardando artefatos antigos. Seria uma noite desconfortável, mas nem tanto. Pegou as chaves do carro, abriu a porta do motorista e entrou lá dentro, ligou o carro rapidamente para conferir o combustível que tinha e averiguou que o tanque estava cheio. Desligou o carro. Foi em direção a mala do mesmo e deparou-se com dois galões de 10 litros cheios de combustível e mantimentos desde água até enlatados e salgadinhos. Aquilo era sinal positivo para a ideia de Pedro de manter o carro ligado a noite inteira para curtir, depois de 5 meses, a temperatura agradável que um ar condicionado pode prover. Enquanto ia em direção ao banco do motorista, Pedro encontrou um rolo de gaze na qual usou para enfaixar as duas mãos e parar o sangramento. Abriu a porta do carro e sentou no banco do motorista, ligou o carro o suficiente para que o ar condicionado ficasse ligado, sem ligar os faróis ou luzes do carro para economizar o máximo de combustível. Recostou o banco para trás até ficar num ângulo de 20° graus e logo começou a cochilar. Sua mente foi ficando cada vez mais devagar e sonolenta até chegar no ponto de inatividade total. Bons dias estavam por vir...
Ele estava desorientado, sua visão embaçada demais para que ele conseguisse enxergar qualquer coisa na sua frente e a audição inativa, apenas ouvia o apito agonizante de dentro de seus ouvidos. Encostou-se no banco e parou para respirar, sentia cada vibração, cada pulsação e sentia como se parasse de correr depois de muitos quilômetros. Suas mãos tremiam loucamente, quase como espasmos. Aos poucos recobrou a visão e a audição, sua racionalidade foi voltando ao estado normal aos poucos, permitindo que ele se lembrasse do que havia ocorrido.
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O motor demorou a ligar, mas, com três tentativas Pedro conseguiu dar a partida no Palio branco que encontrara abandonado no meio da rua. Suas pernas estavam cansadas da longa caminhada que havia feito desde um mercado no centro da cidade, até um bairro residencial situado à alguns quilômetros do centro da cidade. Pedro saiu de seu pequeno conforto momentâneo para este bairro na esperança de encontrar a tal base de sobreviventes. Por meio de um rádio conseguiu ouvir uma transmissão em baixa frequência de um grupo de pessoas que afirmavam estar em segurança num prédio residencial situado no bairro Santo Antônio, o nome do condomínio foi dito, mas, tudo que ele conseguiu entender foi "estamos no prédio residencial Paraíso At...". Apenas por saber o primeiro nome do condomínio já era razão suficiente para que ele deixasse seu antigo abrigo, com o pouco de comida que lhe restava, para encontrar um lugar mais confortável e mais populoso para viver. Ainda faltavam cerca de quatro quilômetros até Pedro conseguir chegar no condomínio e, para sua sorte aquele pequeno FIAT serviria para este rápido serviço de transporte.
O primeiro quilômetro foi tranquilo, o nível de combustível estava na metade, mas seria o suficiente para chegar até o local. O segundo quilômetro demonstrava uma grande diferença em comparação ao outro, a quantidade de infectados que surgiam era maior, eles apareciam de todos os lugares: Lojas, igrejas, casas... Pedro conseguiu contar cerca de 20 zumbis perambulando pela rua e alguns outros no interior de lojas. O terceiro quilômetro foi o mais perturbado, faltando um quilômetro para Pedro chegar no novo abrigo o nível de zumbis aumentou novamente. Os poucos que ele havia visto anteriormente haviam duplicado, talvez até triplicado! Precisou desviar diversas vezes dos grupos amontoados e dos solitários que passeavam pela rua deserta e poluída. Após atravessar grande parte da horda que se estendia pela rua, ele passou por cima de uma poça de sangue fresco... Os pneus derraparam e a única opção para não bater o carro era pará-lo de vez e tentar estabilizá-lo, foi isso que fez... Deu errado. No momento em que Pedro girou o volante para a esquerda tentando estabilizar o carro, um amontoado de cambaleantes apareceu como assombrações macabras, colidindo com a lateral direita do carro e fazendo-o estancar por completo. Alguns dos corpos se enterraram embaixo dos pneus como se fossem travas de segurança.
Parado no meio de um grupo de carniceiros esfomeados, sem armas e praticamente desprotegido, Pedro foi forçado a alavancar toda a força do motor do carro para tentar passar por cima dos corpos podres dos zumbis, sem sucesso. Os solitários foram se juntando ao redor do carro e formando um grupo enorme de bichos retardados que apenas desejavam consumir um alimento fresco enquanto Pedro continuava acelerando o carro na esperança de conseguir escapar. Com diversas tentativas feitas ele finalmente conseguiu fazer o carro andar, mas, as rodas ficaram banhadas em sangue e restos humanos deteriorados, fazendo o carro ficar tão instável que a cada simples movimento de rotação que cada pneu fazia, a dificuldade para manter o carro reto era escabrosa. Chegara um momento em que ele resolveu acelerar com tudo para passar por cima de um grupo de retardados que estavam parados no meio da rua, este foi um de seus maiores erros até então. Com a aceleração rápida os pneus dianteiros do carro desestabilizaram-se, fazendo o carro derrapar levemente, mas, nada preocupante. O carro rapidamente colidiu com o grupo de malditos e os fez voarem por cima e caírem por baixo do carro, dando novamente um banho de sangue e restos humanos nas rodas do carro. A instabilidade gerada pelos restos adicionada com a velocidade em que o carro estava fizeram com que o carro derrapasse enfurecidamente, até o ponto em que ele tomou vida própria e foi em direção à um poste de energia desativado.
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Um pequeno grupo de zumbis aproximavam-se de Pedro enquanto ele recuperava a consciência por completo, sua cabeça girava e sentia um leve enjoo. Ruídos e gemidos ecoavam pela cidade deserta, fazendo Pedro despertar definitivamente. Sua cabeça estava a mil, agora pensando em um jeito de sair do carro antes que os bichos chegassem e o fizessem de lanche. Ele carregava apenas uma mochila com os poucos suprimentos que ainda tinha: 2 garrafas de água de 600ml, dois pacotes de barras de cereal (Cada uma com 6 barras), alguns enlatados variados, frutas em conserva e macarrão instantâneo.
Rapidamente ele pegou a mochila, desafivelou o cinto de segurança e colocou força para abrir a porta do carro. A fumaça do capô estava cada vez mais densa e aos poucos se via fagulhas pulando no capô. Pedro pulou para fora, mas, antes de erguer-se por completo ele despencou no chão. Suas pernas estavam dormentes e aquela sensação estranha de dormência o fazia sentir uma agonia que o dava vontade de rir. Tentou arrastar-se, mas, qualquer movimento - mesmo que ínfimo - o fazia sentir a tal vontade de rir, ainda sim aquele jogo mortal de gato e rato disparava adrenalina em seu corpo fazendo-o resistir à vontade de esperar as pernas voltarem ao normal e, com dificuldade ele começou a se arrastar com toda a força que conseguia para fugir do grupo de zumbis. O grupo estava numa distância muito pequena - cerca de 5 metros - e na velocidade que Pedro estava se movendo rapidamente eles o alcançariam, sua esperança e única oportunidade de sobreviver era conseguir se levantar e começar a correr. Parou um pouco e observou os olhos mortos dos infectados, aqueles terríveis olhos alaranjados e negros pareciam ser o efeito de uma lente usada nos filmes de terror.
Será que um dia esses infectados voltariam a ser humanos? Será que eles poderiam aprender a serem parecidos com humanos, ao menos para tentar se controlar quando vissem um? E se em algum lugar do crânio pútrido e do cérebro quase inativo daquelas coisas ainda existisse uma pessoa, alguém que possivelmente teria trabalhado diariamente ou vivido ao extremo... O olhar cansado e faminto de cada um deles parecia agonizar por dentro, como que se fosse alguém pedindo ajuda, como se uma batalha fosse travada no interior da cabeça de cada uma dessas coisas, uma batalha que Pedro vivia diariamente. Uma batalha de humanos vs zumbis.
Um dos zumbis chegou cada vez mais próximo ao ponto de jogar-se no chão em direção ao pé direito de Pedro, agarrando-o com voracidade e fome. Sua mente parecia ter sido atingida por um choque, seu cérebro acordou e ele parecia ter acabado de acordar de um coma momentâneo. Pedro assustou-se vendo aquela coisa agarrada a seus pés, a cerca de 3cm de distância de seu calcanhar, em disparada ele começou a chutar a cabeça do demônio na esperança de que a força dos chutes fizessem com que o bicho soltasse sua perna. Sucesso. Estava livre e, com esforço ele tentou novamente levantar-se, suas pernas não estavam mais dormentes, mas, formigavam demais. Levantou-se bravamente, fazendo um esforço descomunal para correr sem despencar novamente no chão. Como um corredor bêbado ele começou a ganhar distância dos demônios.
- "Cagada! Quase morro dessa vez." - pensou.
O sol se punha e logo a noite chegaria. Seu tempo estava acabando e o espaço que ele ainda precisa percorrer era grande, começou então a procurar um lugar simples e vazio para passar à noite. Ele parou um pouco para respirar e olhar ao redor, procurou um carro ou então uma loja pequena para descansar os olhos, mas, no meio daquele silêncio tudo que encontrou foram alguns carros com as portas trancadas e algumas lojas totalmente arrombadas e com as vidraças quebradas. Seus pensamentos estavam embaralhados, será que seria boa ideia tentar arrombar a porta de um dos carros ou quebrar o vidro de um deles para entrar e descansar um pouco ou o alarme entregaria sua posição? Antes que ele pudesse responder, um barulho estrondoso o fez arrepiar e pular de susto. Uma explosão, provavelmente do palio que ele estava dirigindo, a explosão criou uma nuvem de fumaça preta quase invisível na escuridão noturna, mas que era notável se olhasse bem. Em questão de segundos os gemidos dos infectados invadiu os ouvidos de Pedro, como se eles fossem acordados pelo som da explosão, os demônios cambaleantes começaram a sair dos refúgios sombrios em que estavam. Diversos zumbis saíam de dentro das lojas estraçalhadas e de casas abandonadas, era como se um instinto curioso os tivesse acordado e ordenado que eles verificassem o que havia acontecido. Infelizmente para Pedro aquilo era má notícia...
Em seu cinto Pedro guardava um bastão de ferro que encontrou na antiga mercearia que se abrigou no centro da cidade, ela viria a servir e aquele era o momento de usá-la. Os zumbis logo avistaram Pedro, indo na direção dele como formigas em busca de alimento. O primeiro chegou pelo seu flanco direito, um adulto de trinta e poucos anos de idade, levantando os braços podres, cobertos pelo terno que usava enquanto gemia alto. Pedro pegou o bastão e desferiu uma pancada única no maxilar do infectado, quebrando o mesmo e fazendo o zumbi girar 180° graus, mas, não caindo. Desferiu então um chute no estômago da coisa, fazendo-a cair no chão de costas e logo então pulou com toda a força em cima da cabeça da coisa, esmagando o crânio e o cérebro. O sangue jorrava em esguichos para todos os lados, uma poça se formava enquanto os pés eram embebidos em sangue poluído. Em seguida uma mulher com roupa esportiva rosa, provavelmente com cerca de 45 anos de idade, seus braços haviam sido partidos e ela levantava o que restava dos braços tentando alcançar a presa satisfatória. Pedro ergueu o bastão na horizontal em direção aos olhos do zumbi e desferiu a primeira estocada, seu alvo era o olho esquerdo da infectada, mas, por uma distância pequena seu golpe desceu e acertou na boca da mesma, abrindo um buraco na parte de trás do pescoço do demônio, quebrando o osso da coluna e fazendo-o ficar exposto. Retirou o bastão e viu os olhos da zumbi se tornando totalmente sem vida, de um alaranjado vívido e grotesco à um simples branco leitoso.
Seria impossível eliminar todos os infectados, Pedro estava sozinho, em menor número - muito menor - e, apenas com um bastão de ferro ele não conseguiria derrotar tantos zumbis, a sua melhor opção era correr e procurar algum lugar para se abrigar ou continuar a sua jornada até o abrigo no meio da noite. A decisão foi essa, encontrar um abrigo e rezar para os zumbis não o acharem.
Ele começou a correr com o bastão ainda em mãos, seu coração disparou e adrenalina jorrou novamente em seu corpo. Ele não tinha tempo para ficar parado lutando contra zumbis, resolveu então apenas ir desviando de todos eles e buscar algum lugar para se abrigar. Depois de algum tempo correndo ele finalmente encontrou um lugar praticamente ideal para passar a noite: Uma pequena casa com garagem, e sim, ele preferiu usar a garagem e não a casa em si. Com movimentos rápidos ele chegou até o portão de ferro protegido com arame farpado e uma cerca elétrica possivelmente desligada, o portão devia ter cerca de três metros de altura e era totalmente fechado, não dando espaço para ver o que estava no interior. Os infectados aproximavam-se por trás e não havia tempo para bolar um plano muito bom para pular o muro sem se machucar, por conta disto Pedro subiu no batente do portão, guardou sua barra de ferro dentro da mochila e, usando as mãos agarrou a parte de cima do portão, suas mãos ficaram a poucos centímetros de atingir o arame farpado quando ele pulou, mas, por sorte não aconteceu nada. Usou de toda a força possível para subir o portão e evitar contato com a cerca e o arame, mas, sua única chance de subir o muro era pondo as mãos no arame para usar como apoio. Teve receio de fazê-lo, mas, no fim das contas era virar comida ou ferrar com as próprias mãos. Escolheu as mãos.
A primeira mão a ser ferroada com as agulhas afiadas do arame foi a esquerda, agarrando com força no arame, ele deve ter entrado no mínimo dois centímetros em sua pele. Seu sangue escorria pelo metal pontiagudo e era visível que o cheiro do seu sangue estava atiçando a fome dos infectados. Com dificuldade ele subiu por cima do muro e saltou, seus pés pareciam terem sido esmagados por um caminhão, as pernas queimavam por dentro e um choque subiu da ponta de seus pés até o topo da cabeça, fazendo arrepiar-se. Por um longo tempo foi possível ouvir os gritos de dor dele, seria fácil ouvir o grito agonizante dele por quilômetros, talvez os sobreviventes da resistência o tivessem ouvido.
A casa parecia estar vazia, mas, mesmo assim era melhor não arriscar. Dirigiu-se então ao portão da garagem e abriu-a, havia um carro ali dentro. Um polo Volkswagen com mala estendida prata. As chaves estavam penduradas em um porta chaves na parede esquerda da garagem, onde também era possível ver alguns quadros empoeirados e estantes guardando artefatos antigos. Seria uma noite desconfortável, mas nem tanto. Pegou as chaves do carro, abriu a porta do motorista e entrou lá dentro, ligou o carro rapidamente para conferir o combustível que tinha e averiguou que o tanque estava cheio. Desligou o carro. Foi em direção a mala do mesmo e deparou-se com dois galões de 10 litros cheios de combustível e mantimentos desde água até enlatados e salgadinhos. Aquilo era sinal positivo para a ideia de Pedro de manter o carro ligado a noite inteira para curtir, depois de 5 meses, a temperatura agradável que um ar condicionado pode prover. Enquanto ia em direção ao banco do motorista, Pedro encontrou um rolo de gaze na qual usou para enfaixar as duas mãos e parar o sangramento. Abriu a porta do carro e sentou no banco do motorista, ligou o carro o suficiente para que o ar condicionado ficasse ligado, sem ligar os faróis ou luzes do carro para economizar o máximo de combustível. Recostou o banco para trás até ficar num ângulo de 20° graus e logo começou a cochilar. Sua mente foi ficando cada vez mais devagar e sonolenta até chegar no ponto de inatividade total. Bons dias estavam por vir...
Última edição por Galileu em 19/12/2013, 13:43, editado 2 vez(es)