Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Última edição por Galileu em 3/8/2013, 18:02, editado 5 vez(es)
Spoiler :
"[...] A noite é o terror. O dia é a esperança. Está de noite... É hora das criaturas alimentarem-se do que resta da humanidade e de quaisquer outros animais."
Cortez fechou seu pequeno caderno no qual ele esperava futuramente tornar-se um registro de como fora o apocalipse, desde o Dia Z até o seu último dia - ou enquanto alguém o escrevesse -. A cabana onde, Cortez abrigava-se daquela que seria uma das noites mais intensas de sua vida pós-apocalíptica, era uma simples fazenda no meio do nada. Uma cabana solitária, com plantações na parte de trás, porém que a muito haviam morrido e secado. A casa não estava nas melhores condições: faltavam telhas, anteriormente arrancadas por ventos de alta velocidade, janelas esburacadas por mãos cadavéricas e rombos enormes que outrora foram de uma arma poderosa de um homem que tentava defender sua casa e sua família. O chão, rangente e simples estava desgastando-se mais rápido do que deveria, provavelmente pela falta de cuidados humanos daquela que no início da construção da casa deveria ser uma bela madeira. Não existia fonte de energia neste lugar e, por isso Cortez estava em um completo breu, iluminado apenas pela pouca luz da lua que rastejava pelos pequenos espaços no telhado, tornando o cenário mais macabro do que deveria.
Cortez possuía um grupo, praticamente dizimado enquanto tentavam tomar uma área maior do que eles poderiam para tentar começar uma nova vida, cheia de "paz e prosperidade", mas, nem tudo é o que poderia ser... Logo na primeira tentativa seu grupo foi exterminado, sobrevivendo apenas Cortez, Túlio, seu grande amigo de infância que agora o ajudava nas mais complicadas situações e Daniele, a paixão de Cortez desde o colégio, antes mesmo de eles imaginarem um dia serem o que são hoje. Daniele era uma das garotas mais populares de sua classe e de parte do colégio no qual os três estudavam quando crianças, mas, ela escondia sua real personalidade debaixo de tanto pó de arroz e roupas caras. Ela era uma fanática por zumbis, adorava escutar o bom e velho Rock 'n' Roll e vivia de jogar RPGs onlines. Apesar de tudo, Daniele tinha uma vida social ativa e um currículo escolar perfeito. Abarrotado de notas 10. Era a garota que todos os garotos desejam namorar, mas, que nunca conseguiam... Mesmo que sua beleza ofuscasse sua real aparência, ela nunca deixou de ser a bela moça que fora antes do Dia Z. Os mesmos cabelos castanhos, lisos e longos que se estendiam até seus ombros, seu rosto perfeito, olhos castanhos, lábios carnudos e um corpo atlético desenvolvido por meses de esforço físico em academias, trilhas e desafios incríveis que fariam qualquer menina mimada chorar de desespero.
Túlio nunca fora o maior atleta, jogava no time de futebol do seu colégio e as vezes praticava corrida de bicicletas com seus colegas de apartamento, mas, mesmo com todo este esforço, Túlio não possuía o corpo atlético que deveria ter. Ele não tinha um peitoral definido, nem braços musculosos, muito menos pernas poderosas. Ele era um jovem que cuidava de sua saúde, mas, não exercitava-se ao ponto de ganhar massa muscular suficiente para ter a aparência que tantos desejavam antes do apocalipse, menos ele. Apesar de todos acharem que, Túlio era um garanhão das mulheres, ele apenas sabia como tratá-las bem e, logo elas ficavam apaixonadas pela sua simpatia e humildade. Infelizmente nenhuma destas garotas jamais conseguiria nem sequer um beijo deste rapaz. O fato de Túlio ser tão delicado com as moças era que ele omitia seu verdadeiro eu, sua real preferência sexual: A homossexualidade.
Cortez não demonstrava sentimentos, ele queria passar toda sua vida abaixo do radar, mas, fazia de tudo para chamar a atenção de Daniele, e isso o levou a vários constrangimentos que o tornaram cada vez mais frio e analítico no que fazia. As pessoas começaram a chamá-lo de retardado e lerdo após certo tempo, pois o coração de Cortez havia sido tão esmagado por Daniele e pelos outros que logo ele começou a calcular e analisar por vários minutos o que iria dizer após receber uma pergunta, mas, ao contrário de o chamarem de "Cortez, O Pensador" como ele queria, foi chamado de "Cortez, o lesado". Quando o apelido realmente pegou e todos do colégio, até os que não o conheciam começaram a chamá-lo disto, Cortez tornou-se uma rocha dura e fria que protegia um frágil coração despedaçado pelas dores de uma paixão mal correspondida. Sua aparência mudou, sua forma de falar mudou, tudo mudou depois daquele dia sombrio.
- Túlio, há dois contaminados lá fora. De-me a pistola. - pediu, Cortez observando atento os dois contaminados que batiam de forma demente um no outro.
- Aqui. - estendeu a mão o rapaz, entregando-lhe uma pistola 9mm.
Cortez operou em silêncio, tentando fazer a menor quantidade de ruídos possíveis para não acordar Daniele. Os tiros foram suaves e rápidos, emitiram apenas dois sons agudos e rápidos que ecoaram pela casa lentamente. Uma fumaça quase invisível passeou pelo cano da arma e saiu pelo seu orifício. Os dois zumbis caíram falecidos no chão. Um com um tiro no seu pescoço, atingindo quase de raspão e o outro com um tiro na orelha. A arma foi entregue novamente a Túlio que guardou-a dentro de uma mochila grande, capaz de carregar uma escopeta dentro.
- Já percebeu que a cada dia que passamos aqui o número de infectados que aparecem vai aumentando? - perguntou Túlio sentando-se a mesa e bebendo um pouco de água que restava da ante-penúltima garrafa d'água de seus mantimentos.
- Sim. Isto me preocupa, creio que se ficarmos muito tempo aqui em breve seremos visitados por essas coisas em números gigantes. Se isso acontecer, estaremos mortos. - respondeu, juntando-se a mesa com seu colega.
Os dois ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas quietos, observando a escuridão e, de vez em quando fitando um ao outro.
Apesar de Cortez ser o melhor amigo de Túlio há mais de 20 anos, Túlio nunca havia contado-lhe da sua homossexualidade. Cortez sempre fora um homem compreensível, mas, tinha certos preconceitos em relação a isso. Túlio fizera uma ótima atuação por todos estes anos, não deixando qualquer pista, qualquer aparência ou demonstração de quem ele realmente era. Um tinha vergonha e imaginava que se contasse para seu amigo, ele o rejeitaria como um bastardo rejeitado pelo pai; já Cortez pensava que todas as histórias engraçadas e um pouco constrangedoras sobre as namoradas de Túlio eram reais e isto sempre o forneceu comodidade.
- O que vocês estão fazendo aí? - perguntou Daniele, sonolenta, tentando fazer seus olhos acostumarem-se com a nova luminosidade que lhe era fornecida.
- Nada. - responderam os dois em coro olhando-a com o rabo do olho.
- Hum... Vocês não vão dormir? - perguntou apontando para as duas outras camas que estavam encostadas nas outras paredes.
- Nós estamos vigiando a fazenda, agora a pouco encontramos dois... - Túlio parou de falar quando viu o olhar sinistro e ameaçador de Cortez, mandando-o calar a boca e apenas ficar quieto.
- Encontraram dois o quê? - perguntou com a voz nervosa e um pouco amedrontada.
- Não encontramos nada. - respondeu, Cortez, terminando a conversa que havia se iniciado da maneira que ele não desejara.
Daniele observou-o por um tempo, tentando lembrar de como era o antigo Cortez. Ela nunca admitiu e sempre tentou rejeitá-lo, na esperança de que ele encontrasse alguma garota que não tivesse tantos problemas como ela, mas, Daniele sempre fora apaixonada por Cortez, mas, depois de tanta humilhação que o homem havia sofrido, seu coração estava tornando-se uma casca oca, sem amor ou qualquer outro sentimento além da raiva, ódio e vingança. Ela lembrava-se das festas de aniversário aos dez anos, suas reuniões para fazer trabalhos escolares e os encontros aleatórios que os dois tinham quando iam a piscina do condomínio em que moravam. Sempre olhavam-se com olhares apaixonados, trocando beijos e abraços mentais, na forte esperança de que aquilo um dia torna-se realidade. Com o tempo essas memórias foram ficando apagadas em suas memórias, mas, agora elas estavam ativas e com ainda mais força. Depois do Dia Z, os dois amantes secretos começaram a conversar um pouco mais e tornaram-se mais íntimos, apesar de ainda não serem o que as pessoas chamariam de casal apaixonado.
Seus pensamentos renderam-lhe longos minutos de uma incrível sensação de paz e tristeza. Seu desejo neste momento era que Cortez voltasse a ser o que era, voltasse a ser aquele garoto piadista e educado, sonhador e inspirador, um líder nato e com certeza um amante nato. Ela sabia que aquilo poderia jamais acontecer, mas, buscou conforto em seus pensamentos e logo voltou a dormir.
- Cortez... - parou e tentou reformular a frase que havia imaginado em sua cabeça. - Você já viu como ela olha para você? Você nunca percebeu que ela é apaixonada por você desde a 8° série? - ele ficou observando as feições de Cortez por um tempo, tentando descobrir o que ele estava pensando, mas, concluiu que só aquilo não ia bastar, e continuou. - Eu sei que você ainda a ama, vejo isso nos seus olhos e nos dela. Vocês dois se amam desde pequenos. Eu sei disso.
Cortez foi bombardeado com lembranças apaixonantes e incríveis dos momentos felizes e ingênuos que vivera com sua amada. Momentos que ele sabia que jamais voltariam. Em meio a tantos pensamentos outros começaram a aparecer, mas, esses trouxeram as consequências de sua paixão e trouxeram a tona o por quê de todas aquelas coisas não voltarem a acontecer.
- Eu... - Cortez tentou iniciar uma resposta. Enquanto ele tentava falar, seu coração acelerava cada vez mais, sua mente parecia ficar mais e mais confusa e seu estômago parecia embrulhado, mas, apesar de tudo era uma sensação boa. Uma sensação que ele não sentia a vários anos. Daniele também sentia isso, ela estava acordada quando os dois começaram a conversar, apesar de fazer o mínimo de movimentos esperando a confirmação de tudo que ela achava que ele sentia por ela.
- Vai, fala... Diz o que você sente por mim. - Daniele usou todas as forças que tinha para tentar enviar um sinal telepático para Cortez.
Cortez viu Daniele contorcendo-se lentamente, tentando virar-se para o lado em que os dois amigos estavam sentados. Ele sabia o que aquilo significava: Daniele estava acordada.
Ele sabia que se contasse o que sentia, seria novamente atormentado por possíveis lembranças do seu passado e ainda pior, novas lembranças que o atormentariam para sempre se ele se declarasse para sua amada e logo em seguida a perde-se novamente. Com confiança e tristeza, ele pronunciou:
- Eu não sinto nada por ela. Tudo que fiz no passado, achando que realmente a amava havia sido apenas uma ilusão, um erro. O que fiz naquela época foi a pior coisa que já fiz na minha vida. Aquilo me atormentou por um bom tempo, mas, agora eu superei isso e não quero mais saber dela. - uma dor agonizante tomou conta de Cortez, que de relance viu o rosto de Daniele mudarem de um tom calmo e pacífico, para um triste e arrependido.
Daniele sentira como se um punhal fervente tivesse penetrado seu coração, a dor que sentiu, a vontade de jogar-se em lágrimas era enorme e tornava-se mais forte, mas, ela soube se controlar. Sabia que no fundo, Cortez ainda gostava dela. Foi com isso que ela encontrou conforto e virou-se a sua antiga posição, de cara com a parede. Ela dormiu, desta vez sem pensar em nada além da frase que a fez sentir tanta dor.
Cortez fechou seu pequeno caderno no qual ele esperava futuramente tornar-se um registro de como fora o apocalipse, desde o Dia Z até o seu último dia - ou enquanto alguém o escrevesse -. A cabana onde, Cortez abrigava-se daquela que seria uma das noites mais intensas de sua vida pós-apocalíptica, era uma simples fazenda no meio do nada. Uma cabana solitária, com plantações na parte de trás, porém que a muito haviam morrido e secado. A casa não estava nas melhores condições: faltavam telhas, anteriormente arrancadas por ventos de alta velocidade, janelas esburacadas por mãos cadavéricas e rombos enormes que outrora foram de uma arma poderosa de um homem que tentava defender sua casa e sua família. O chão, rangente e simples estava desgastando-se mais rápido do que deveria, provavelmente pela falta de cuidados humanos daquela que no início da construção da casa deveria ser uma bela madeira. Não existia fonte de energia neste lugar e, por isso Cortez estava em um completo breu, iluminado apenas pela pouca luz da lua que rastejava pelos pequenos espaços no telhado, tornando o cenário mais macabro do que deveria.
Cortez possuía um grupo, praticamente dizimado enquanto tentavam tomar uma área maior do que eles poderiam para tentar começar uma nova vida, cheia de "paz e prosperidade", mas, nem tudo é o que poderia ser... Logo na primeira tentativa seu grupo foi exterminado, sobrevivendo apenas Cortez, Túlio, seu grande amigo de infância que agora o ajudava nas mais complicadas situações e Daniele, a paixão de Cortez desde o colégio, antes mesmo de eles imaginarem um dia serem o que são hoje. Daniele era uma das garotas mais populares de sua classe e de parte do colégio no qual os três estudavam quando crianças, mas, ela escondia sua real personalidade debaixo de tanto pó de arroz e roupas caras. Ela era uma fanática por zumbis, adorava escutar o bom e velho Rock 'n' Roll e vivia de jogar RPGs onlines. Apesar de tudo, Daniele tinha uma vida social ativa e um currículo escolar perfeito. Abarrotado de notas 10. Era a garota que todos os garotos desejam namorar, mas, que nunca conseguiam... Mesmo que sua beleza ofuscasse sua real aparência, ela nunca deixou de ser a bela moça que fora antes do Dia Z. Os mesmos cabelos castanhos, lisos e longos que se estendiam até seus ombros, seu rosto perfeito, olhos castanhos, lábios carnudos e um corpo atlético desenvolvido por meses de esforço físico em academias, trilhas e desafios incríveis que fariam qualquer menina mimada chorar de desespero.
Túlio nunca fora o maior atleta, jogava no time de futebol do seu colégio e as vezes praticava corrida de bicicletas com seus colegas de apartamento, mas, mesmo com todo este esforço, Túlio não possuía o corpo atlético que deveria ter. Ele não tinha um peitoral definido, nem braços musculosos, muito menos pernas poderosas. Ele era um jovem que cuidava de sua saúde, mas, não exercitava-se ao ponto de ganhar massa muscular suficiente para ter a aparência que tantos desejavam antes do apocalipse, menos ele. Apesar de todos acharem que, Túlio era um garanhão das mulheres, ele apenas sabia como tratá-las bem e, logo elas ficavam apaixonadas pela sua simpatia e humildade. Infelizmente nenhuma destas garotas jamais conseguiria nem sequer um beijo deste rapaz. O fato de Túlio ser tão delicado com as moças era que ele omitia seu verdadeiro eu, sua real preferência sexual: A homossexualidade.
Cortez não demonstrava sentimentos, ele queria passar toda sua vida abaixo do radar, mas, fazia de tudo para chamar a atenção de Daniele, e isso o levou a vários constrangimentos que o tornaram cada vez mais frio e analítico no que fazia. As pessoas começaram a chamá-lo de retardado e lerdo após certo tempo, pois o coração de Cortez havia sido tão esmagado por Daniele e pelos outros que logo ele começou a calcular e analisar por vários minutos o que iria dizer após receber uma pergunta, mas, ao contrário de o chamarem de "Cortez, O Pensador" como ele queria, foi chamado de "Cortez, o lesado". Quando o apelido realmente pegou e todos do colégio, até os que não o conheciam começaram a chamá-lo disto, Cortez tornou-se uma rocha dura e fria que protegia um frágil coração despedaçado pelas dores de uma paixão mal correspondida. Sua aparência mudou, sua forma de falar mudou, tudo mudou depois daquele dia sombrio.
- Túlio, há dois contaminados lá fora. De-me a pistola. - pediu, Cortez observando atento os dois contaminados que batiam de forma demente um no outro.
- Aqui. - estendeu a mão o rapaz, entregando-lhe uma pistola 9mm.
Cortez operou em silêncio, tentando fazer a menor quantidade de ruídos possíveis para não acordar Daniele. Os tiros foram suaves e rápidos, emitiram apenas dois sons agudos e rápidos que ecoaram pela casa lentamente. Uma fumaça quase invisível passeou pelo cano da arma e saiu pelo seu orifício. Os dois zumbis caíram falecidos no chão. Um com um tiro no seu pescoço, atingindo quase de raspão e o outro com um tiro na orelha. A arma foi entregue novamente a Túlio que guardou-a dentro de uma mochila grande, capaz de carregar uma escopeta dentro.
- Já percebeu que a cada dia que passamos aqui o número de infectados que aparecem vai aumentando? - perguntou Túlio sentando-se a mesa e bebendo um pouco de água que restava da ante-penúltima garrafa d'água de seus mantimentos.
- Sim. Isto me preocupa, creio que se ficarmos muito tempo aqui em breve seremos visitados por essas coisas em números gigantes. Se isso acontecer, estaremos mortos. - respondeu, juntando-se a mesa com seu colega.
Os dois ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas quietos, observando a escuridão e, de vez em quando fitando um ao outro.
Apesar de Cortez ser o melhor amigo de Túlio há mais de 20 anos, Túlio nunca havia contado-lhe da sua homossexualidade. Cortez sempre fora um homem compreensível, mas, tinha certos preconceitos em relação a isso. Túlio fizera uma ótima atuação por todos estes anos, não deixando qualquer pista, qualquer aparência ou demonstração de quem ele realmente era. Um tinha vergonha e imaginava que se contasse para seu amigo, ele o rejeitaria como um bastardo rejeitado pelo pai; já Cortez pensava que todas as histórias engraçadas e um pouco constrangedoras sobre as namoradas de Túlio eram reais e isto sempre o forneceu comodidade.
- O que vocês estão fazendo aí? - perguntou Daniele, sonolenta, tentando fazer seus olhos acostumarem-se com a nova luminosidade que lhe era fornecida.
- Nada. - responderam os dois em coro olhando-a com o rabo do olho.
- Hum... Vocês não vão dormir? - perguntou apontando para as duas outras camas que estavam encostadas nas outras paredes.
- Nós estamos vigiando a fazenda, agora a pouco encontramos dois... - Túlio parou de falar quando viu o olhar sinistro e ameaçador de Cortez, mandando-o calar a boca e apenas ficar quieto.
- Encontraram dois o quê? - perguntou com a voz nervosa e um pouco amedrontada.
- Não encontramos nada. - respondeu, Cortez, terminando a conversa que havia se iniciado da maneira que ele não desejara.
Daniele observou-o por um tempo, tentando lembrar de como era o antigo Cortez. Ela nunca admitiu e sempre tentou rejeitá-lo, na esperança de que ele encontrasse alguma garota que não tivesse tantos problemas como ela, mas, Daniele sempre fora apaixonada por Cortez, mas, depois de tanta humilhação que o homem havia sofrido, seu coração estava tornando-se uma casca oca, sem amor ou qualquer outro sentimento além da raiva, ódio e vingança. Ela lembrava-se das festas de aniversário aos dez anos, suas reuniões para fazer trabalhos escolares e os encontros aleatórios que os dois tinham quando iam a piscina do condomínio em que moravam. Sempre olhavam-se com olhares apaixonados, trocando beijos e abraços mentais, na forte esperança de que aquilo um dia torna-se realidade. Com o tempo essas memórias foram ficando apagadas em suas memórias, mas, agora elas estavam ativas e com ainda mais força. Depois do Dia Z, os dois amantes secretos começaram a conversar um pouco mais e tornaram-se mais íntimos, apesar de ainda não serem o que as pessoas chamariam de casal apaixonado.
Seus pensamentos renderam-lhe longos minutos de uma incrível sensação de paz e tristeza. Seu desejo neste momento era que Cortez voltasse a ser o que era, voltasse a ser aquele garoto piadista e educado, sonhador e inspirador, um líder nato e com certeza um amante nato. Ela sabia que aquilo poderia jamais acontecer, mas, buscou conforto em seus pensamentos e logo voltou a dormir.
- Cortez... - parou e tentou reformular a frase que havia imaginado em sua cabeça. - Você já viu como ela olha para você? Você nunca percebeu que ela é apaixonada por você desde a 8° série? - ele ficou observando as feições de Cortez por um tempo, tentando descobrir o que ele estava pensando, mas, concluiu que só aquilo não ia bastar, e continuou. - Eu sei que você ainda a ama, vejo isso nos seus olhos e nos dela. Vocês dois se amam desde pequenos. Eu sei disso.
Cortez foi bombardeado com lembranças apaixonantes e incríveis dos momentos felizes e ingênuos que vivera com sua amada. Momentos que ele sabia que jamais voltariam. Em meio a tantos pensamentos outros começaram a aparecer, mas, esses trouxeram as consequências de sua paixão e trouxeram a tona o por quê de todas aquelas coisas não voltarem a acontecer.
- Eu... - Cortez tentou iniciar uma resposta. Enquanto ele tentava falar, seu coração acelerava cada vez mais, sua mente parecia ficar mais e mais confusa e seu estômago parecia embrulhado, mas, apesar de tudo era uma sensação boa. Uma sensação que ele não sentia a vários anos. Daniele também sentia isso, ela estava acordada quando os dois começaram a conversar, apesar de fazer o mínimo de movimentos esperando a confirmação de tudo que ela achava que ele sentia por ela.
- Vai, fala... Diz o que você sente por mim. - Daniele usou todas as forças que tinha para tentar enviar um sinal telepático para Cortez.
Cortez viu Daniele contorcendo-se lentamente, tentando virar-se para o lado em que os dois amigos estavam sentados. Ele sabia o que aquilo significava: Daniele estava acordada.
Ele sabia que se contasse o que sentia, seria novamente atormentado por possíveis lembranças do seu passado e ainda pior, novas lembranças que o atormentariam para sempre se ele se declarasse para sua amada e logo em seguida a perde-se novamente. Com confiança e tristeza, ele pronunciou:
- Eu não sinto nada por ela. Tudo que fiz no passado, achando que realmente a amava havia sido apenas uma ilusão, um erro. O que fiz naquela época foi a pior coisa que já fiz na minha vida. Aquilo me atormentou por um bom tempo, mas, agora eu superei isso e não quero mais saber dela. - uma dor agonizante tomou conta de Cortez, que de relance viu o rosto de Daniele mudarem de um tom calmo e pacífico, para um triste e arrependido.
Daniele sentira como se um punhal fervente tivesse penetrado seu coração, a dor que sentiu, a vontade de jogar-se em lágrimas era enorme e tornava-se mais forte, mas, ela soube se controlar. Sabia que no fundo, Cortez ainda gostava dela. Foi com isso que ela encontrou conforto e virou-se a sua antiga posição, de cara com a parede. Ela dormiu, desta vez sem pensar em nada além da frase que a fez sentir tanta dor.
Capítulo 2
Spoiler :
O sol mal aparecera, mas, para Cortez aquele era o dia. Aquele deveria ser o dia em que ele se tornaria uma lenda no colégio, tornando-se o namorado de Daniele. Enfim ele ia declarar-se para sua amada, falar tudo que sentia. Cortez levantou-se com os olhos mais abertos que o normal, estava mais desperto que qualquer outro dia de sua vida, ainda mais sendo uma segunda-feira. A mente de Cortez estava alerta a cada detalhe, ele morava num apartamento com seus pais no décimo quinto andar do condomínio chamado "Spazio de Roma".
Foi direto para o chuveiro de seu quarto, uma suíte bem decorada e organizada. As paredes todas brancas, o armário de seis portas cinza e preto ficava ao lado da janela de Cortez, que dava vista a grande parte da cidade que ele morava. Podia ver a casa de Daniele e seu colégio dali. Sua cama ficava encostada na parede oposta a da janela e ficava ao lado de um grande móvel que tomava todo o resto da parede, uma espécie de escrivaninha, porém, com um espaço deste móvel feito para acomodar um computador desktop, no qual Cortez possuía um das mais novas gerações. Sua televisão era enorme, de 42 polegadas e ficava ao lado da porta que direcionava-se ao banheiro. Ao lado desta porta ficava a porta de entrada do quarto. Em baixo da sua televisão, acoplada a parede, ficava uma mesa de madeira maciça pintada de branco com as pernas da mesa, juntas tornando-se apenas duas, pintadas com uma madeira diferente que possuía uma textura de madeira bege, ela servia de suporte para seu Xbox 360 preto, seu DVD, e possuía uma pequena estante onde guardava separados os jogos e os filmes. Ao lado de sua cama existia um tapete grande preto e branco que cobria todo o espaço da cama até o guarda roupas.
O seu banho foi rápido. Vestiu-se rápido, arrumou suas coisas as pressas e bebeu o suco de laranja que tanto adorava feito pela sua mãe, com a maior pressa. Cortez costumava acordar cedo, as 5h30min para começar a aprontar-se para o colégio e ficava pronto as 6h30min, mas, dessa vez ele conseguiu quebrar seus recordes em tempo de preparo e ficou pronto as 6h15min. Seus pais, Anderson e Izabela mal haviam colocado seus uniformes quando Cortez os chamou impaciente.
– Vamos, pai!
– Calma, rapaz! Acabei de acordar e você já está todo arrumado?! - Anderson colocava sua camisa de botões branca com a logo-marca da empresa que trabalhava. Ao vesti-la, sentou-se na cama e começou a calçar seus sapatos pretos. - Já escovou os dentes?
– Já, pai. - respondeu.
– Tomou o café da manhã?
– Sim.
– Pegou a autorização e o dinheiro da sua excursão?
– Já, pai! - respondeu revirando os olhos.
– Tudo bem. Me deixe apenas tomar café que já o levo para a escola.
– Certo... - Cortez saiu e foi em direção a sala de estar, caiu sentado no sofá vermelho e ligou a TV.
Os minutos pareciam ser horas e os segundos minutos longos e perturbadores enquanto seu pai tomava seu café e lia o jornal. Então seu pai levantou-se, pegou seu paletó preto e foi até a porta, destrancando-a e chamando seu filho. Cortez levantou-se num pulo enquanto desligava a televisão, correndo até a porta e esquecendo de algo importante. Quando ia fechar a porta, sua mãe colocou a mão sobre a porta e o fez relembrar o que havia esquecido de fazer. Cortez entrou novamente em casa, abraçou sua mãe com força, levantando-a do chão e deu um beijo em sua bochecha. Em retribuição, sua mãe beijou-lhe carinhosamente a testa e os dois despediram-se.
O caminho até o colégio fora rápido, por terem saído mais cedo o trânsito estava menos caótico como de costume e sua chegada na sala de aula foi uma surpresa para algumas garotas que nunca imaginaram que um menino conseguisse chegar tão cedo na aula. De certa forma aquilo era verdade, mas, não hoje. Cortez entrou, fechou a porta azul de sua sala que estava muito mais quente do que de costume, pois o zelador havia ligado o condicionador de ar a poucos minutos, escolheu a cadeira ao lado da que Daniele sempre se sentava, uma das últimas cadeiras da terceira fileira, e retirou de sua mochila seu iphone, pegou seus fones de ouvido e escolheu um dos álbuns de sua banda favorita, System of a Down. As músicas iam passando e cada vez mais pessoas começavam a chegar, mas, nada de Daniele. Cortez não sabia ao certo que horas Daniele chegava, pois ela sempre estava lá quando ele chegava.
O álbum de músicas acabou e sem mais vontade de ouvir músicas, apenas guardou seu celular e seus fones no mesmo lugar de sempre. Cruzou os braços e apenas ficou observando seus colegas conversarem enquanto a primeira aula não começava. Um deles era Túlio, rodeado de garotas que adoravam conversar consigo. Era como se ele fosse o homem mais engraçado do mundo, as garotas todas sentadas ao seu redor riam de quase tudo que ele falava e confirmavam o que ele dizia enquanto riam.
Enquanto olhava para o seu relógio que já marcava 6h58min, a porta abriu-se e o professor de biologia entrou na sala. Seu jaleco verde era parte do uniforme dos professores, apesar de ser um acessório que era apenas opcional. Cortez sentiu um aperto no peito, sabia que quando o professor entrava não havia mais ninguém que pudesse entrar a não ser que tivesse bons motivos para chegar atrasado, mas, logo Daniele entrou. Ela acompanhava o professor e os dois conversavam enquanto caminhavam. Ela fechou a porta e o professor, Renan, continuou sua caminhada até sua mesa. Daniele olhou de relance o lugar que sentaria, apenas para confirmar que estava vago e viu ao redor as várias mochilas que sempre estiveram por lá, mas, desta vez uma das mochilas estava diferente e alguém estranho, porém, conhecido estava lá. Naquela época, Daniele não falava com Cortez havia muito tempo. Quando se falavam apenas trocavam cumprimentos rápidos, mas, depois da 8° série, quando Daniele ganhou novas amigas, eles nunca mais conversaram, não como antes.
Ela gostava de Cortez da mesma forma que Cortez gostava dela, eram dois apaixonados, mas, que mantinham seus sentimentos escondidos um do outro a muito tempo. Daniele sentou-se no seu lugar, percebendo certo nervosismo nos olhos de Cortez, ela tentou ignorá-lo e apenas o cumprimentou.
A aula começou e Cortez aguardava a hora exata para contar para ela tudo que sentia, o intervalo; ele chegaria apenas as nove horas, mas, ele precisava aguardar esse tempo. Renan ensinou um assunto que felizmente Cortez já conhecia, por ter estudado em outros estados ele havia estudado um conteúdo mais avançado do que o de seu colégio e por isso já estava adiantado. Ficou calculando a aula inteira como pediria que ela fosse com ele a um lugar particular, como começaria a falar, como contaria a ela e principalmente: como agiria se ela retribuísse o sentimento. Foram tantas análises que o intervalo havia chegado e todos tinham saído, menos ele, Daniele e algumas de suas amigas mais íntimas que continuaram conversando com ela.
Os remanescentes da sala saíram quando uma das fiscais do colégio apareceu para trancar a porta da sala, aquele era o momento. Cortez foi o primeiro a sair, seu coração começou a palpitar cada vez mais rapidamente, estava suando frio e as pernas ficaram bambas. Ele aproximou-se de Daniele que continuava conversando com suas amigas e proferiu palavras que ele nunca iria esquecer:
– Daniele... - ela virou-se e suas amigas observaram o que se desenrolaria a partir dali. - Posso falar com você a sós? - ele engoliu em seco.
– Claro. - ela esperou um pouco antes de responder, mas, o fez com um belo sorriso estampado no rosto. Ela tinha esperanças de que aquele fosse o momento em que ele contaria tudo, mas, tinha receio de que realmente acontecesse. Um lado de sua alma queria aquilo mais do que tudo, mas, outra parte queria que aquilo não acontecesse.
Os dois foram para um lugar mais reservado, desconhecido por muita gente e sentaram-se. As amigas de Daniele tinham seguido-os motivadas pela curiosidade e ficaram escondidas a poucos metros de distância, o suficiente para ouvirem o que os dois conversavam.
– Eu tenho que te contar uma coisa... Algo que eu quero te contar faz muito tempo, mas, nunca criei coragem. - ele olhou em seus olhos e continuou. - Eu... Eu amo você, gosto de você a muito tempo. Lembra-se quando tínhamos 10 anos e eu te mandei um bilhete perguntando se você gostava de mim? - ele parou de falar e relutou um pouco em perguntar. - Você nunca me respondeu, acho que essa pode ser a hora certa para isso.
Ela não respondeu, apenas ficou olhando para ele estática. Ela sabia que queria dizer que o amava, mas, como um impulso ela o beijou. Os dois trocaram um beijo apaixonado, digno de um filme de romance. Abraçaram-se enquanto beijavam-se, seus olhos fecharam-se e eles imaginaram o que poderia ser a melhor época dos dois. As amigas de Daniele não conseguiam acreditar naquilo, o garoto mais estranho da turma, a única pessoa da turma que usava roupas pretas quase o tempo todo, aquele garoto estranho que era um mistério para qualquer garota ou garoto, agora beijava a menina mais linda e desejada da sala. Num impulso elas correram e com maldade em seus corações, foram em direção a qualquer pessoa de sua sala que encontrassem para espalhar o ocorrido.
O mundo parecia parado, o tempo parecia não existir mais, quando Cortez desgrudou seus lábios dos lábios carnudos, com sabor de maçã de Daniele. Ela estava mergulhada na mais potente confusão mental que já presenciara ocorrer consigo, não sabia o que dizer e apenas queria que Cortez tomasse uma outra iniciativa, mas, antes que ele pudesse fazer qualquer outra coisa, por motivos desconhecidos, Daniele levantou-se e saiu correndo dali, deixando Cortez sozinho. Ele foi mergulhado numa incerteza macabra, não sabendo se deveria continuar o que tinha começado ou parar, mas, antes de tomar qualquer decisão o sinal tocou e automaticamente ele se levantou e foi em direção a sua sala.
Enquanto andava as pessoas que já haviam tomado conhecimento do ocorrido cochichavam sobre ele, quase todos os olhares estavam direcionados para si, seu coração sentia que havia feito o certo, mas, a lógica o dizia que aquilo tinha sido um erro e logo todos ficariam sabendo. Aquele momento precedera os dias sombrio que ele viveria por muito tempo, até tornar-se uma pessoa insensível e irritante.
A porta de sua sala já estava aberta, escancarada. Ele colocou as mãos nos bolsos e lentamente foi em direção a sua mesa, Daniele estava sentada em seu lugar, mas, mesmo depois daquele beijo apaixonado Daniele o ignorou. Ele passou o resto daqueles minutos de espera quieto, apenas pensando no que tinha feito. Foi quando começaram as implicâncias... As pessoas começaram a perguntar-lhe várias vezes se ele era apaixonado por Daniele e, todas as vezes ele negou, mas, aquilo não iria adiantar já que eles já sabiam de tudo que acontecera. Quando uma das melhores amigas de Daniele veio perguntar-lhe essa mesma coisa, ele tomou finalmente a conclusão de que seus colegas já sabiam de tudo. Por fraqueza e descuido ele disse sim para a pergunta.
Antes que o professor chegasse, um dos garotos mais irritantes da sala foi a frente das mesas e cadeiras e chamou a atenção de todos. Cortez sabia o que aquilo insinuava, pois sabia que ele já havia tomado conhecimento da fofoca. Ele motivou todos a o observarem atentamente, talvez fosse algo importante, mas, Cortez sabia qual o rumo que aquela conversa tomaria.
– Bom, hoje nós tivemos uma grande mudança nessa sala. - falou alto e confiante - Nós temos um novo casal na sala, o casal mais estranho que eu já vi! - dizendo isto, caiu em uma gargalhada que motivou a maioria a rir também. - Bom... - disse enxugando as lágrimas de seus olhos - Esse novo casal é o da nossa querida e linda Daniele com o desajeitado, estranho, patético e anormal: Cortez! - toda a sua "plateia" começou a gargalhar. Cortez sentiu-se humilhado, mas, sabia que Daniele também deveria estar sentindo aquilo.
Aquela foi a primeira humilhação pública que Cortez sofreria, ao longo dos dias, semanas e meses as humilhações foram ficando piores, até chegarem a um ponto em que Cortez não ligava mais para elas. Daniele desistiu de sua felicidade junto a Cortez para não sofrer mais daquele bullyng constante, em público ela o humilhou também. Dizendo palavras que Cortez jamais esquecera, fazendo coisas que ele nunca se recuperaria, mas, que nunca diminuiriam o que ele sentia por Daniele.
Daquele dia em diante, Cortez não seria mais o mesmo. Tudo que ele já fez em sua vida, tudo aquilo mudou. Ele começou a tirar notas mais baixas, sua vida social ruiu pouco a pouco, sua mentalidade e aceitação das pessoas mudou. Aquele era um novo Cortez, um frio e calculista Cortez.
Foi direto para o chuveiro de seu quarto, uma suíte bem decorada e organizada. As paredes todas brancas, o armário de seis portas cinza e preto ficava ao lado da janela de Cortez, que dava vista a grande parte da cidade que ele morava. Podia ver a casa de Daniele e seu colégio dali. Sua cama ficava encostada na parede oposta a da janela e ficava ao lado de um grande móvel que tomava todo o resto da parede, uma espécie de escrivaninha, porém, com um espaço deste móvel feito para acomodar um computador desktop, no qual Cortez possuía um das mais novas gerações. Sua televisão era enorme, de 42 polegadas e ficava ao lado da porta que direcionava-se ao banheiro. Ao lado desta porta ficava a porta de entrada do quarto. Em baixo da sua televisão, acoplada a parede, ficava uma mesa de madeira maciça pintada de branco com as pernas da mesa, juntas tornando-se apenas duas, pintadas com uma madeira diferente que possuía uma textura de madeira bege, ela servia de suporte para seu Xbox 360 preto, seu DVD, e possuía uma pequena estante onde guardava separados os jogos e os filmes. Ao lado de sua cama existia um tapete grande preto e branco que cobria todo o espaço da cama até o guarda roupas.
O seu banho foi rápido. Vestiu-se rápido, arrumou suas coisas as pressas e bebeu o suco de laranja que tanto adorava feito pela sua mãe, com a maior pressa. Cortez costumava acordar cedo, as 5h30min para começar a aprontar-se para o colégio e ficava pronto as 6h30min, mas, dessa vez ele conseguiu quebrar seus recordes em tempo de preparo e ficou pronto as 6h15min. Seus pais, Anderson e Izabela mal haviam colocado seus uniformes quando Cortez os chamou impaciente.
– Vamos, pai!
– Calma, rapaz! Acabei de acordar e você já está todo arrumado?! - Anderson colocava sua camisa de botões branca com a logo-marca da empresa que trabalhava. Ao vesti-la, sentou-se na cama e começou a calçar seus sapatos pretos. - Já escovou os dentes?
– Já, pai. - respondeu.
– Tomou o café da manhã?
– Sim.
– Pegou a autorização e o dinheiro da sua excursão?
– Já, pai! - respondeu revirando os olhos.
– Tudo bem. Me deixe apenas tomar café que já o levo para a escola.
– Certo... - Cortez saiu e foi em direção a sala de estar, caiu sentado no sofá vermelho e ligou a TV.
Os minutos pareciam ser horas e os segundos minutos longos e perturbadores enquanto seu pai tomava seu café e lia o jornal. Então seu pai levantou-se, pegou seu paletó preto e foi até a porta, destrancando-a e chamando seu filho. Cortez levantou-se num pulo enquanto desligava a televisão, correndo até a porta e esquecendo de algo importante. Quando ia fechar a porta, sua mãe colocou a mão sobre a porta e o fez relembrar o que havia esquecido de fazer. Cortez entrou novamente em casa, abraçou sua mãe com força, levantando-a do chão e deu um beijo em sua bochecha. Em retribuição, sua mãe beijou-lhe carinhosamente a testa e os dois despediram-se.
O caminho até o colégio fora rápido, por terem saído mais cedo o trânsito estava menos caótico como de costume e sua chegada na sala de aula foi uma surpresa para algumas garotas que nunca imaginaram que um menino conseguisse chegar tão cedo na aula. De certa forma aquilo era verdade, mas, não hoje. Cortez entrou, fechou a porta azul de sua sala que estava muito mais quente do que de costume, pois o zelador havia ligado o condicionador de ar a poucos minutos, escolheu a cadeira ao lado da que Daniele sempre se sentava, uma das últimas cadeiras da terceira fileira, e retirou de sua mochila seu iphone, pegou seus fones de ouvido e escolheu um dos álbuns de sua banda favorita, System of a Down. As músicas iam passando e cada vez mais pessoas começavam a chegar, mas, nada de Daniele. Cortez não sabia ao certo que horas Daniele chegava, pois ela sempre estava lá quando ele chegava.
O álbum de músicas acabou e sem mais vontade de ouvir músicas, apenas guardou seu celular e seus fones no mesmo lugar de sempre. Cruzou os braços e apenas ficou observando seus colegas conversarem enquanto a primeira aula não começava. Um deles era Túlio, rodeado de garotas que adoravam conversar consigo. Era como se ele fosse o homem mais engraçado do mundo, as garotas todas sentadas ao seu redor riam de quase tudo que ele falava e confirmavam o que ele dizia enquanto riam.
Enquanto olhava para o seu relógio que já marcava 6h58min, a porta abriu-se e o professor de biologia entrou na sala. Seu jaleco verde era parte do uniforme dos professores, apesar de ser um acessório que era apenas opcional. Cortez sentiu um aperto no peito, sabia que quando o professor entrava não havia mais ninguém que pudesse entrar a não ser que tivesse bons motivos para chegar atrasado, mas, logo Daniele entrou. Ela acompanhava o professor e os dois conversavam enquanto caminhavam. Ela fechou a porta e o professor, Renan, continuou sua caminhada até sua mesa. Daniele olhou de relance o lugar que sentaria, apenas para confirmar que estava vago e viu ao redor as várias mochilas que sempre estiveram por lá, mas, desta vez uma das mochilas estava diferente e alguém estranho, porém, conhecido estava lá. Naquela época, Daniele não falava com Cortez havia muito tempo. Quando se falavam apenas trocavam cumprimentos rápidos, mas, depois da 8° série, quando Daniele ganhou novas amigas, eles nunca mais conversaram, não como antes.
Ela gostava de Cortez da mesma forma que Cortez gostava dela, eram dois apaixonados, mas, que mantinham seus sentimentos escondidos um do outro a muito tempo. Daniele sentou-se no seu lugar, percebendo certo nervosismo nos olhos de Cortez, ela tentou ignorá-lo e apenas o cumprimentou.
A aula começou e Cortez aguardava a hora exata para contar para ela tudo que sentia, o intervalo; ele chegaria apenas as nove horas, mas, ele precisava aguardar esse tempo. Renan ensinou um assunto que felizmente Cortez já conhecia, por ter estudado em outros estados ele havia estudado um conteúdo mais avançado do que o de seu colégio e por isso já estava adiantado. Ficou calculando a aula inteira como pediria que ela fosse com ele a um lugar particular, como começaria a falar, como contaria a ela e principalmente: como agiria se ela retribuísse o sentimento. Foram tantas análises que o intervalo havia chegado e todos tinham saído, menos ele, Daniele e algumas de suas amigas mais íntimas que continuaram conversando com ela.
Os remanescentes da sala saíram quando uma das fiscais do colégio apareceu para trancar a porta da sala, aquele era o momento. Cortez foi o primeiro a sair, seu coração começou a palpitar cada vez mais rapidamente, estava suando frio e as pernas ficaram bambas. Ele aproximou-se de Daniele que continuava conversando com suas amigas e proferiu palavras que ele nunca iria esquecer:
– Daniele... - ela virou-se e suas amigas observaram o que se desenrolaria a partir dali. - Posso falar com você a sós? - ele engoliu em seco.
– Claro. - ela esperou um pouco antes de responder, mas, o fez com um belo sorriso estampado no rosto. Ela tinha esperanças de que aquele fosse o momento em que ele contaria tudo, mas, tinha receio de que realmente acontecesse. Um lado de sua alma queria aquilo mais do que tudo, mas, outra parte queria que aquilo não acontecesse.
Os dois foram para um lugar mais reservado, desconhecido por muita gente e sentaram-se. As amigas de Daniele tinham seguido-os motivadas pela curiosidade e ficaram escondidas a poucos metros de distância, o suficiente para ouvirem o que os dois conversavam.
– Eu tenho que te contar uma coisa... Algo que eu quero te contar faz muito tempo, mas, nunca criei coragem. - ele olhou em seus olhos e continuou. - Eu... Eu amo você, gosto de você a muito tempo. Lembra-se quando tínhamos 10 anos e eu te mandei um bilhete perguntando se você gostava de mim? - ele parou de falar e relutou um pouco em perguntar. - Você nunca me respondeu, acho que essa pode ser a hora certa para isso.
Ela não respondeu, apenas ficou olhando para ele estática. Ela sabia que queria dizer que o amava, mas, como um impulso ela o beijou. Os dois trocaram um beijo apaixonado, digno de um filme de romance. Abraçaram-se enquanto beijavam-se, seus olhos fecharam-se e eles imaginaram o que poderia ser a melhor época dos dois. As amigas de Daniele não conseguiam acreditar naquilo, o garoto mais estranho da turma, a única pessoa da turma que usava roupas pretas quase o tempo todo, aquele garoto estranho que era um mistério para qualquer garota ou garoto, agora beijava a menina mais linda e desejada da sala. Num impulso elas correram e com maldade em seus corações, foram em direção a qualquer pessoa de sua sala que encontrassem para espalhar o ocorrido.
O mundo parecia parado, o tempo parecia não existir mais, quando Cortez desgrudou seus lábios dos lábios carnudos, com sabor de maçã de Daniele. Ela estava mergulhada na mais potente confusão mental que já presenciara ocorrer consigo, não sabia o que dizer e apenas queria que Cortez tomasse uma outra iniciativa, mas, antes que ele pudesse fazer qualquer outra coisa, por motivos desconhecidos, Daniele levantou-se e saiu correndo dali, deixando Cortez sozinho. Ele foi mergulhado numa incerteza macabra, não sabendo se deveria continuar o que tinha começado ou parar, mas, antes de tomar qualquer decisão o sinal tocou e automaticamente ele se levantou e foi em direção a sua sala.
Enquanto andava as pessoas que já haviam tomado conhecimento do ocorrido cochichavam sobre ele, quase todos os olhares estavam direcionados para si, seu coração sentia que havia feito o certo, mas, a lógica o dizia que aquilo tinha sido um erro e logo todos ficariam sabendo. Aquele momento precedera os dias sombrio que ele viveria por muito tempo, até tornar-se uma pessoa insensível e irritante.
A porta de sua sala já estava aberta, escancarada. Ele colocou as mãos nos bolsos e lentamente foi em direção a sua mesa, Daniele estava sentada em seu lugar, mas, mesmo depois daquele beijo apaixonado Daniele o ignorou. Ele passou o resto daqueles minutos de espera quieto, apenas pensando no que tinha feito. Foi quando começaram as implicâncias... As pessoas começaram a perguntar-lhe várias vezes se ele era apaixonado por Daniele e, todas as vezes ele negou, mas, aquilo não iria adiantar já que eles já sabiam de tudo que acontecera. Quando uma das melhores amigas de Daniele veio perguntar-lhe essa mesma coisa, ele tomou finalmente a conclusão de que seus colegas já sabiam de tudo. Por fraqueza e descuido ele disse sim para a pergunta.
Antes que o professor chegasse, um dos garotos mais irritantes da sala foi a frente das mesas e cadeiras e chamou a atenção de todos. Cortez sabia o que aquilo insinuava, pois sabia que ele já havia tomado conhecimento da fofoca. Ele motivou todos a o observarem atentamente, talvez fosse algo importante, mas, Cortez sabia qual o rumo que aquela conversa tomaria.
– Bom, hoje nós tivemos uma grande mudança nessa sala. - falou alto e confiante - Nós temos um novo casal na sala, o casal mais estranho que eu já vi! - dizendo isto, caiu em uma gargalhada que motivou a maioria a rir também. - Bom... - disse enxugando as lágrimas de seus olhos - Esse novo casal é o da nossa querida e linda Daniele com o desajeitado, estranho, patético e anormal: Cortez! - toda a sua "plateia" começou a gargalhar. Cortez sentiu-se humilhado, mas, sabia que Daniele também deveria estar sentindo aquilo.
Aquela foi a primeira humilhação pública que Cortez sofreria, ao longo dos dias, semanas e meses as humilhações foram ficando piores, até chegarem a um ponto em que Cortez não ligava mais para elas. Daniele desistiu de sua felicidade junto a Cortez para não sofrer mais daquele bullyng constante, em público ela o humilhou também. Dizendo palavras que Cortez jamais esquecera, fazendo coisas que ele nunca se recuperaria, mas, que nunca diminuiriam o que ele sentia por Daniele.
Daquele dia em diante, Cortez não seria mais o mesmo. Tudo que ele já fez em sua vida, tudo aquilo mudou. Ele começou a tirar notas mais baixas, sua vida social ruiu pouco a pouco, sua mentalidade e aceitação das pessoas mudou. Aquele era um novo Cortez, um frio e calculista Cortez.
Capítulo 3
Spoiler :
"[...]Minha única vontade neste momento é a de começar tudo de novo, desfazer o que eu fiz no passado e fazer da minha e da de todo o mundo uma vida melhor... Sem zumbis, sem guerras pela água, sem apocalipse."
O sol ainda não havia nascido, poderia-se estipular que eram 4h00min da manhã. Cortez não conseguira dormir quase nada, ele nunca sentiu sensações tão estranhas assim. Um grupo imenso de zumbis estava aglomerando-se ao redor da casa, Cortez nunca havia visto uma quantidade tão grande de infectados juntos num único lugar. Seu único e maior medo era de que Daniele morresse, assim como Túlio. Por um lado ele queria que todos conseguissem fugir dali o mais rápido possível, mas, por outro se eles ficassem encurralados então ele quem deveria se sacrificar para que os outros pudessem continuar vivos. Apesar das batidas intensas contra a estrutura inteira da casa, ela estava resistindo bem, mas, produzia ruídos altos e incapazes de não se ouvir. Túlio estava acordado, sentado em uma cadeira de balanço olhando para as janelas que eles reforçaram a pouco tempo. Não iriam durar muito tempo, mas, quanto mais tempo eles conseguissem aguentar, melhor. Daniele estava sentada em sua cama com um olhar pensativo, esperava que algo acontecesse ou que alguém sugerisse algo de valor.
- O que vamos fazer? - perguntou, Túlio.
- Eu não sei... Estamos cercados, não temos acesso ao telhado e não temos porão.
- Então, estamos presos aqui? Condenados a morrer? - interviu, Daniele.
Os três olharam-se por alguns segundos, tentando imaginar o que fazer nessas horas. Era praticamente impossível que conseguissem escapar com vida daquele lugar e, se escapassem alguém teria que morrer.
- Estamos presos, mas, não condenados a morrer. - afirmou, Cortez.
Antes que pudessem dizer algo, um som os deixou alerta. Uma das tábuas que reforçava a porta de entrada cedeu e caiu no chão. Aquilo só significava uma coisa: o tempo estava acabando.
- O que vamos fazer?! Anda, pensem em algo! - Daniele estava visivelmente em pânico. Sentir o odor fétido daquele tipo de morte, pensar em como poderia ter sido diferente, ver sua vida passando diante de si, tudo era assombroso e lhe dava calafrios.
- Cortez... - levantou-se Túlio e puxou-o para perto, falando baixo e evitando que Daniele visse qualquer coisa. - Precisamos de um plano. O sol já está nascendo, em breve eles vão conseguir ver que estamos aqui e irão ficar mais enfurecidos do que já estão!
- Eu sei, mas o que podemos fazer?! Não temos quase nenhuma arma, apenas três facões que carregamos. Se tentarmos abrir passagem por um dos lados da casa iremos ter que lutar contra praticamente todos eles para fugir.
- Talvez possamos cavar por debaixo da terra... - sugeriu sarcasticamente, Túlio.
O rosto de Cortez iluminou-se e por um momento ele imaginou ter uma lâmpada acesa em cima da sua cabeça. Túlio assustou-se ao ver que seu amigo havia gostado da ideia sugerida como uma brincadeira. Ele sabia que agora era tarde para tentar impedi-lo, Cortez andou as pressas até um dos quartos no primeiro andar da casa e pegou três pás que havia encontrado no meio de sua primeira vistoria da casa, há vários dias. Eles só precisariam quebrar o assoalho de madeira para ter acesso ao solo que seria escavado.
Ele fez questão de entregar a pá para seus colegas, mas, a grande dúvida era como eles fariam para quebrar o assoalho da casa. A madeira maciça seria um dos maiores problemas a ser enfrentados naquele momento, mas, Cortez pegou sua pá e como se escavasse a terra ele encravou a ponta da pá em uma das juntas da madeira e empurrou o cabo da pá até o chão com toda sua força. Túlio pegou a pá e tentou quebrar parte da madeira para facilitar o trabalho de Cortez, ele obteve apenas leves rachaduras na madeira, mas, aquilo não ajudaria muito. Ao contrário de tentar continuando, Túlio resolveu ajudar seu amigo fazendo o mesmo que ele. Daniele seguiu-os e fez o mesmo.
Juntos os três forçaram com todas as suas forças a tábua da madeira, fazendo com que a mesma se curvasse a ponto de rachar, mas, ela não iria quebrar tão facilmente. A tábua ergueu-se cinco centímetros do chão, formando um vão que dava vista ao interior, mas, com a pouca luz do sol que entrava na casa não era possível ver nada além de poucos tufos de grama no solo.
- Vamos, tá quase! - disse rangendo os dentes, Cortez.
Como um trovão, a madeira quebrou-se e soltou um estrondo forte da madeira quebrando-se. Os pregos que a seguravam nas pontas voaram para o teto, rebatendo no chão algumas vezes até estancarem. Os três caíram no chão, cansados e ofegantes.
- Bom... - fez uma pausa para puxar o ar, Túlio. - Agora só falta mais algumas tábuas para quebrar.
- Não vai dar tempo. Assim a gente não vai conseguir abrir um buraco antes que eles entrem aqui. - disse, Daniele.
- É verdade. Acho que é mais fácil tirarmos os pregos com a pá e tirar a tábua do lugar. - disse, Cortez.
- Jura? - respondeu, Daniele.
Os três recuperaram o fôlego e pouco a pouco foram retirando os pregos que prendiam as tábuas no chão. Os infectados estavam terminando de quebrar as barricadas, logo eles invadiriam a casa e estraçalhariam os sobreviventes. A terra estava cada vez mais iluminada enquanto o sol surgia por entre as árvores que cercavam parte da casa, dando visibilidade do que havia realmente lá dentro para os zumbis. Foi quando os zumbis enfureceram-se mais do que o normal que eles conseguiram abrir espaço suficiente para descerem e começarem a escavar.
Cortez desceu primeiro, encravou a pá na terra e retirou-a com facilidade. Era uma terra solta, quase com a consistência de areia. Aos poucos um monte foi se formando ao redor de Cortez que escavava como louco tentando tirar a terra o mais rápido que conseguia, enquanto Túlio e Daniele remontavam parte das barricadas destruídas arrumando mais tempo para a escapada.
- Pessoal, alguém precisa me substituir. Não aguento mais. - Cortez saiu de dentro do buraco e subiu no assoalho desmontado. Túlio pegou sua pá e dirigiu-se até o buraco que já tinha um metro e meio de profundidade.
Túlio sentiu facilidade em tirar a terra dali, mais do quê Cortez. Sua musculatura era maior e sua energia também, ele poderia cavar todo o túnel que precisavam para escapar com segurança da casa, mas, as barricadas provisórias que eles haviam montado não estavam resistindo como o esperado. A maioria já estava caída no chão e toda a vidraça da casa estava sendo destruída aos poucos, deixando ecoar pela casa o barulho dos cacos caindo no chão. Não havia tempo para cavar mais do quê já tinha sido cavado. A única solução que Cortez encontrou ao olhar para o projeto inacabado do túnel foi de esconderem-se ali dentro, levando uma lanterna, seus facões e suas pás.
- Vamos, entrem no túnel e fiquem aí dentro! - ordenou, jogando as poucas bolsas que carregavam.
Túlio encostou-se dentro da parede do túnel e retirou a lanterna de dentro de uma das bolsas, não seria fácil ficar ali dentro. Daniele entrou em seguida, deixando Cortez sozinho em cima da casa. Ele precisava cumprir seu papel naquele momento, precisava fechar o assoalho como podia para assegurar a sobrevivência de seu amigo e de sua amada.
- Fiquem aí, eu vou tampar esse buraco e tentarei detê-los aqui de cima. Não façam barulhos. - disse, deixando uma lágrima percorrer pelo seu rosto sujo e molhado ao ver o que poderia ser a última vez que veria Daniele em sua vida. Sua vontade de beijá-la foi contaminante, mas, ele sabia que se o fizesse faria com que Daniele se recusasse a deixar que ele continuasse com seu plano. Cortez apenas fez um sinal de positivo com a cabeça e começou a colocar as tábuas nos buracos, fechando-as rapidamente. O rosto de Daniele ficava cada vez mais escuro e omitido pelo assoalho, quando a porta foi ao chão. Era o último prego que ele precisava colocar para saber que tinha cumprido seu papel e poder lutar pela sua própria vida.
O assoalho foi fechado, mas, Cortez encontrava-se na pior situação de sua vida. Os contaminados entravam aos montes, acotovelando-se e empurrando um ao outro em busca do seu prêmio. Cortez pegou seu facão e jogou sua pá no chão. Aquele momento seria o momento em que ele se tornaria uma lenda ou um nada. Ele poderia sobreviver, mas, suas chances eram mínimas.
Em pouco tempo o primeiro contaminado chegou perto dele, Cortez desferiu um único golpe em seu pescoço e chutou-o no chão, deixando jorrar o sangue repugnante e amarronzado que eles possuíam. A sensação era de poder, a adrenalina que havia sido disparada o fez ver tudo como um jogo, um desafio que ele havia aceitado, o prêmio: sua vida.
Cortez desferiu diversos golpes nos contaminados seguintes, fazendo uma quantidade enorme despencar no chão pouco a pouco. O sangue pingou lentamente por entre as juntas da madeira, molhando a terra que se encontrava embaixo, mas, estava longe de chegar perto de Daniele e Túlio que presenciavam a cena digna de um filme de ficção no pouco espaço que tinham.
Em questão de minutos ele conseguiu matar quase vinte infectados, mas, seus esforços estavam sendo frustrados enquanto mais e mais zumbis entravam pela porta da casa. Seu braço começara a doer e sua respiração estava cada vez mais ofegante, seus movimentos mais lentos e dores começavam a surgir por todo o seu corpo. Enfim, o último zumbi entrou pela porta, deixando toda a casa abarrotada de contaminados. Cortez subiu para a escada que dava acesso ao primeiro andar, e afunilou os infectados tornando a luta justa. Cabiam apenas dois por vez e Cortez os matava com facilidade, mas, logo os montes foram se formando e ele precisou afastar-se mais para conseguir espaço para a batalha. Os zumbis passavam pela barricada de companheiros de caça aos poucos e levantavam-se como loucos em saltos que os faziam chegar frente a frente com o facão do resistente.
A cena de ação durou cerca de uma hora, mas, passou como se fosse metade disto. Cortez estava a ponto de matar o último infectado, quando sua visão começou a falhar. Ele alcançara a exaustão final de seu corpo. A tontura chegou depressa enquanto o zumbi caminhava em sua direção, mas, negando os pedidos de descanso de seu corpo, Cortez chacoalhou sua cabeça tentando manter-se ativo e ergueu seu facão, seu fiel amigo, naquele que seria seu último ataque antes de cair no chão. Ele desferiu um golpe um pouco abaixo do olho esquerdo do infectado e retirou o facão deixando-o cair de joelhos no chão e despencar para o lado.
Suas forças haviam acabado, ele relaxou os braços e todos os músculos em exceção de suas pernas, soltou seu facão no chão e sorriu como alguém que tem um prazer infindável e cumpre uma missão. Ele olhou para seu lado direito e viu o sol iluminando a casa, olhou para os corpos imóveis e mortos no chão e pensou no por quê de tudo aqui, mas, sua mente estava embaçada de mais para realizar aquela simples ação. Ele pendeu para os dois lados, respirou profundamente com um alívio exagerado e caiu no chão com os olhos fechados e um belo sorriso estampado no rosto. Ao seu redor uma horda de zumbis o cercava, totalmente morta. Cortez se tornara uma lenda para Daniele e Túlio que presenciaram de camarote o desfecho daquela cena incrível.
O sol ainda não havia nascido, poderia-se estipular que eram 4h00min da manhã. Cortez não conseguira dormir quase nada, ele nunca sentiu sensações tão estranhas assim. Um grupo imenso de zumbis estava aglomerando-se ao redor da casa, Cortez nunca havia visto uma quantidade tão grande de infectados juntos num único lugar. Seu único e maior medo era de que Daniele morresse, assim como Túlio. Por um lado ele queria que todos conseguissem fugir dali o mais rápido possível, mas, por outro se eles ficassem encurralados então ele quem deveria se sacrificar para que os outros pudessem continuar vivos. Apesar das batidas intensas contra a estrutura inteira da casa, ela estava resistindo bem, mas, produzia ruídos altos e incapazes de não se ouvir. Túlio estava acordado, sentado em uma cadeira de balanço olhando para as janelas que eles reforçaram a pouco tempo. Não iriam durar muito tempo, mas, quanto mais tempo eles conseguissem aguentar, melhor. Daniele estava sentada em sua cama com um olhar pensativo, esperava que algo acontecesse ou que alguém sugerisse algo de valor.
- O que vamos fazer? - perguntou, Túlio.
- Eu não sei... Estamos cercados, não temos acesso ao telhado e não temos porão.
- Então, estamos presos aqui? Condenados a morrer? - interviu, Daniele.
Os três olharam-se por alguns segundos, tentando imaginar o que fazer nessas horas. Era praticamente impossível que conseguissem escapar com vida daquele lugar e, se escapassem alguém teria que morrer.
- Estamos presos, mas, não condenados a morrer. - afirmou, Cortez.
Antes que pudessem dizer algo, um som os deixou alerta. Uma das tábuas que reforçava a porta de entrada cedeu e caiu no chão. Aquilo só significava uma coisa: o tempo estava acabando.
- O que vamos fazer?! Anda, pensem em algo! - Daniele estava visivelmente em pânico. Sentir o odor fétido daquele tipo de morte, pensar em como poderia ter sido diferente, ver sua vida passando diante de si, tudo era assombroso e lhe dava calafrios.
- Cortez... - levantou-se Túlio e puxou-o para perto, falando baixo e evitando que Daniele visse qualquer coisa. - Precisamos de um plano. O sol já está nascendo, em breve eles vão conseguir ver que estamos aqui e irão ficar mais enfurecidos do que já estão!
- Eu sei, mas o que podemos fazer?! Não temos quase nenhuma arma, apenas três facões que carregamos. Se tentarmos abrir passagem por um dos lados da casa iremos ter que lutar contra praticamente todos eles para fugir.
- Talvez possamos cavar por debaixo da terra... - sugeriu sarcasticamente, Túlio.
O rosto de Cortez iluminou-se e por um momento ele imaginou ter uma lâmpada acesa em cima da sua cabeça. Túlio assustou-se ao ver que seu amigo havia gostado da ideia sugerida como uma brincadeira. Ele sabia que agora era tarde para tentar impedi-lo, Cortez andou as pressas até um dos quartos no primeiro andar da casa e pegou três pás que havia encontrado no meio de sua primeira vistoria da casa, há vários dias. Eles só precisariam quebrar o assoalho de madeira para ter acesso ao solo que seria escavado.
Ele fez questão de entregar a pá para seus colegas, mas, a grande dúvida era como eles fariam para quebrar o assoalho da casa. A madeira maciça seria um dos maiores problemas a ser enfrentados naquele momento, mas, Cortez pegou sua pá e como se escavasse a terra ele encravou a ponta da pá em uma das juntas da madeira e empurrou o cabo da pá até o chão com toda sua força. Túlio pegou a pá e tentou quebrar parte da madeira para facilitar o trabalho de Cortez, ele obteve apenas leves rachaduras na madeira, mas, aquilo não ajudaria muito. Ao contrário de tentar continuando, Túlio resolveu ajudar seu amigo fazendo o mesmo que ele. Daniele seguiu-os e fez o mesmo.
Juntos os três forçaram com todas as suas forças a tábua da madeira, fazendo com que a mesma se curvasse a ponto de rachar, mas, ela não iria quebrar tão facilmente. A tábua ergueu-se cinco centímetros do chão, formando um vão que dava vista ao interior, mas, com a pouca luz do sol que entrava na casa não era possível ver nada além de poucos tufos de grama no solo.
- Vamos, tá quase! - disse rangendo os dentes, Cortez.
Como um trovão, a madeira quebrou-se e soltou um estrondo forte da madeira quebrando-se. Os pregos que a seguravam nas pontas voaram para o teto, rebatendo no chão algumas vezes até estancarem. Os três caíram no chão, cansados e ofegantes.
- Bom... - fez uma pausa para puxar o ar, Túlio. - Agora só falta mais algumas tábuas para quebrar.
- Não vai dar tempo. Assim a gente não vai conseguir abrir um buraco antes que eles entrem aqui. - disse, Daniele.
- É verdade. Acho que é mais fácil tirarmos os pregos com a pá e tirar a tábua do lugar. - disse, Cortez.
- Jura? - respondeu, Daniele.
Os três recuperaram o fôlego e pouco a pouco foram retirando os pregos que prendiam as tábuas no chão. Os infectados estavam terminando de quebrar as barricadas, logo eles invadiriam a casa e estraçalhariam os sobreviventes. A terra estava cada vez mais iluminada enquanto o sol surgia por entre as árvores que cercavam parte da casa, dando visibilidade do que havia realmente lá dentro para os zumbis. Foi quando os zumbis enfureceram-se mais do que o normal que eles conseguiram abrir espaço suficiente para descerem e começarem a escavar.
Cortez desceu primeiro, encravou a pá na terra e retirou-a com facilidade. Era uma terra solta, quase com a consistência de areia. Aos poucos um monte foi se formando ao redor de Cortez que escavava como louco tentando tirar a terra o mais rápido que conseguia, enquanto Túlio e Daniele remontavam parte das barricadas destruídas arrumando mais tempo para a escapada.
- Pessoal, alguém precisa me substituir. Não aguento mais. - Cortez saiu de dentro do buraco e subiu no assoalho desmontado. Túlio pegou sua pá e dirigiu-se até o buraco que já tinha um metro e meio de profundidade.
Túlio sentiu facilidade em tirar a terra dali, mais do quê Cortez. Sua musculatura era maior e sua energia também, ele poderia cavar todo o túnel que precisavam para escapar com segurança da casa, mas, as barricadas provisórias que eles haviam montado não estavam resistindo como o esperado. A maioria já estava caída no chão e toda a vidraça da casa estava sendo destruída aos poucos, deixando ecoar pela casa o barulho dos cacos caindo no chão. Não havia tempo para cavar mais do quê já tinha sido cavado. A única solução que Cortez encontrou ao olhar para o projeto inacabado do túnel foi de esconderem-se ali dentro, levando uma lanterna, seus facões e suas pás.
- Vamos, entrem no túnel e fiquem aí dentro! - ordenou, jogando as poucas bolsas que carregavam.
Túlio encostou-se dentro da parede do túnel e retirou a lanterna de dentro de uma das bolsas, não seria fácil ficar ali dentro. Daniele entrou em seguida, deixando Cortez sozinho em cima da casa. Ele precisava cumprir seu papel naquele momento, precisava fechar o assoalho como podia para assegurar a sobrevivência de seu amigo e de sua amada.
- Fiquem aí, eu vou tampar esse buraco e tentarei detê-los aqui de cima. Não façam barulhos. - disse, deixando uma lágrima percorrer pelo seu rosto sujo e molhado ao ver o que poderia ser a última vez que veria Daniele em sua vida. Sua vontade de beijá-la foi contaminante, mas, ele sabia que se o fizesse faria com que Daniele se recusasse a deixar que ele continuasse com seu plano. Cortez apenas fez um sinal de positivo com a cabeça e começou a colocar as tábuas nos buracos, fechando-as rapidamente. O rosto de Daniele ficava cada vez mais escuro e omitido pelo assoalho, quando a porta foi ao chão. Era o último prego que ele precisava colocar para saber que tinha cumprido seu papel e poder lutar pela sua própria vida.
O assoalho foi fechado, mas, Cortez encontrava-se na pior situação de sua vida. Os contaminados entravam aos montes, acotovelando-se e empurrando um ao outro em busca do seu prêmio. Cortez pegou seu facão e jogou sua pá no chão. Aquele momento seria o momento em que ele se tornaria uma lenda ou um nada. Ele poderia sobreviver, mas, suas chances eram mínimas.
Em pouco tempo o primeiro contaminado chegou perto dele, Cortez desferiu um único golpe em seu pescoço e chutou-o no chão, deixando jorrar o sangue repugnante e amarronzado que eles possuíam. A sensação era de poder, a adrenalina que havia sido disparada o fez ver tudo como um jogo, um desafio que ele havia aceitado, o prêmio: sua vida.
Cortez desferiu diversos golpes nos contaminados seguintes, fazendo uma quantidade enorme despencar no chão pouco a pouco. O sangue pingou lentamente por entre as juntas da madeira, molhando a terra que se encontrava embaixo, mas, estava longe de chegar perto de Daniele e Túlio que presenciavam a cena digna de um filme de ficção no pouco espaço que tinham.
Em questão de minutos ele conseguiu matar quase vinte infectados, mas, seus esforços estavam sendo frustrados enquanto mais e mais zumbis entravam pela porta da casa. Seu braço começara a doer e sua respiração estava cada vez mais ofegante, seus movimentos mais lentos e dores começavam a surgir por todo o seu corpo. Enfim, o último zumbi entrou pela porta, deixando toda a casa abarrotada de contaminados. Cortez subiu para a escada que dava acesso ao primeiro andar, e afunilou os infectados tornando a luta justa. Cabiam apenas dois por vez e Cortez os matava com facilidade, mas, logo os montes foram se formando e ele precisou afastar-se mais para conseguir espaço para a batalha. Os zumbis passavam pela barricada de companheiros de caça aos poucos e levantavam-se como loucos em saltos que os faziam chegar frente a frente com o facão do resistente.
A cena de ação durou cerca de uma hora, mas, passou como se fosse metade disto. Cortez estava a ponto de matar o último infectado, quando sua visão começou a falhar. Ele alcançara a exaustão final de seu corpo. A tontura chegou depressa enquanto o zumbi caminhava em sua direção, mas, negando os pedidos de descanso de seu corpo, Cortez chacoalhou sua cabeça tentando manter-se ativo e ergueu seu facão, seu fiel amigo, naquele que seria seu último ataque antes de cair no chão. Ele desferiu um golpe um pouco abaixo do olho esquerdo do infectado e retirou o facão deixando-o cair de joelhos no chão e despencar para o lado.
Suas forças haviam acabado, ele relaxou os braços e todos os músculos em exceção de suas pernas, soltou seu facão no chão e sorriu como alguém que tem um prazer infindável e cumpre uma missão. Ele olhou para seu lado direito e viu o sol iluminando a casa, olhou para os corpos imóveis e mortos no chão e pensou no por quê de tudo aqui, mas, sua mente estava embaçada de mais para realizar aquela simples ação. Ele pendeu para os dois lados, respirou profundamente com um alívio exagerado e caiu no chão com os olhos fechados e um belo sorriso estampado no rosto. Ao seu redor uma horda de zumbis o cercava, totalmente morta. Cortez se tornara uma lenda para Daniele e Túlio que presenciaram de camarote o desfecho daquela cena incrível.
Capítulo 4
Spoiler :
A noite foi longa para Túlio e Daniele passaram as últimas horas em agonia, ansiedade, desconforto e medo. Túlio fora atormentado com imagens de seu passado e de um futuro incerto, ele demorou a dormir, mas, quando conseguiu teve bons sonhos que o fizeram sorrir involuntariamente, os sonhos diminuíram a relevância do desconforto que ele sentia e principalmente do medo. Apesar de tudo ele estava tendo uma boa noite de sono, até que as imagens boas foram dissolvendo-se em um ácido corrosivo que foi dando espaço a pesadelos e visões cruéis que sua própria mente produzia para atormentar-lhe. Ele viu seu amigo ser dilacerado pelos contaminados após a batalha que ocorrera a poucas horas, imaginou-os saindo debaixo do assoalho e vendo o corpo de Cortez de pé, estático e semi-vivo, ele era um zumbi. Depois que estas visões começaram ele entrou em um estado de semi dormência, conseguia sentir tudo que estava ocorrendo ao seu redor no mundo real, mas, ao mesmo tempo conseguia ver as imagens maldosas dos seus sonhos.
Para Daniele a noite foi mais confortável, ela era uma mulher magoada por quem tanto amava e isso corrompeu seu coração fazendo-lhe chorar silenciosamente a noite inteira até que suas lágrimas cessaram e ela adormeceu. Seus sonhos eram belos, ela sonhava com o dia em que Cortez declarou-se para ela, lembrou do doce sabor de seu beijo, mas, ela sentiu uma pontada furando a membrana que protegia seus sonhos, fazendo-a acordar no meio da noite. Estava alerta e buscou encontrar a fonte do que fizera-a acordar, mas, tudo que encontrou foi Túlio debatendo-se. Não havia muito a ser feito por ele a não ser deixá-lo quieto e esperar que ele mesmo se recompor-se. Ela voltou a dormir e esperou que a noite fosse mais calma do que estava sendo.
O sol surgira atrás do horizonte como uma tartaruga, Cortez não estava mais sorridente, ele estava com o rosto sério, porém, relaxado. Seu modo de dormir era aquele. No fundo de seu ser ele sabia que iria acordar daqui alguns minutos ou horas e iria ver seus dois amigos vivos e completamente saudáveis, correndo para abraçá-lo e ele faria o mesmo.
Seus sonhos não superavam em normalidade os de Túlio e Daniele, Cortez estava sonhando e imaginando o que as pessoas que ele matou faziam antes do apocalipse e como elas haviam perdido a vida estupidamente para um vírus que nem sabiam da existência e agora estavam definitivamente mortos. Como as famílias deles reagiriam se soubessem que seus entes queridos foram mortos por um sobrevivente do apocalipse e ainda serem acometidos pela informação de que este ente querido era um dos infectados, que ele jamais havia sobrevivido e que eles nunca se re-encontrariam novamente. Aquilo perturbava a mente de Cortez como uma cobra perturba um ninho de ovos alheio. Será que um dia a epidemia iria acabar? Se acabasse, como voltariam a viver normalmente como antes? E as pessoas que morreram infectadas, como as pessoas conviveriam consigo mesmas sabendo que as suas próprias mãos estavam manchadas com o vermelho escarlate da morte? Questões sem resposta.
Cortez sentiu a luz do sol bater em seus olhos e começou a despertar, sua face e todo seu corpo estavam manchados de sangue e quando a luz batia em seu rosto fazia o sangue virar uma casca dura e seca que pendia em sair do rosto. Ele passou as mãos no rosto, sentando-se no chão e sentiu as cascas de sangue em seu rosto, com as unhas ele começou a arranhar seu rosto na tentativa de tirar as manchas e ficar o mais limpo possível para seu reencontro com Daniele e Túlio. Passou minutos de puro ódio e terror retirando o sangue de seu corpo, mas, após tanta luta ele conseguiu tirar todas as manchas visíveis para ele, mas, o odor fétido e pútrido dos zumbis não deixaria seu corpo tão facilmente, ele precisaria de um banho. Levantou-se dolorido, quase caindo no chão resvalando em sua perna esquerda, viu o monte de corpos despedaçados inértes no chão e olhou para as árvores ao redor da casa. Mesmo depois de toda aquela carnificina a natureza continuava a mesma, não mudara.
Sua memória fez alertar-lhe de que seus amigos estavam ainda presos debaixo do assoalho da casa e ele precisava tirá-los de lá. Pegou uma das pás e correu para o térreo quase pulando toda a escada. O barulho dos passos acordou Túlio e Daniele que no benefício da dúvida procuraram algo ou alguém caminhando dentro da casa.
- Tem alguém aí!? - gritaram - Cortez?
Ele não teve tempo de responder, seus braços ignoravam a dor que sentiam trazidas da luta passada, suas pernas ameaçavam fraquejar, mas, a todo instante ele repetia para si mesmo "Só mais um pouco, só mais um pouco!". Em pouco tempo ele havia retirado metade das tábuas, jogando-as sempre para o lado formando um pequeno monte, restava a penúltima tábua, retirou dois dos pregos e indo em direção ao outro par ele caiu no chão, sua perna esquerda continuava dando-lhe dificuldades, mas, sem pressa ele levantou-se e terminou o serviço.
- Cortez... - disse Daniele serenamente, deixando percorrer uma lágrima em seu rosto.
Cortez puxou-a para cima e fez o mesmo com Túlio. Cortez não podia mais negar sua vontade insaciável de amor, ele precisava liberar tudo que estava sentindo. Cortez puxou Daniele com a delicadeza de um mamute e observou-a por poucos instantes, viu os olhos castanhos Daniele e viu que aquele era o momento perfeito. Daniele estava confusa e surpresa ao mesmo tempo, será que ele faria o que ela estava imaginando? Cortez colou seu corpo com o dela e aproximando-se lentamente de seu rosto ele a beijou. Beijou como num filme romântico digno de um Oscar, a paixão dos dois era visível e contagiante. Os dois trocaram intensos abraços e beijos como dois apaixonados que se reencontram depois de anos de separação.
- Parabéns aí, hein!? - aplaudiu, Túlio. - Finalmente os dois pombinhos se declararam.
Os dois, abraçados olharam para Túlio sorrindo e trocaram mais um beijo antes de separarem-se.
- Muito bem, não temos tempo de ficar parados. O sol já raiou, por tanto é hora de trabalhar. Não podemos mais ficar aqui, temos que encontrar um abrigo melhor e precisamos de mantimentos, armas melhores, enfim... Precisamos fazer melhorias em tudo que temos. - disse, Cortez.
- É verdade. Não vamos conseguir ficar aqui, nem que limpássemos e fortificássemos o lugar ainda teríamos problemas com as hordas de zumbis que ficariam surgindo todas as noites.
- Então para onde vamos? Não temos nenhum veículo. Estão pensando em andarmos por aí feito zumbis em busca de um abrigo que podemos ou não encontrar!? - perguntou, Daniele. Ela olhou para os dois e percebeu que eles realmente pensavam em fazer isso. - Vocês estão ficando doidos!? Querem nos matar!? Eu não vou fazer isso, prefiro arriscar a ficar aqui mais uma noite do quê ficar no meio de uma estrada sem abrigo, no perigo de ser comida viva por zumbis.
- Entendo sua preocupação, mas, se ficarmos aqui iremos sofrer a mesma coisa que acabamos de passar. Temos que arriscar.
Daniele revirou os olhos e viu que não teria jeito de convencê-los, eles estavam certos de suas ideias e planos e isso não ia mudar. Ela apenas concordou com a cabeça.
Eram 07h30min quando eles saíram daquela pequena casa que um dia eles chamaram de lar, uma casa temporária que agora estava em pedaços.
- Nós não podemos deixar essa casa aí, se algum sobrevivente entrar nela e for contaminado pela podridão do local? - perguntou Túlio.
- Certo, queimemos a casa. - afirmou, Cortez.
Cortez pegou um punhado de folhas de papel de seu caderno, galhos secos e fez uma fogueira dentro da casa, debaixo do assoalho. Rapidamente Cortez se retirou da casa, fechando a porta uma última vez e juntando-se a seus colegas. O fogo começara a espalhar-se pelo assoalho até chegar nas paredes que incendiaram-se tornando aquela cena uma cena de filme de ação.
Os três caminharam por horas, Cortez era o que estava sofrendo mais, seu esforço de guerra o levou a dores musculares potentes que não o deixaram até aquele ponto, pelas mesmas dores ele ficava cinco ou dez passos atrás de Túlio e Daniele. Sua caminhada foi longa e tediosa, chegando a serem forçados a fazerem brincadeiras bestas que só crianças faziam, como cantar músicas infantis da época da Xuxa.
Ao longo de quatro horas de caminhada eles chegaram a uma cidade do interior que deveria estar na metade do caminho da evolução tecnológica, possuindo apenas um shopping center e poucas redes de mercado famosas. A procura não foi muito grande até que eles encontraram o local perfeito para se instalarem provisoriamente, uma casa de primeiro andar. A pintura da casa estava nova, branco e marrom tabaco, a casa tinha um design inovador para aquela cidade. A fachada era em vidro temperado com películas leves, o portão era de aço; havia um jardim e um pequeno caminho de pedras que levava até a porta da casa e se dividia em outro caminho levando até a piscina da casa que ficava elevada no primeiro andar. O interior da casa era luxuoso, as paredes eram totalmente brancas e os azulejos também, mas, a mobília era de bom gosto. A TV de 50 polegadas presa a parede dava espaço para um móvel abaixo dela que continha um DVD, um Xbox 360 e um PS3. O sofá era preto e imitava uma textura de couro que suportava algumas revistas diversificadas, a sua frente um tapete felpudo bege e uma mesa oval . Acima da escada, no primeiro andar o piso se tornava um assoalho de madeira diagonal com uma pintura branca na parede, existia um corredor que dava em três quartos, uma suíte e dois normais.
O corredor era largo, cabendo duas pessoas lado a lado. Os três quartos estavam mobiliados de forma parecida, a suíte possuía uma cama de casal, uma TV de 40 polegadas e uma escrivaninha que servia de móvel para um computador de última geração, o segundo quarto a esquerda possuía a mesma mobília, apenas tendo um diferencial de cores brancas para azuis e uma cama de solteiro. O terceiro quarto ficava a direita e tinha toques femininos. Um grande floral japonês estendia-se pela parede pintada de branco, abaixo a cama e na frente a TV e a escrivaninha, uma cabeceira ao lado da cama e uma varanda que dava visão a piscina.
A piscina era grande, possuía um trampolim e um escorregador, azulejos de pedra formavam a decoração do piso da área da piscina e cadeiras de praia davam um toque mais chique, uma cerca de vidro azul marinho rodeava todo o espaço da piscina e abaixo desta, num cômodo fechado havia um pequeno salão de jogos que abrigava uma mesa de sinuca, um pebolim e uma mesa de pingue-pongue.
Cortez pegou seu facão e começou a checar todas as áreas da casa, certificando-se de que zumbis não haviam invadido e se apossado do local, Túlio checou a proteção da casa e verificou se ainda existia energia na casa, para a sorte deles a casa possuía um gerador autônomo que funcionara todo este tempo. Daniele apenas guardou os mantimentos que lhes restavam na despensa da casa e verificou se a casa possuía mantimentos.
Enfim eles estavam num lugar protegido e em boa localização, ao redor da casa existia um pequeno mercado e a sua frente uma farmácia. Aquela casa era um achado incrível, um lugar para eles chamarem enfim de lar, uma nova esperança para recomeçar.
Para Daniele a noite foi mais confortável, ela era uma mulher magoada por quem tanto amava e isso corrompeu seu coração fazendo-lhe chorar silenciosamente a noite inteira até que suas lágrimas cessaram e ela adormeceu. Seus sonhos eram belos, ela sonhava com o dia em que Cortez declarou-se para ela, lembrou do doce sabor de seu beijo, mas, ela sentiu uma pontada furando a membrana que protegia seus sonhos, fazendo-a acordar no meio da noite. Estava alerta e buscou encontrar a fonte do que fizera-a acordar, mas, tudo que encontrou foi Túlio debatendo-se. Não havia muito a ser feito por ele a não ser deixá-lo quieto e esperar que ele mesmo se recompor-se. Ela voltou a dormir e esperou que a noite fosse mais calma do que estava sendo.
O sol surgira atrás do horizonte como uma tartaruga, Cortez não estava mais sorridente, ele estava com o rosto sério, porém, relaxado. Seu modo de dormir era aquele. No fundo de seu ser ele sabia que iria acordar daqui alguns minutos ou horas e iria ver seus dois amigos vivos e completamente saudáveis, correndo para abraçá-lo e ele faria o mesmo.
Seus sonhos não superavam em normalidade os de Túlio e Daniele, Cortez estava sonhando e imaginando o que as pessoas que ele matou faziam antes do apocalipse e como elas haviam perdido a vida estupidamente para um vírus que nem sabiam da existência e agora estavam definitivamente mortos. Como as famílias deles reagiriam se soubessem que seus entes queridos foram mortos por um sobrevivente do apocalipse e ainda serem acometidos pela informação de que este ente querido era um dos infectados, que ele jamais havia sobrevivido e que eles nunca se re-encontrariam novamente. Aquilo perturbava a mente de Cortez como uma cobra perturba um ninho de ovos alheio. Será que um dia a epidemia iria acabar? Se acabasse, como voltariam a viver normalmente como antes? E as pessoas que morreram infectadas, como as pessoas conviveriam consigo mesmas sabendo que as suas próprias mãos estavam manchadas com o vermelho escarlate da morte? Questões sem resposta.
Cortez sentiu a luz do sol bater em seus olhos e começou a despertar, sua face e todo seu corpo estavam manchados de sangue e quando a luz batia em seu rosto fazia o sangue virar uma casca dura e seca que pendia em sair do rosto. Ele passou as mãos no rosto, sentando-se no chão e sentiu as cascas de sangue em seu rosto, com as unhas ele começou a arranhar seu rosto na tentativa de tirar as manchas e ficar o mais limpo possível para seu reencontro com Daniele e Túlio. Passou minutos de puro ódio e terror retirando o sangue de seu corpo, mas, após tanta luta ele conseguiu tirar todas as manchas visíveis para ele, mas, o odor fétido e pútrido dos zumbis não deixaria seu corpo tão facilmente, ele precisaria de um banho. Levantou-se dolorido, quase caindo no chão resvalando em sua perna esquerda, viu o monte de corpos despedaçados inértes no chão e olhou para as árvores ao redor da casa. Mesmo depois de toda aquela carnificina a natureza continuava a mesma, não mudara.
Sua memória fez alertar-lhe de que seus amigos estavam ainda presos debaixo do assoalho da casa e ele precisava tirá-los de lá. Pegou uma das pás e correu para o térreo quase pulando toda a escada. O barulho dos passos acordou Túlio e Daniele que no benefício da dúvida procuraram algo ou alguém caminhando dentro da casa.
- Tem alguém aí!? - gritaram - Cortez?
Ele não teve tempo de responder, seus braços ignoravam a dor que sentiam trazidas da luta passada, suas pernas ameaçavam fraquejar, mas, a todo instante ele repetia para si mesmo "Só mais um pouco, só mais um pouco!". Em pouco tempo ele havia retirado metade das tábuas, jogando-as sempre para o lado formando um pequeno monte, restava a penúltima tábua, retirou dois dos pregos e indo em direção ao outro par ele caiu no chão, sua perna esquerda continuava dando-lhe dificuldades, mas, sem pressa ele levantou-se e terminou o serviço.
- Cortez... - disse Daniele serenamente, deixando percorrer uma lágrima em seu rosto.
Cortez puxou-a para cima e fez o mesmo com Túlio. Cortez não podia mais negar sua vontade insaciável de amor, ele precisava liberar tudo que estava sentindo. Cortez puxou Daniele com a delicadeza de um mamute e observou-a por poucos instantes, viu os olhos castanhos Daniele e viu que aquele era o momento perfeito. Daniele estava confusa e surpresa ao mesmo tempo, será que ele faria o que ela estava imaginando? Cortez colou seu corpo com o dela e aproximando-se lentamente de seu rosto ele a beijou. Beijou como num filme romântico digno de um Oscar, a paixão dos dois era visível e contagiante. Os dois trocaram intensos abraços e beijos como dois apaixonados que se reencontram depois de anos de separação.
- Parabéns aí, hein!? - aplaudiu, Túlio. - Finalmente os dois pombinhos se declararam.
Os dois, abraçados olharam para Túlio sorrindo e trocaram mais um beijo antes de separarem-se.
- Muito bem, não temos tempo de ficar parados. O sol já raiou, por tanto é hora de trabalhar. Não podemos mais ficar aqui, temos que encontrar um abrigo melhor e precisamos de mantimentos, armas melhores, enfim... Precisamos fazer melhorias em tudo que temos. - disse, Cortez.
- É verdade. Não vamos conseguir ficar aqui, nem que limpássemos e fortificássemos o lugar ainda teríamos problemas com as hordas de zumbis que ficariam surgindo todas as noites.
- Então para onde vamos? Não temos nenhum veículo. Estão pensando em andarmos por aí feito zumbis em busca de um abrigo que podemos ou não encontrar!? - perguntou, Daniele. Ela olhou para os dois e percebeu que eles realmente pensavam em fazer isso. - Vocês estão ficando doidos!? Querem nos matar!? Eu não vou fazer isso, prefiro arriscar a ficar aqui mais uma noite do quê ficar no meio de uma estrada sem abrigo, no perigo de ser comida viva por zumbis.
- Entendo sua preocupação, mas, se ficarmos aqui iremos sofrer a mesma coisa que acabamos de passar. Temos que arriscar.
Daniele revirou os olhos e viu que não teria jeito de convencê-los, eles estavam certos de suas ideias e planos e isso não ia mudar. Ela apenas concordou com a cabeça.
Eram 07h30min quando eles saíram daquela pequena casa que um dia eles chamaram de lar, uma casa temporária que agora estava em pedaços.
- Nós não podemos deixar essa casa aí, se algum sobrevivente entrar nela e for contaminado pela podridão do local? - perguntou Túlio.
- Certo, queimemos a casa. - afirmou, Cortez.
Cortez pegou um punhado de folhas de papel de seu caderno, galhos secos e fez uma fogueira dentro da casa, debaixo do assoalho. Rapidamente Cortez se retirou da casa, fechando a porta uma última vez e juntando-se a seus colegas. O fogo começara a espalhar-se pelo assoalho até chegar nas paredes que incendiaram-se tornando aquela cena uma cena de filme de ação.
Os três caminharam por horas, Cortez era o que estava sofrendo mais, seu esforço de guerra o levou a dores musculares potentes que não o deixaram até aquele ponto, pelas mesmas dores ele ficava cinco ou dez passos atrás de Túlio e Daniele. Sua caminhada foi longa e tediosa, chegando a serem forçados a fazerem brincadeiras bestas que só crianças faziam, como cantar músicas infantis da época da Xuxa.
Ao longo de quatro horas de caminhada eles chegaram a uma cidade do interior que deveria estar na metade do caminho da evolução tecnológica, possuindo apenas um shopping center e poucas redes de mercado famosas. A procura não foi muito grande até que eles encontraram o local perfeito para se instalarem provisoriamente, uma casa de primeiro andar. A pintura da casa estava nova, branco e marrom tabaco, a casa tinha um design inovador para aquela cidade. A fachada era em vidro temperado com películas leves, o portão era de aço; havia um jardim e um pequeno caminho de pedras que levava até a porta da casa e se dividia em outro caminho levando até a piscina da casa que ficava elevada no primeiro andar. O interior da casa era luxuoso, as paredes eram totalmente brancas e os azulejos também, mas, a mobília era de bom gosto. A TV de 50 polegadas presa a parede dava espaço para um móvel abaixo dela que continha um DVD, um Xbox 360 e um PS3. O sofá era preto e imitava uma textura de couro que suportava algumas revistas diversificadas, a sua frente um tapete felpudo bege e uma mesa oval . Acima da escada, no primeiro andar o piso se tornava um assoalho de madeira diagonal com uma pintura branca na parede, existia um corredor que dava em três quartos, uma suíte e dois normais.
O corredor era largo, cabendo duas pessoas lado a lado. Os três quartos estavam mobiliados de forma parecida, a suíte possuía uma cama de casal, uma TV de 40 polegadas e uma escrivaninha que servia de móvel para um computador de última geração, o segundo quarto a esquerda possuía a mesma mobília, apenas tendo um diferencial de cores brancas para azuis e uma cama de solteiro. O terceiro quarto ficava a direita e tinha toques femininos. Um grande floral japonês estendia-se pela parede pintada de branco, abaixo a cama e na frente a TV e a escrivaninha, uma cabeceira ao lado da cama e uma varanda que dava visão a piscina.
A piscina era grande, possuía um trampolim e um escorregador, azulejos de pedra formavam a decoração do piso da área da piscina e cadeiras de praia davam um toque mais chique, uma cerca de vidro azul marinho rodeava todo o espaço da piscina e abaixo desta, num cômodo fechado havia um pequeno salão de jogos que abrigava uma mesa de sinuca, um pebolim e uma mesa de pingue-pongue.
Cortez pegou seu facão e começou a checar todas as áreas da casa, certificando-se de que zumbis não haviam invadido e se apossado do local, Túlio checou a proteção da casa e verificou se ainda existia energia na casa, para a sorte deles a casa possuía um gerador autônomo que funcionara todo este tempo. Daniele apenas guardou os mantimentos que lhes restavam na despensa da casa e verificou se a casa possuía mantimentos.
Enfim eles estavam num lugar protegido e em boa localização, ao redor da casa existia um pequeno mercado e a sua frente uma farmácia. Aquela casa era um achado incrível, um lugar para eles chamarem enfim de lar, uma nova esperança para recomeçar.
Última edição por Galileu em 3/8/2013, 18:02, editado 5 vez(es)