O gênero de terror que acompanha a figura do Zumbi é sempre associado a “situações de sobrevivência”, um grupo de pessoas que se une para superar um mal em comum, geralmente existe o ás na manga, um fuzileiro naval, um cientista, um especialista, alguém que conseguira prestar, de forma heroica, mais chances de sobrevivência.
Tendo ciência disto, Garth Ennis quebra esta constante ao trazer a tona personagens mais próximos do comum, homens de família, mães solteiras, deficientes físicos, gente sem grandes proficiências e mediana.
Ao longo da história fica claro que não existirá uma grande descoberta, que ninguém vai dizer o que se passa, ou se possível, apresentar uma solução permanente quanto aos Crosseds.
Sim, os Crossed.
O nome vem da principal característica dos infectos, uma peculiar ferida que se alastra pelo rosto, formando uma cruz.
Esqueça os mortos-vivos de Romero ou os humanos raivosos de Boyle, os Crossed são inteligentes, sádicos e mesquinhos, representam o mal latente na humanidade: ao contrário das massas desorganizadas, os Crossed retém o intelecto humano, se organizam em bandos, torturam psicologicamente suas vítimas e presas, basta um mero contato com um fluído corporal do infectado para que a pessoa se transforme em um assassino em série.
Em um momento apoteótico, os sobreviventes descobrem que os Infectados ejaculam na munição para poder contaminar a longa distancia; em outro, os Infectados reúnem uma série de pessoas dentro de um container e jogam armas sujas de sangue e outros fluídos, ou – a que foi mais comentada pela crítica estrangeira, diga-se de passagem – quando um bando chacina um casal, que em meio a troca de ofensas, são sodomizados e estripados enquanto vêm sua filha ser esquartejada.
A violência metódica dos Crosseds faz com que os protagonistas evitem atitudes impetuosas, no ambiente de sobrevivência não há espaço para heroísmo e isso é seguido à risca.
A líder dos sobreviventes é a garçonete Cindy, determinada em superar e seguir adiante, ela precisa proteger seu filho da loucura que se instalou pelo mundo.
Se por um momento, muito se especula em relação a origem dos Infectados, Garth Ennis se supera ao desenvolver os personagens, questionando morais, argumentando que para sobreviver em um mundo repleto de sádicos e estupradores, é necessário abandonam a humanidade dentro de si, os protagonistas acabam se deprimindo ou perdendo remorso por seus atos. Buscam o suicídio, matam retardatários e doentes, adquirem feições repletas de sisudez.