Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Última edição por Galileu em 28/7/2013, 12:57, editado 2 vez(es)
Spoiler :
Estava escuro.
Toda a cidade foi destruída, apesar de ser um dia ensolarado e o mesmo estar a pino, a extensa nuvem de poeira e gás encobre todo o céu. Não faz mais que dez minutos, tudo ocorreu muito rápido... Estava indo entregar um pedido do restaurante em que trabalhava quando vi aquele enorme cogumelo de fumaça se formando a uns trinta quilômetros de distância de mim, nunca fiquei parado observando as coisas e apenas continuei meu caminho até a casa do cliente. Enquanto o cogumelo se dissipava o transito ficava cada vez mais congestionado, a maioria das pessoas bloqueava qualquer passagem existente pois estavam todos saindo de seus carros para observar o ocorrido. Eu estava passando por uma ponte quando o pior aconteceu...
Tive que parar minha moto e lentamente tentar passar com ela no meio dos veículos e pessoas. A nuvem em forma de cogumelo já estava se dissipando e deixando cair uma poeira azulada como a cor do mar, eu não estava dando a mínima para aquilo e continuei meu percurso. Sabia que deveria ter pegado outra saída, mas, a ponte era a mais rápida. Quando finalmente conseguimos ver tudo dissipado e a nuvem que transformava o dia em noite sumiu, as pessoas voltaram a realidade como se acabassem de sair de um transe. Finalmente o trânsito começara a fluir.
Não foi necessário muito tempo para que eu saísse da ponte e, por sorte eu não morri. Alguns minutos se passaram depois que deixei a fronteira da ponte com a estrada e um bombardeio atingiu a mesma. Eu estava numa velocidade lenta, mas, a adrenalina disparou e eu acelerei o máximo que pude sem me importar com a entrega. Consegui sentir o calor das explosões da ponte atravessando minha jaqueta de couro e meu capacete, pelo retrovisor da moto eu vi um segundo cogumelo, um cogumelo em chamas. Estava tentando entender o que estava acontecendo, mas, minhas teorias mirabolantes só me desviavam a atenção dos obstáculos na rua. Fui pilotando a moto o mais rápido que pude, driblando veículos e pessoas que outra vez presenciavam a desgraça. Estava passando por uma cidade simples, a maioria das pessoas saiu na rua para averiguar os fatos e lá permaneceram até que o mesmo acontecesse as pessoas da ponte, sair daquele transe.
Comecei a desacelerar a moto para fazer uma curva, mas, eu fiz um cálculo errado e a moto derrapou o suficiente para que eu caísse. Não senti muita dor, o grande compartimento que usava para transportar os alimentos me protegeu, porém, a mesma foi jogada para fora das minhas costas na hora em que colidi no chão. Minha perna ficou presa na moto e tive que pedir ajuda para sair, tirei meu capacete para melhorar minha respiração e tentar puxar minha perna. O motor quente da moto queimava meu calcanhar e eu apenas conseguia ver as pessoas paradas, observando aquele mesmo cogumelo... Eu não entendia o que elas viam naquele cogumelo, a dor da carne queimando por culpa do motor da moto era forte, não conseguia me forçar a deixar minha cabeça erguida tentando puxar a minha perna, eu relaxei a cabeça e a deitei no asfalto. Fechei os olhos por um tempo e rangi os dentes, mas, uma hora eu os abri. Vi aquele cogumelo brotando do chão e entendi o que eles estavam apreciando, comecei a entrar em um transe também.
Não sei quanto tempo eu passei olhando para aquela coisa, era como se eu estivesse fora de mim e algo me deixasse anestesiado, paralisado. Eu não conseguia me mexer, não conseguia falar e praticamente não pensava, o motor queimava meu calcanhar, mas, eu não sentia nada. Foi quando a explosão começou a derrubar os prédios mais próximos dela que um homem aproximou-se de mim. Ele retirou a moto e me arrastou para dentro de uma casa. Os degraus da casa machucavam minhas costas, mas eu continuava em transe e não sentia nada. Todas as janelas e vidraças da casa estavam protegidas por uma película forte, eu conseguia enxergar as pessoas lá fora, paradas, submissas ao vislumbre da explosão. Fiquei sentado numa cadeira, o homem saiu da minha vista. Fiquei imóvel, paralisado, apenas sendo forçado a observar a rua em frente a casa.
Toda a cidade foi destruída, apesar de ser um dia ensolarado e o mesmo estar a pino, a extensa nuvem de poeira e gás encobre todo o céu. Não faz mais que dez minutos, tudo ocorreu muito rápido... Estava indo entregar um pedido do restaurante em que trabalhava quando vi aquele enorme cogumelo de fumaça se formando a uns trinta quilômetros de distância de mim, nunca fiquei parado observando as coisas e apenas continuei meu caminho até a casa do cliente. Enquanto o cogumelo se dissipava o transito ficava cada vez mais congestionado, a maioria das pessoas bloqueava qualquer passagem existente pois estavam todos saindo de seus carros para observar o ocorrido. Eu estava passando por uma ponte quando o pior aconteceu...
Tive que parar minha moto e lentamente tentar passar com ela no meio dos veículos e pessoas. A nuvem em forma de cogumelo já estava se dissipando e deixando cair uma poeira azulada como a cor do mar, eu não estava dando a mínima para aquilo e continuei meu percurso. Sabia que deveria ter pegado outra saída, mas, a ponte era a mais rápida. Quando finalmente conseguimos ver tudo dissipado e a nuvem que transformava o dia em noite sumiu, as pessoas voltaram a realidade como se acabassem de sair de um transe. Finalmente o trânsito começara a fluir.
Não foi necessário muito tempo para que eu saísse da ponte e, por sorte eu não morri. Alguns minutos se passaram depois que deixei a fronteira da ponte com a estrada e um bombardeio atingiu a mesma. Eu estava numa velocidade lenta, mas, a adrenalina disparou e eu acelerei o máximo que pude sem me importar com a entrega. Consegui sentir o calor das explosões da ponte atravessando minha jaqueta de couro e meu capacete, pelo retrovisor da moto eu vi um segundo cogumelo, um cogumelo em chamas. Estava tentando entender o que estava acontecendo, mas, minhas teorias mirabolantes só me desviavam a atenção dos obstáculos na rua. Fui pilotando a moto o mais rápido que pude, driblando veículos e pessoas que outra vez presenciavam a desgraça. Estava passando por uma cidade simples, a maioria das pessoas saiu na rua para averiguar os fatos e lá permaneceram até que o mesmo acontecesse as pessoas da ponte, sair daquele transe.
Comecei a desacelerar a moto para fazer uma curva, mas, eu fiz um cálculo errado e a moto derrapou o suficiente para que eu caísse. Não senti muita dor, o grande compartimento que usava para transportar os alimentos me protegeu, porém, a mesma foi jogada para fora das minhas costas na hora em que colidi no chão. Minha perna ficou presa na moto e tive que pedir ajuda para sair, tirei meu capacete para melhorar minha respiração e tentar puxar minha perna. O motor quente da moto queimava meu calcanhar e eu apenas conseguia ver as pessoas paradas, observando aquele mesmo cogumelo... Eu não entendia o que elas viam naquele cogumelo, a dor da carne queimando por culpa do motor da moto era forte, não conseguia me forçar a deixar minha cabeça erguida tentando puxar a minha perna, eu relaxei a cabeça e a deitei no asfalto. Fechei os olhos por um tempo e rangi os dentes, mas, uma hora eu os abri. Vi aquele cogumelo brotando do chão e entendi o que eles estavam apreciando, comecei a entrar em um transe também.
Não sei quanto tempo eu passei olhando para aquela coisa, era como se eu estivesse fora de mim e algo me deixasse anestesiado, paralisado. Eu não conseguia me mexer, não conseguia falar e praticamente não pensava, o motor queimava meu calcanhar, mas, eu não sentia nada. Foi quando a explosão começou a derrubar os prédios mais próximos dela que um homem aproximou-se de mim. Ele retirou a moto e me arrastou para dentro de uma casa. Os degraus da casa machucavam minhas costas, mas eu continuava em transe e não sentia nada. Todas as janelas e vidraças da casa estavam protegidas por uma película forte, eu conseguia enxergar as pessoas lá fora, paradas, submissas ao vislumbre da explosão. Fiquei sentado numa cadeira, o homem saiu da minha vista. Fiquei imóvel, paralisado, apenas sendo forçado a observar a rua em frente a casa.
Capítulo 2
Spoiler :
Minha cabeça e meu corpo doem. Consegui contar cinco quedas de energia até agora, o homem me retirou da cadeira ainda paralisado e me trancou dentro de um quarto. O quarto deve ter sido feito para hóspedes, uma escrivaninha, uma tv e uma cama. Ao lado da cama tem uma janela, estou observando a paisagem sendo destruída ao longe.
Consigo ver ao longe pela janela vários cogumelos pequenos, são muito menos potentes que os primeiros que vi e estão em maior quantidade. Aviões do exército passam dando rasantes e lançando mísseis que bombardeiam toda a cidade. Aquele homem amarrou minhas duas pernas nas duas pernas da cama com correntes e cadeados. Tenho mobilidade para chegar até a porta do quarto, mas, a partir desta parte não consigo avançar nem mais um passo. Por sorte os aviões ainda não atacaram esta área...
Desde que olhei aquele cogumelo tem algo diferente comigo, sinto que a vida ganhou sentidos diferentes... Eu preciso entender o que está acontecendo! O controle remoto da TV está ao meu lado, no chão... Pego-o e ligo a TV. O canal para num canal de notícias locais, estão falando sobre o ataque de aviões. A notícia mostrava filmagens amadoras dos caças explodindo tudo e das bombas.
Todo a área do litoral do país foi atingida por bombas! Não sabe-se ainda que tipo de bombas são, mas, a julgar pelo que estão fazendo são bombas nucleares. Em todo o país as pessoas estão saindo de suas casas e observando as explosões que podem ser vistas a centenas de quilômetros de distância. Estipula-se que cerca de 900.000 mil habitantes já foram mortos pelas bombas e pelas consequências geradas pela mesma. O governo ainda não se manifestou sobre o caso e nem sobre o real motivo de os aviões do exército brasileiro estarem atuando em missões para destruir as áreas afetadas pelas explosões. O governo apenas alerta que permaneçam em casa e não permitam que outros entrem na residência.
A notícia é triste, sinto que as consequências de tudo que está acontecendo ainda serão piores... Um clarão atinge minha visão periférica, viro lentamente minha cabeça e fecho os olhos o máximo que posso até que os meus olhos acostumem-se com a claridade. Uma das bombas lançadas pelo exército atingiu uma área muito próxima daqui, no centro. A televisão perde sinal, mas, não falta energia. Vou passando os canais e encontro um canal que mostra a bandeira do Brasil. A bandeira se esvai lentamente e dá lugar a um homem velho, bem vestido, de cabelos brancos, óculos, barba e bigode. Ele pigarreia um pouco e começa a falar.
Caros brasileiros e brasileiras... Nossa nação passa agora por momentos difíceis, nós estamos sofrendo com ataques não identificados e o nosso exército está tentando conter que qualquer possível ameaça biológica espalhe-se, este é o motivo para tantos caças do exército destruindo cidades afetadas pelas explosões. Nós recomendamos que vocês fiquem em casa, tranquem portas e janelas, e não permitam que outros entrem em sua residência. Qualquer contato com o exterior pode possibilitar em algo mais sério e possivelmente em agressões dos visitantes. Estamos trabalhando e fazendo o nosso melhor para impedir que qualquer desastre maior com nossa nação ocorra, queremos o melhor para nós, para todos nós. Obrigado, e que Deus os abençoe.
Outro anúncio, mas, por que não podemos ter contato com o mundo exterior? Se são bombas nucleares provavelmente vão jogar algum vírus na gente. Coço meu nariz e fecho os olhos por um tempo, não resisti e adormeci.
* * * *
Abro meus olhos devagar e percebo que está tudo silencioso, muito mais silencioso que antes. A energia acabou e os postes não ligaram, a lua está escondida por trás de nuvens e enxergo apenas o que está perto de algumas chamas. Existia uma loja na frente desta casa, mas, foi totalmente destruída. A chama ilumina a vidraça intacta da loja e mostra em sangue uma mensagem, está difícil ler pois o vermelho do sangue não está muito visível.
"A civilização acabou". É isso que está escrito na vidraça da loja, apenas esta parte da loja parece estar inteira, o que vejo do interior são corpos caídos, manequins, roupas derrubadas, folhas no chão e móveis derrubados. Por um breve momento consegui ver a fogueira ser ofuscada por uma figura estranha. Algumas pessoas estavam passando pela frente da fogueira, andavam juntas e não olhavam para nada, apenas andavam. Uma delas bateu na fogueira e sua perna direita começou a queimar em chamas, meus olhos arregalaram-se ao perceber que as chamas consumiam o corpo do ambulante e ela não demonstrava o menor sinal de dor. Continuou andando mais um pouco e então bateu na minha moto. Eu sabia que aquela combinação de fogo e gasolina não ia dar certo. No momento em que a pessoa caiu sobre a moto vi apenas uma poça escura no chão iluminar-se e logo atiçar fogo nos outros membros que compunham o grupo de ambulantes, não demorou muito para que a moto explodisse e levasse todo o grupo junto de si, mas, a explosão desencadeou duas coisas: Fogo para todos os lados e pessoas saindo de casa.
A quantidade de pessoas que saiam de dentro das casas era enorme, elas andavam como o grupo que foi queimado vivo e soltavam um gemido estranho, morto. Ouvi batidas na porta do quarto, permiti que entrasse quem fosse e vi o homem de antes. Pela primeira vez vi o homem por inteiro e sem estar vegetativo como antes. Era careca, tinha um cavanhaque e usava uma camisa marrom, calça jeans e um tênis esportivo preto. Segurava um bastão de ferro e entrou com cautela no quarto, não entendi o motivo para aquilo e apenas aguardei.
- O que está fazendo? - perguntei.
- Você está infectado? - respondeu com o bastão erguido protegendo-lhe.
- O quê? Infectado?!
- Não se faça de burro, você sabe! - ele ajeitou sua postura e ficou ereto. - A infecção, não está vendo aquele monte de gente lá fora? Estão todos infectados. - disse apontando para o grupo de pessoas que apenas pairavam na rua como estátuas.
- Mas, infectadas com o quê? - perguntei observando-o.
- Então você não sabe mesmo? - disse enquanto sentava-se numa cadeira que fazia conjunto a escrivaninha. - Você deve ter ligado a televisão e olhado o noticiário, não olhou?
- Sim, olhei, mas, foi agora a pouco.
- Mesmo assim, tudo que disseram não compõe a verdadeira gravidade do que está acontecendo lá fora. Em parte eles falaram a verdade sobre estarmos enfrentando uma grande dificuldade, sobre a bomba e sobre o exército, porém, está tudo muito escondido. - ele disse desencostando as costas da cadeira e inclinando-se para a frente. - Você já notou que as pessoas que estão lá fora não sentem nada? Percebeu que elas apenas andam e vagueiam pela cidade?
- Sim, agora a pouco uma pessoa começou a queimar e não estava sentindo nada. Bateu na minha moto e explodiu tudo.
- Exato. Estão todos infectados! Eu não sei o que é isso, mas, é como se virassem zumbis.
Por um momento pensei que ele estava ficando louco ou havia tomado alguma coisa errada, mas, depois de pensar um pouco notei que realmente eles eram zumbis. Não sentem dor, não pensam, não fazem nada a não ser comer humanos.
- Zumbis? Então quer dizer que se sairmos daqui eles tentaram nos comer vivos? - perguntei.
- Eu não sei, até agora não vi nada do tipo, até porque não vi nenhum sobrevivente depois que os caças do exército terminaram seu trabalho.
- Meu Deus...
- Não fale em Deus. Se Deus realmente existisse esse tipo de coisa não estaria acontecendo, que se exploda a bíblia e a religião!
- Calma! São nessas horas que temos mesmo que acreditar em algo, ter fé vai nos ajudar a sobreviver.
- Sobreviver? Eu não quero sobreviver sabendo que todos que eu conheço ou conhecia devem estar infectados e perambulando por aí procurando pessoas para comer!
- Mas, e se eles estiverem vivos?
- O que tem?
- Você tem que ter fé, acreditar que eles estão vivos.
- Não! Eu não acredito mais nesse tipo de coisa, não depois do que eu vi hoje.
- E o que você viu hoje?
- Minha mãe... - não tinha muita iluminação, mas, consegui ver que ele estava triste. - Eu tentei ligar para ela, ela disse que viria me visitar e ver se tudo estava bem, mas, quando ela chegou estava como aquelas coisas. - encerrou apontando para os zumbis lá fora e despencando em lágrimas.
Fiquei sem palavras na hora e não sabia o que fazer. Perder entes queridos não é fácil, a três anos perdi meu pai e a dois meses perdi minha mãe. Todos morreram de velhice. Quando minha mãe morreu minha namorada me trocou pelo meu irmão e minha irmã mudou de país num intercâmbio, foi para a Rússia.
- Esqueça... Apenas me responda se você está infectado. - enxugou as lágrimas.
- Não sei, como se pega a infecção?
- Eu não sei! Você se sente diferente?
Hesitei em responder sim pois era a verdade. Se eu dissesse que me sentia diferente, mudado, provavelmente ele me jogaria para fora de casa para ser comido vivo.
- Eu... Não, não.
Ele levantou o rosto e me observou, deve ter estranhado o tempo que levei para responder.
- Certo, procure descansar.
- Ei!
- O quê?
- Solte meus pés destas correntes!
- Ah, sim. As correntes... - ele tirou a chave do bolso e soltou os dois cadeados que prendiam as correntes na cama. - Tente descansar.
Ele saiu e fechou a porta, ouvi o barulho da porta sendo trancada e me senti completamente enganado. Fui libertado das correntes, mas, continuo preso neste quarto... Meus olhos estão pesados e o pequeno cochilo que tirei me deixou com mais sono, este é o meu primeiro dia dormindo com zumbis.
Consigo ver ao longe pela janela vários cogumelos pequenos, são muito menos potentes que os primeiros que vi e estão em maior quantidade. Aviões do exército passam dando rasantes e lançando mísseis que bombardeiam toda a cidade. Aquele homem amarrou minhas duas pernas nas duas pernas da cama com correntes e cadeados. Tenho mobilidade para chegar até a porta do quarto, mas, a partir desta parte não consigo avançar nem mais um passo. Por sorte os aviões ainda não atacaram esta área...
Desde que olhei aquele cogumelo tem algo diferente comigo, sinto que a vida ganhou sentidos diferentes... Eu preciso entender o que está acontecendo! O controle remoto da TV está ao meu lado, no chão... Pego-o e ligo a TV. O canal para num canal de notícias locais, estão falando sobre o ataque de aviões. A notícia mostrava filmagens amadoras dos caças explodindo tudo e das bombas.
Todo a área do litoral do país foi atingida por bombas! Não sabe-se ainda que tipo de bombas são, mas, a julgar pelo que estão fazendo são bombas nucleares. Em todo o país as pessoas estão saindo de suas casas e observando as explosões que podem ser vistas a centenas de quilômetros de distância. Estipula-se que cerca de 900.000 mil habitantes já foram mortos pelas bombas e pelas consequências geradas pela mesma. O governo ainda não se manifestou sobre o caso e nem sobre o real motivo de os aviões do exército brasileiro estarem atuando em missões para destruir as áreas afetadas pelas explosões. O governo apenas alerta que permaneçam em casa e não permitam que outros entrem na residência.
A notícia é triste, sinto que as consequências de tudo que está acontecendo ainda serão piores... Um clarão atinge minha visão periférica, viro lentamente minha cabeça e fecho os olhos o máximo que posso até que os meus olhos acostumem-se com a claridade. Uma das bombas lançadas pelo exército atingiu uma área muito próxima daqui, no centro. A televisão perde sinal, mas, não falta energia. Vou passando os canais e encontro um canal que mostra a bandeira do Brasil. A bandeira se esvai lentamente e dá lugar a um homem velho, bem vestido, de cabelos brancos, óculos, barba e bigode. Ele pigarreia um pouco e começa a falar.
Caros brasileiros e brasileiras... Nossa nação passa agora por momentos difíceis, nós estamos sofrendo com ataques não identificados e o nosso exército está tentando conter que qualquer possível ameaça biológica espalhe-se, este é o motivo para tantos caças do exército destruindo cidades afetadas pelas explosões. Nós recomendamos que vocês fiquem em casa, tranquem portas e janelas, e não permitam que outros entrem em sua residência. Qualquer contato com o exterior pode possibilitar em algo mais sério e possivelmente em agressões dos visitantes. Estamos trabalhando e fazendo o nosso melhor para impedir que qualquer desastre maior com nossa nação ocorra, queremos o melhor para nós, para todos nós. Obrigado, e que Deus os abençoe.
Outro anúncio, mas, por que não podemos ter contato com o mundo exterior? Se são bombas nucleares provavelmente vão jogar algum vírus na gente. Coço meu nariz e fecho os olhos por um tempo, não resisti e adormeci.
* * * *
Abro meus olhos devagar e percebo que está tudo silencioso, muito mais silencioso que antes. A energia acabou e os postes não ligaram, a lua está escondida por trás de nuvens e enxergo apenas o que está perto de algumas chamas. Existia uma loja na frente desta casa, mas, foi totalmente destruída. A chama ilumina a vidraça intacta da loja e mostra em sangue uma mensagem, está difícil ler pois o vermelho do sangue não está muito visível.
"A civilização acabou". É isso que está escrito na vidraça da loja, apenas esta parte da loja parece estar inteira, o que vejo do interior são corpos caídos, manequins, roupas derrubadas, folhas no chão e móveis derrubados. Por um breve momento consegui ver a fogueira ser ofuscada por uma figura estranha. Algumas pessoas estavam passando pela frente da fogueira, andavam juntas e não olhavam para nada, apenas andavam. Uma delas bateu na fogueira e sua perna direita começou a queimar em chamas, meus olhos arregalaram-se ao perceber que as chamas consumiam o corpo do ambulante e ela não demonstrava o menor sinal de dor. Continuou andando mais um pouco e então bateu na minha moto. Eu sabia que aquela combinação de fogo e gasolina não ia dar certo. No momento em que a pessoa caiu sobre a moto vi apenas uma poça escura no chão iluminar-se e logo atiçar fogo nos outros membros que compunham o grupo de ambulantes, não demorou muito para que a moto explodisse e levasse todo o grupo junto de si, mas, a explosão desencadeou duas coisas: Fogo para todos os lados e pessoas saindo de casa.
A quantidade de pessoas que saiam de dentro das casas era enorme, elas andavam como o grupo que foi queimado vivo e soltavam um gemido estranho, morto. Ouvi batidas na porta do quarto, permiti que entrasse quem fosse e vi o homem de antes. Pela primeira vez vi o homem por inteiro e sem estar vegetativo como antes. Era careca, tinha um cavanhaque e usava uma camisa marrom, calça jeans e um tênis esportivo preto. Segurava um bastão de ferro e entrou com cautela no quarto, não entendi o motivo para aquilo e apenas aguardei.
- O que está fazendo? - perguntei.
- Você está infectado? - respondeu com o bastão erguido protegendo-lhe.
- O quê? Infectado?!
- Não se faça de burro, você sabe! - ele ajeitou sua postura e ficou ereto. - A infecção, não está vendo aquele monte de gente lá fora? Estão todos infectados. - disse apontando para o grupo de pessoas que apenas pairavam na rua como estátuas.
- Mas, infectadas com o quê? - perguntei observando-o.
- Então você não sabe mesmo? - disse enquanto sentava-se numa cadeira que fazia conjunto a escrivaninha. - Você deve ter ligado a televisão e olhado o noticiário, não olhou?
- Sim, olhei, mas, foi agora a pouco.
- Mesmo assim, tudo que disseram não compõe a verdadeira gravidade do que está acontecendo lá fora. Em parte eles falaram a verdade sobre estarmos enfrentando uma grande dificuldade, sobre a bomba e sobre o exército, porém, está tudo muito escondido. - ele disse desencostando as costas da cadeira e inclinando-se para a frente. - Você já notou que as pessoas que estão lá fora não sentem nada? Percebeu que elas apenas andam e vagueiam pela cidade?
- Sim, agora a pouco uma pessoa começou a queimar e não estava sentindo nada. Bateu na minha moto e explodiu tudo.
- Exato. Estão todos infectados! Eu não sei o que é isso, mas, é como se virassem zumbis.
Por um momento pensei que ele estava ficando louco ou havia tomado alguma coisa errada, mas, depois de pensar um pouco notei que realmente eles eram zumbis. Não sentem dor, não pensam, não fazem nada a não ser comer humanos.
- Zumbis? Então quer dizer que se sairmos daqui eles tentaram nos comer vivos? - perguntei.
- Eu não sei, até agora não vi nada do tipo, até porque não vi nenhum sobrevivente depois que os caças do exército terminaram seu trabalho.
- Meu Deus...
- Não fale em Deus. Se Deus realmente existisse esse tipo de coisa não estaria acontecendo, que se exploda a bíblia e a religião!
- Calma! São nessas horas que temos mesmo que acreditar em algo, ter fé vai nos ajudar a sobreviver.
- Sobreviver? Eu não quero sobreviver sabendo que todos que eu conheço ou conhecia devem estar infectados e perambulando por aí procurando pessoas para comer!
- Mas, e se eles estiverem vivos?
- O que tem?
- Você tem que ter fé, acreditar que eles estão vivos.
- Não! Eu não acredito mais nesse tipo de coisa, não depois do que eu vi hoje.
- E o que você viu hoje?
- Minha mãe... - não tinha muita iluminação, mas, consegui ver que ele estava triste. - Eu tentei ligar para ela, ela disse que viria me visitar e ver se tudo estava bem, mas, quando ela chegou estava como aquelas coisas. - encerrou apontando para os zumbis lá fora e despencando em lágrimas.
Fiquei sem palavras na hora e não sabia o que fazer. Perder entes queridos não é fácil, a três anos perdi meu pai e a dois meses perdi minha mãe. Todos morreram de velhice. Quando minha mãe morreu minha namorada me trocou pelo meu irmão e minha irmã mudou de país num intercâmbio, foi para a Rússia.
- Esqueça... Apenas me responda se você está infectado. - enxugou as lágrimas.
- Não sei, como se pega a infecção?
- Eu não sei! Você se sente diferente?
Hesitei em responder sim pois era a verdade. Se eu dissesse que me sentia diferente, mudado, provavelmente ele me jogaria para fora de casa para ser comido vivo.
- Eu... Não, não.
Ele levantou o rosto e me observou, deve ter estranhado o tempo que levei para responder.
- Certo, procure descansar.
- Ei!
- O quê?
- Solte meus pés destas correntes!
- Ah, sim. As correntes... - ele tirou a chave do bolso e soltou os dois cadeados que prendiam as correntes na cama. - Tente descansar.
Ele saiu e fechou a porta, ouvi o barulho da porta sendo trancada e me senti completamente enganado. Fui libertado das correntes, mas, continuo preso neste quarto... Meus olhos estão pesados e o pequeno cochilo que tirei me deixou com mais sono, este é o meu primeiro dia dormindo com zumbis.
Capítulo 3
Spoiler :
Está frio. Meu corpo dói, sinto que fui pisoteado por uma manada de elefantes e a dor espalha-se das juntas para o resto do corpo. Lá fora chove descontroladamente, é algo que nunca vi nesta cidade... Uma tempestade. As gotas batem na janela e causam um barulho prazeroso que, em dias normais me fariam sentir o imenso prazer de ficar em casa relaxando com uma xícara de café e um bom livro para ler, o sopro frio da chuva abafa o vidro me impedindo de ver o mundo lá fora.
Meu cérebro começa a desligar-se com o doce som da chuva e o clima frio, sinto que o meu corpo se enfraquece cada vez mais e relaxa... Minha cabeça encosta sobre o travesseiro quente, puxo o lençol para cima de mim e fecho os olhos novamente. Durmo.
Uma explosão. Meus ouvidos zunem. Sento-me na cama de supetão e olho pela janela embaçada, abro-a rapidamente e procuro por sinais do que poderia ter gerado à explosão... Nada, tudo está calmo e a grande tempestade se transformou em uma leve garoa. Sinto um frio na espinha que me faz gelar até a alma, será que a casa foi invadida por essas coisas e o homem está tentando defendê-la? Não posso ficar escondido aqui sem saber o que está acontecendo.
Salto da cama em direção à porta e colido com a mesma com força, está trancada. Meu corpo dói, mas, o disparo de adrenalina no meu sangue me impede de sentir qualquer coisa por enquanto. O único jeito de sair é arrombando a porta e teria que ser a força. Com tudo que tinha investi na porta tentando derrubá-la, por vezes me joguei na porta em busca de apenas uma rachadura, um gemido sequer que pudesse indicar que o que eu estava fazendo estava resultando em alguma coisa, mas, não consegui nada... Absolutamente nada. Dez minutos se passaram e eu não havia conseguido quebrar a trinca da porta. Será que eu poderia arrombá-la usando a inteligência?
Procurei nas gavetas da escrivaninha, de baixo da cama e nada encontrei para arrombar a porta com look piking. Estava entrando em pânico, minha respiração ficou ofegante e meu coração disparava mais forte a cada segundo. Parei por um segundo para respirar e retomar o fôlego, olhei ao redor do quarto para procurar por algo que eu não tivesse visto antes e por sorte olhei para a TV. Antenas! Aquilo teria que servir como material para destrancar a porta manualmente.
Corri em direção à porta com duas antenas nas mãos e me pus de joelhos para abrir a tranca. Nunca havia feito aquilo na vida, mas, já havia visto em filmes clássicos os prisioneiros fazendo este tipo de coisa para fugir antes de serem mortos ou coisa parecida. Fiz o máximo que pude para abrir a porta e não conseguia absolutamente nenhuma resposta positiva. Me deixei levar pela raiva e me descontrolei, fiz todos os movimentos possíveis com as antenas e elas não abriam a tranca... Esmurrei a porta. Ouvi passos lentos e pesados que faziam a madeira do assoalho ranger, outro frio na espinha. Seriam os infectados? Eu estava preso ali e não poderia fugir nem me defender, minha única maneira era proteger a porta o máximo possível.
Arrastei a escrivaninha para à frente da porta e quebrei as duas antenas em quatro pedaços e coloquei na trinca o mais fundo possível, na hora me pareceu uma ideia genial para proteger a porta, mas logo vi que eu havia feito besteira... Me sentei na cama e aguardei. Recolhi-me o máximo possível e comecei a ouvir socos na porta. Eram batidas lentas e descompassadas, mas, pelo que eu podia ouvir não era apenas um batendo ali. Haviam outros.
Olhei pela janela novamente e vi a cena mais desesperadora que já havia visto em toda a minha vida. Nem mesmo as notícias mais infames de todas, nem mesmo a notícia de que minha mãe e meu pai morreram poderiam superar aquela visão. Era de gelar o sangue. Um aglomerado imenso de infectados ao redor da porta, todos bringando descontroladamente para entrar na casa. O que eles queriam aqui? Como sabiam que estávamos aqui!? Não havia jeito de fugir, não havia maneira de me proteger nem de contra-atacar as investidas dos ambulantes. Seria este o meu fim? Eu seria morto por essas coisas?
Senti meus olhos começarem a inchar, pareciam querer explodir e logo comecei a sentir lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu estava com medo.
- Pedro, vem cá! - gritou a menina.
- Que droga, Isa. Eu não quero brincar disso!
- Ah, vamos! Vai ser divertido... Ou você está com medo? - ela riu. - Medroso! Medroso!
- Eu não sou medroso! - gritou Pedro, frustrado e envergonhado.
- É sim! Um grande medroso. Você está chorando que nem uma garotinha!
- Não estou!
- Está sim.
- Não estou!
- Está!
- Não estou!
- Está sim e ponto final.
- Não estou. Eu sou corajoso que nem o meu pai, ele é bombeiro! Todo dia ele entra em lugares em chamas para salvar as pessoas, quando eu crescer eu vou ser que nem ele!
- Se você é tão corajoso assim então venha comigo. Vamos entrar naquela casa! Por que você está com medo de uma "casa mal assombrada"?
- Tá bom, eu vou!
Pedro inflou o peito e saiu em marcha com o queixo erguido para a casa que todos diziam ser mal assombrada. Isabella foi logo atrás dele, rindo. Os dois caminharam até darem de cara com o lugar. Era uma casa pertencente à uma rede de mini-mercados e aquele seria o próximo mercado, mas, as obras ainda não haviam iniciado e a casa ganhou o apelido de mal assombrada pois os antigos moradores da casa, um casal de idosos misteriosamente desapareceu dali sem nunca dar notícias. Logo as lendas e fofocas começaram a correr solta pela vizinhança até que chegaram aos ouvidos de Pedro e Isabella. O que eles ouviram foi: A casa é mal assombrada pois o casal de velhinhos que moravam lá foram mortos por um terrível assassino, mas, o assassino foi encurralado pela polícia na casa e foi morto lá. Dizem que o espírito dele perambula pela casa até hoje em busca de vingança contra os policiais e as suas famílias.
A casa estava se decompondo, os tijolos que compunham a fachada da casa estavam gastos e pareciam não aguentar nem sequer um soco de uma pessoa qualquer. A porta estava no chão, a madeira totalmente podre. O interior era ainda parecido com algo construído para se viver, mas, plantas e bichos já estavam tomando conta da propriedade.
Quando chegaram em frente à casa a coragem de Pedro desapareceu, suas pernas começaram a tremer, mesmo que ele tentasse com todas as suas forças conter esse medo. Isabella estava ansiosa, seus olhos brilhavam de curiosidade!
- Vamos, Pedro!
Ele engoliu em seco, seus dentes tremiam só de pensar em encontrar o tal assassino, mas ele não podia ser chamado de medrozo novamente e resolveu encarar seu medo! Ergueu a cabeça novamente e com um olhar determinado proferiu as palavras que deixariam Isabella com uma sensação estranha dali em diante por muito tempo.
- Então vamos, Isa! Eu estou com medo, mas vou encarar essa por você. Se você diz que vai ser legal, então eu vou junto! Somos amigos não somos? Amigos ficam perto sempre!
Os olhos dos dois brilharam e eles correram para dentro da casa.
- Por que eu fui me lembrar disso justo agora? Isabella... Onde será que você está? - olhei para o céu procurando respostas. - Eu não posso ser vencido pelo medo. Não posso ser chamado de medroso novamente! Vou sair daqui e vou achá-la! Essa é minha meta.
Levantei-me, senti uma força mental poderosa me fortalecendo e uma explosão maior ainda de adrenalina me fez sentir o maior prazer de todos! Precisava fugir dali, mas, pela porta eu não conseguiria. Minha única opção era sair pela janela, mas, como? Não havia material suficiente para fazer qualquer coisa que me fizesse chegar até lá embaixo.
Procurei novamente por todo o quarto e por fim minha única opção seria usar a roupa de cama para usar como corda e fugir. Amarrei uma ponta na perna da cama e comecei a dar nós na ponta de cada lençol para formar uma corda, no fim das contas consegui uma boa chance de escapar ileso, mas, a "corda" não era grande o suficiente e a distância em que ela me deixaria do chão era de uns dois ou três metros, se eu pulasse da maneira errada eu poderia torcer o tornozelo ou pior.
Sentei no rodapé da janela e me agarrei com toda à minha força aos lençois, enrolei minhas mãos neles e respirei fundo, o efeito da adrenalina estava passando e o nervosismo estava tomando conta de mim. Minhas mãos começaram a suar, meu coração entrou em uma disparada intensa e eu tremia. Os infectados estavam muito ocupados esbarrando uns nos outros para tentar entrar na casa, o barulho era ensurdecedor dali de fora. Estava aproximando-me da janela, aquilo poderia atiçar a curiosidade de algum infectado e ele poderia fazer uma horda inteira me perseguir. Continuei descendo como um montanhista até que alguns começaram a perceber minha presença, seria estranho se nenhum me notasse.
Aos poucos fui chegando cada vez mais próximo do chão e então o inevitável. Cheguei no fim da corda, era hora de pular... Alguns deles estavam se aglomerando ao meu redor, estava ficando sem tempo para sair dali. Já estavam três com suas mãos estendidas tentando me agarrar... Será que quando viraram aquelas coisas eles passaram a ser retardados? Como eles me alcançariam dali?
Comecei a procurar o local para pular e percebi que o único jeito seria pular atrás deles e isso iria me deixar em desvantagem para fugir, já que eles poderiam me pegar enquanto eu estivesse me levantando, mas era minha única opção. Executei o plano. Fui desenrolando as mãos do lençol e comecei a sentir que estava escorregando. Peguei impulso na parede e saltei... Senti que ia morrer naquele exato momento quando percebi a merda que eu estava fazendo, por que diabos eu pulei daquele jeito? Estava prestes a ficar frente à frente com aquelas coisas e se eu não tivesse um time perfeito seria o meu fim...
Cheguei no chão, dei uma cambalhota para evitar sofrer danos muito fortes nas pernas e comecei a correr o mais rápido que pude. Estava tudo bem até aí, mas, olhei para trás e percebi que eles estavam correndo atrás de mim.
- Mas o quê? - pensei. - Esses infelizes correm!? Desde quando?
Continuei correndo e usei de toda a minha força para tentar escapar deles, encontrei becos estreitos e comecei a entrar neles na esperança de que acontecesse o mesmo que com a porta da casa: Ficassem aglomerados e não conseguissem passar, mas eu estava errado... Eles me perseguiam para todos os lugares e por fim entrei em um beco sem saída. Uma grade de ferro me impedia de passar e os demônios corriam como maratonistas.
Uma ideia. Escalar a grade! Os buracos eram muito pequenos, mas, eu precisava tentar. Comecei a escalar, em alguns momentos a ponta dos meus tênis entravam fundo nos espaços que eu estava usando de suporte e ficavam presas lá e aquilo me atrasava, mas, estava conseguindo. Aos poucos fui chegando ao topo e consegui passar.
Gritei o mais forte que pude quando cheguei ao chão do outro lado da grade. Uma descarga de alívio percorreu meu corpo, senti uma felicidade enorme quando percebi que não estava morto. Acalmei-me e continuei a fugir, desta vez em um ritmo mais calmo. Corria tentando encontrar algum lugar para me abrigar, mas, onde seria seguro? Percebi que alguns outros infectados que não me perseguiam começaram a me ver e a me perseguir. Merda, estava sendo perseguido novamente!
Iniciei uma nova fuga e entrei em outro beco, desta vez um tão estreito que nem mesmo eu conseguia passar direito. Olhei para trás para ver se estavam vindo e quando virei o rosto novamente fui nocauteado.
Meu cérebro começa a desligar-se com o doce som da chuva e o clima frio, sinto que o meu corpo se enfraquece cada vez mais e relaxa... Minha cabeça encosta sobre o travesseiro quente, puxo o lençol para cima de mim e fecho os olhos novamente. Durmo.
* * * * *
Uma explosão. Meus ouvidos zunem. Sento-me na cama de supetão e olho pela janela embaçada, abro-a rapidamente e procuro por sinais do que poderia ter gerado à explosão... Nada, tudo está calmo e a grande tempestade se transformou em uma leve garoa. Sinto um frio na espinha que me faz gelar até a alma, será que a casa foi invadida por essas coisas e o homem está tentando defendê-la? Não posso ficar escondido aqui sem saber o que está acontecendo.
Salto da cama em direção à porta e colido com a mesma com força, está trancada. Meu corpo dói, mas, o disparo de adrenalina no meu sangue me impede de sentir qualquer coisa por enquanto. O único jeito de sair é arrombando a porta e teria que ser a força. Com tudo que tinha investi na porta tentando derrubá-la, por vezes me joguei na porta em busca de apenas uma rachadura, um gemido sequer que pudesse indicar que o que eu estava fazendo estava resultando em alguma coisa, mas, não consegui nada... Absolutamente nada. Dez minutos se passaram e eu não havia conseguido quebrar a trinca da porta. Será que eu poderia arrombá-la usando a inteligência?
Procurei nas gavetas da escrivaninha, de baixo da cama e nada encontrei para arrombar a porta com look piking. Estava entrando em pânico, minha respiração ficou ofegante e meu coração disparava mais forte a cada segundo. Parei por um segundo para respirar e retomar o fôlego, olhei ao redor do quarto para procurar por algo que eu não tivesse visto antes e por sorte olhei para a TV. Antenas! Aquilo teria que servir como material para destrancar a porta manualmente.
Corri em direção à porta com duas antenas nas mãos e me pus de joelhos para abrir a tranca. Nunca havia feito aquilo na vida, mas, já havia visto em filmes clássicos os prisioneiros fazendo este tipo de coisa para fugir antes de serem mortos ou coisa parecida. Fiz o máximo que pude para abrir a porta e não conseguia absolutamente nenhuma resposta positiva. Me deixei levar pela raiva e me descontrolei, fiz todos os movimentos possíveis com as antenas e elas não abriam a tranca... Esmurrei a porta. Ouvi passos lentos e pesados que faziam a madeira do assoalho ranger, outro frio na espinha. Seriam os infectados? Eu estava preso ali e não poderia fugir nem me defender, minha única maneira era proteger a porta o máximo possível.
Arrastei a escrivaninha para à frente da porta e quebrei as duas antenas em quatro pedaços e coloquei na trinca o mais fundo possível, na hora me pareceu uma ideia genial para proteger a porta, mas logo vi que eu havia feito besteira... Me sentei na cama e aguardei. Recolhi-me o máximo possível e comecei a ouvir socos na porta. Eram batidas lentas e descompassadas, mas, pelo que eu podia ouvir não era apenas um batendo ali. Haviam outros.
Olhei pela janela novamente e vi a cena mais desesperadora que já havia visto em toda a minha vida. Nem mesmo as notícias mais infames de todas, nem mesmo a notícia de que minha mãe e meu pai morreram poderiam superar aquela visão. Era de gelar o sangue. Um aglomerado imenso de infectados ao redor da porta, todos bringando descontroladamente para entrar na casa. O que eles queriam aqui? Como sabiam que estávamos aqui!? Não havia jeito de fugir, não havia maneira de me proteger nem de contra-atacar as investidas dos ambulantes. Seria este o meu fim? Eu seria morto por essas coisas?
Senti meus olhos começarem a inchar, pareciam querer explodir e logo comecei a sentir lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu estava com medo.
* * * * *
- Pedro, vem cá! - gritou a menina.
- Que droga, Isa. Eu não quero brincar disso!
- Ah, vamos! Vai ser divertido... Ou você está com medo? - ela riu. - Medroso! Medroso!
- Eu não sou medroso! - gritou Pedro, frustrado e envergonhado.
- É sim! Um grande medroso. Você está chorando que nem uma garotinha!
- Não estou!
- Está sim.
- Não estou!
- Está!
- Não estou!
- Está sim e ponto final.
- Não estou. Eu sou corajoso que nem o meu pai, ele é bombeiro! Todo dia ele entra em lugares em chamas para salvar as pessoas, quando eu crescer eu vou ser que nem ele!
- Se você é tão corajoso assim então venha comigo. Vamos entrar naquela casa! Por que você está com medo de uma "casa mal assombrada"?
- Tá bom, eu vou!
Pedro inflou o peito e saiu em marcha com o queixo erguido para a casa que todos diziam ser mal assombrada. Isabella foi logo atrás dele, rindo. Os dois caminharam até darem de cara com o lugar. Era uma casa pertencente à uma rede de mini-mercados e aquele seria o próximo mercado, mas, as obras ainda não haviam iniciado e a casa ganhou o apelido de mal assombrada pois os antigos moradores da casa, um casal de idosos misteriosamente desapareceu dali sem nunca dar notícias. Logo as lendas e fofocas começaram a correr solta pela vizinhança até que chegaram aos ouvidos de Pedro e Isabella. O que eles ouviram foi: A casa é mal assombrada pois o casal de velhinhos que moravam lá foram mortos por um terrível assassino, mas, o assassino foi encurralado pela polícia na casa e foi morto lá. Dizem que o espírito dele perambula pela casa até hoje em busca de vingança contra os policiais e as suas famílias.
A casa estava se decompondo, os tijolos que compunham a fachada da casa estavam gastos e pareciam não aguentar nem sequer um soco de uma pessoa qualquer. A porta estava no chão, a madeira totalmente podre. O interior era ainda parecido com algo construído para se viver, mas, plantas e bichos já estavam tomando conta da propriedade.
Quando chegaram em frente à casa a coragem de Pedro desapareceu, suas pernas começaram a tremer, mesmo que ele tentasse com todas as suas forças conter esse medo. Isabella estava ansiosa, seus olhos brilhavam de curiosidade!
- Vamos, Pedro!
Ele engoliu em seco, seus dentes tremiam só de pensar em encontrar o tal assassino, mas ele não podia ser chamado de medrozo novamente e resolveu encarar seu medo! Ergueu a cabeça novamente e com um olhar determinado proferiu as palavras que deixariam Isabella com uma sensação estranha dali em diante por muito tempo.
- Então vamos, Isa! Eu estou com medo, mas vou encarar essa por você. Se você diz que vai ser legal, então eu vou junto! Somos amigos não somos? Amigos ficam perto sempre!
Os olhos dos dois brilharam e eles correram para dentro da casa.
* * * * *
- Por que eu fui me lembrar disso justo agora? Isabella... Onde será que você está? - olhei para o céu procurando respostas. - Eu não posso ser vencido pelo medo. Não posso ser chamado de medroso novamente! Vou sair daqui e vou achá-la! Essa é minha meta.
Levantei-me, senti uma força mental poderosa me fortalecendo e uma explosão maior ainda de adrenalina me fez sentir o maior prazer de todos! Precisava fugir dali, mas, pela porta eu não conseguiria. Minha única opção era sair pela janela, mas, como? Não havia material suficiente para fazer qualquer coisa que me fizesse chegar até lá embaixo.
Procurei novamente por todo o quarto e por fim minha única opção seria usar a roupa de cama para usar como corda e fugir. Amarrei uma ponta na perna da cama e comecei a dar nós na ponta de cada lençol para formar uma corda, no fim das contas consegui uma boa chance de escapar ileso, mas, a "corda" não era grande o suficiente e a distância em que ela me deixaria do chão era de uns dois ou três metros, se eu pulasse da maneira errada eu poderia torcer o tornozelo ou pior.
Sentei no rodapé da janela e me agarrei com toda à minha força aos lençois, enrolei minhas mãos neles e respirei fundo, o efeito da adrenalina estava passando e o nervosismo estava tomando conta de mim. Minhas mãos começaram a suar, meu coração entrou em uma disparada intensa e eu tremia. Os infectados estavam muito ocupados esbarrando uns nos outros para tentar entrar na casa, o barulho era ensurdecedor dali de fora. Estava aproximando-me da janela, aquilo poderia atiçar a curiosidade de algum infectado e ele poderia fazer uma horda inteira me perseguir. Continuei descendo como um montanhista até que alguns começaram a perceber minha presença, seria estranho se nenhum me notasse.
Aos poucos fui chegando cada vez mais próximo do chão e então o inevitável. Cheguei no fim da corda, era hora de pular... Alguns deles estavam se aglomerando ao meu redor, estava ficando sem tempo para sair dali. Já estavam três com suas mãos estendidas tentando me agarrar... Será que quando viraram aquelas coisas eles passaram a ser retardados? Como eles me alcançariam dali?
Comecei a procurar o local para pular e percebi que o único jeito seria pular atrás deles e isso iria me deixar em desvantagem para fugir, já que eles poderiam me pegar enquanto eu estivesse me levantando, mas era minha única opção. Executei o plano. Fui desenrolando as mãos do lençol e comecei a sentir que estava escorregando. Peguei impulso na parede e saltei... Senti que ia morrer naquele exato momento quando percebi a merda que eu estava fazendo, por que diabos eu pulei daquele jeito? Estava prestes a ficar frente à frente com aquelas coisas e se eu não tivesse um time perfeito seria o meu fim...
Cheguei no chão, dei uma cambalhota para evitar sofrer danos muito fortes nas pernas e comecei a correr o mais rápido que pude. Estava tudo bem até aí, mas, olhei para trás e percebi que eles estavam correndo atrás de mim.
- Mas o quê? - pensei. - Esses infelizes correm!? Desde quando?
Continuei correndo e usei de toda a minha força para tentar escapar deles, encontrei becos estreitos e comecei a entrar neles na esperança de que acontecesse o mesmo que com a porta da casa: Ficassem aglomerados e não conseguissem passar, mas eu estava errado... Eles me perseguiam para todos os lugares e por fim entrei em um beco sem saída. Uma grade de ferro me impedia de passar e os demônios corriam como maratonistas.
Uma ideia. Escalar a grade! Os buracos eram muito pequenos, mas, eu precisava tentar. Comecei a escalar, em alguns momentos a ponta dos meus tênis entravam fundo nos espaços que eu estava usando de suporte e ficavam presas lá e aquilo me atrasava, mas, estava conseguindo. Aos poucos fui chegando ao topo e consegui passar.
Gritei o mais forte que pude quando cheguei ao chão do outro lado da grade. Uma descarga de alívio percorreu meu corpo, senti uma felicidade enorme quando percebi que não estava morto. Acalmei-me e continuei a fugir, desta vez em um ritmo mais calmo. Corria tentando encontrar algum lugar para me abrigar, mas, onde seria seguro? Percebi que alguns outros infectados que não me perseguiam começaram a me ver e a me perseguir. Merda, estava sendo perseguido novamente!
Iniciei uma nova fuga e entrei em outro beco, desta vez um tão estreito que nem mesmo eu conseguia passar direito. Olhei para trás para ver se estavam vindo e quando virei o rosto novamente fui nocauteado.
Última edição por Galileu em 28/7/2013, 12:57, editado 2 vez(es)